domingo, 29 de maio de 2011

Qual religião? Qual Cinema?

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Em nome do Pai, do Filho e do Cinema


João Victor Guedes*

                Os católicos mais radicais devem estar com os nervos a flor da pele no que tange a representação cinematográfica com umas das religiões mais antigas e influentes do mundo. Desde que a sétima arte passou a encantar, criar e influenciar a sociedade, as diversas histórias que circundam a igreja Católica Apostólica Romana tomou rumos que expõe mais os erros do que as glórias e louvores do cristianismo.

                               A salvação para os pecados, segundo a tradição católica, está primeiramente no reconhecimento do erro. Talvez aí esteja o ponto em que o cinema acha fendas para invadir o mundo místico das religiões. Os filmes giram em torno de erros que a própria igreja condena, mas que comete e não confessa a ninguém.

                A começar pelo Profeta. Jesus Cristo tem sido personagem principal em filmes que narram sua história. De filmes brasileiros à hollywoodianos, Ele é figura certa nas telonas em épocas de Natal  ou Páscoa. São produções que narram suas peregrinações,  conquistas e milagres. Até que o “excomungado” Dan Brown, com  44 milhões de exemplares vendidos,  nos decifrou “O Código da Vinci” e colocou em questão a polêmica da suposta vida pessoal de Jesus.

                Fé e ciência, sagrado e profano, luz e escuridão.  As antíteses ligadas à religião, no cinema, se transformam em muitos paradoxos  com o intuito de estimular e colocar em xeque quem é a Igreja Católica. Em “Anjos e Demônios” mais uma vez Dan Brown quer cutucar a igreja com insinuações de que ela é assassina, corrupta e egoísta. Nesses mistérios diversos estão envolvidos quase toda a história da civilização ocidental que, em muitos casos, são contadas com ilustrações e artes baseadas no próprio cristianismo e temperadas com aspectos óbvios do Renascimento por meio de artistas como Leonardo da Vinci e Michelangelo.

                Assuntos que o Vaticano procura estabelecer dentro de suas grandes muralhas, o cinema insiste em veicular e arrecadar milhões em bilheterias mundo afora. A Idade Média, período marcado pela brutalidade da Igreja, é tema freqüente em grandes produções. O lado de salvação é posto de lado, colocando em ascensão os pecados feitos e combatidos pela entidade.

                Na edição 2011 do  Festival de Cannes, Habemus Papam,  o diretor Nanni Moretti faz do recém eleito Papa um homem cheio de dúvidas com atitudes impensadas. Nesta história, o conclave se reúne para eleger o novo pontífice. Aos poucos, os cardeais vão sendo eliminados até que se escolhe um favorito. O clérigo interpretado por  Michel Piccoli é eleito, mas na hora de aparecer para a multidão na Praça de São Pedro tem uma crise. O para não que assumir seu posto. A burocracia do Vaticano fica atordoada ao ponto de chamar um psicanalista para conduzir a situação.
               
                E as barreiras são tão fortes que os próprios membros do clero arrancam as batinas e vão lutar no lado antropocêntrico. No recente “Padre”, o sacerdote decide atravessar o cerco e quebrar seus votos sagrados  indo para o lado dos vampiros para tentar salvar a sobrinha, depois que o mundo foi tomado por esses seres. Não agüentando viver em uma cidade governada pela igreja, o católico herói é capaz de vender a própria alma para salvar a garota.

                E a mistura entre o bem e o mal tem sido prato cheio para diretores que querem abordar a relação homem e religião. Filmes ligados a exorcismos, bruxarias e misticismos exploram as peripécias e táticas do mal, que nesses casos, não têm forças para vencer a cruz.

                Através dos dogmas e de passagens do livro sagrado cristão, o cinema aparece como o mediador entre a certeza e a incerteza, o certo e o errado, o profano e o sagrado, mas, principalmente, entre o verdadeiro e o falso. Não cabe a nós, meros telespectadores, discutir se é  a fé ou a arte quem salvará. Mas sim interpretar o poder e o que levou a uma determinada representação. Que Deus salve o cinema e seus fiéis!

* João Gabriel Gomes é aluno do curso de História do Cinema-UFG 2011.

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Woody Allen lê Machado de Assis.

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Vincent Kessler/Reuters
Vincent Kessler/Reuters

'Memórias Póstumas de Brás Cubas é completamente moderno

Luiz Carlos Merten

Sábado à tarde na Croisette, no Hotel Martinez. Woody Allen está terminando sua participação no 64.º Festival de Cannes. Ele concede ao Estado sua penúltima entrevista, uma individual programada para durar 20 minutos, mas que se estende por mais dez, para desespero da assessora que aponta a toda hora para o relógio. Mas Allen está feliz da vida. Midnight in Paris foi bem recebido pela crítica - e o filme estreia em 17 de junho no Brasil.

Conta a história de um roteirista de Hollywood que está cansado de vender seu talento para o cinemão. O cara acha que nada poderá superar a magia dos anos 1920, quando Paris era uma festa. E então, uma noite, depois de discutir com a namorada, ele vê chegar, ao som das batidas da meia-noite, a oportunidade de realizar uma viagem fantástica ao encontro dos seus ídolos - Scott (Fitzgerald), Ernest (Hemingway) e os outros. Woody Allen conta tudo. A origem do filme, do seu amor pela França, pela literatura. Com a palavra, o autor.

Antes de falar sobre Midnight in Paris, tenho duas questões que se referem especificamente ao Brasil. Uma delas diz respeito à sua descoberta de Machado de Assis. Como isso aconteceu?

Devo a uma fã brasileira que me mandou um e-mail falando de Machado, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ela me recomendava que lesse o livro. Tinha certeza de que não iria me decepcionar. E não me decepcionei! O livro é sutil, divertido, inteligente, mas acima de tudo o que me encantou foram a sua ironia e a sua modernidade. Machado refletia sobre o próprio trabalho de uma forma muito contemporânea. Nesse sentido, Brás Cubas é completamente moderno. Poderia ter sido publicado na semana passada.

Existem duas adaptações do livro pelo cinema brasileiro, feitas por diretores de perfis bem diferentes que você talvez não conheça, Julio Bressane e André Klotzel. Gostaria de assistir aos filmes? Em cópias com legendas? Claro. É muito interessante o que você diz. Dois diretores de perfis bem diferentes. É curioso como diferentes artistas podem se apropriar do mesmo material com objetivos próprios. Eu mesmo fiz o meu Guerra e Paz (de Tolstoi) com um recorte muito particular (A Última Noite de Boris Grushenko).
A outra questão é sobre seu filme brasileiro. Você vai mesmo filmar no Rio?

Tenho filmado em Londres, Barcelona, Paris. Agora vou a Roma. Minha irmã e produtora esteve no Brasil conversando com o pessoal de lá. Produtores, a film comission. Existe por enquanto um rumor. Não há nada acertado, mas um filme no Brasil poderia ser interessante, por que não?

Agora sim, Midnight in Paris. Você disse que o título lhe veio antes da história. Isso ocorre com frequência?
Nunca! Tinha esse contrato para fazer o filme na França e nenhuma história. A primeira vez que vim aqui foi em 1964. Foi amor à primeira vista. Mas não pensava num filme. Me veio o título, Meia-Noite em Paris. O que poderia ocorrer nesse horário, numa cidade tão mágica? De repente tive o click e vi uma forma de resgatar a Paris mítica que está no imaginário dos norte-americanos.

Foi fácil chegar aos personagens que você queria reencontrar nessa Paris mítica?

Pergunte a qualquer norte-americano que tenha um lustro cultural e ele saberá de cor os personagens de Paris nos anos 1920, na belle époque. Se estou contando a história de um americano que viaja aos anos 1920, na França, ele tem de encontrar Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Luis Buñuel, Salvador Dalí. São todos os arautos de uma era de mudança, que me deu vontade de retratar.

Tenho a impressão que seu ‘Ernest’ (Hemingway) ganha um destaque especial. Ele diz as coisas mais profundas e, ao mesmo tempo, é aquela figura mítica - o homem viril, o aventureiro, o sedutor... Você precisou fazer muita pesquisa?

Nenhuma! Tudo o que coloquei na tela, e nos personagens, faz parte da minha cultura acumulada, da minha vivência. Tenho a impressão que Hemingway e William Faulkner são os gigantes da literatura norte-americana do século 20. Scott Fitzgerald também é muito bom, mas está um pouco abaixo. E poderia citar outros norte-americanos em Paris, John dos Passos. Hemingway virou uma referência especial justamente porque o homem se tornou tão importante quanto o escritor. Todo mundo acompanhava o Hemingway viril, aventureiro, sedutor, caçador, beberrão. Essa mistura de arte e vida atuou no imaginário de toda uma geração e influenciou outros que vieram depois... Norman Mailer, por exemplo. Sim, você tem razão. O filme transpira esse fascínio.

Uma das piadas mais deliciosas do filme é quando seu alter ego, o personagem interpretado por Owen Wilson, sugere a Luis Buñuel a ideia para O Anjo Exterminador. É um filme importante para você?

É um filme importante para a história do cinema. Mas essa é uma piada que as pessoas entendem aqui na França, em Cannes. Nos EUA, o público dificilmente vai captar a nuance. Eles conhecem Buñuel por lá, mas não possuem essa sofisticação. Amo O Anjo Exterminador. Acho genial a ideia daquelas pessoas presas num espaço. A propósito, o filme mostra o plano dos criados abandonando a casa e o repete, exatamente do mesmo ângulo. Perguntaram o porquê para Buñuel e ele disse que os produtores o haviam contratado para fazer um filme de, sei lá, 100 minutos. Ele tinha 95. Repetiu o plano só para atingir a duração.
Justamente a duração dos filmes. Os seus são muito curtos. Por quê?

Porque não preciso de mais tempo para dizer o que quero. Sempre tive a maior admiração pelos Irmãos Marx, por Preston Sturges. O humor deles é rápido, o diálogo, vivo. Morro de medo de entediar o espectador. E por isso corto, corto sem dó.

Isso é raro. A maioria dos autores se recusa a cortar o próprio trabalho, concorda?
Absolutamente, e é um erro. A montagem é uma arte que eu gosto de exercitar. Sou a favor dos filmes curtos.

Na maioria de seus filmes, senão em todos que você não representa, há sempre um personagem que é seu alter ego. Owen Wilson é o melhor de todos os Woody Allens da tela. Concorda?
Melhor que eu? Owen trouxe uma vida para o filme que superou toda a minha expectativa. Não lhe dei instruções precisas, não dizia como ele deveria ler as linhas. Ele chegou ao desenho do personagem por si só. Captou algo de mim e acrescentou o melhor dele.

Por falar em melhor, ninguém é melhor do que Marion Cotillard. A personagem dela, essa modelo de Picasso, é acurada?

Sublimei na personagem tudo o que sempre li sobre as musas inspiradoras de grandes pintores e escultores. E Marion é, sim, maravilhosa. No início, a personagem era uma norte-americana em Paris. Mudei só para poder tê-la no elenco. Ela chegou vacilante, estressada, sem saber se conseguiria fazer o papel. Eu tinha certeza. Marion representa a própria sedução da França na tela.

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Lady Gaga por Camille Paglia

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MANIPULADORA DESONESTA

"O que há de sexo em Lady Gaga? Ela é uma exibicionista compulsiva que expõe sua carne branca e pouco desejável em aeroportos e cuja alienação neurótica do corpo é expressa em mutilações repulsivas e no derramamento de sangue de suas apresentações sobre o palco.

Sua música dance é medíocre e derivativa. E ela é uma manipuladora desonesta que encoraja um cultismo parasítico entre seus fãs mais psicologicamente vulneráveis"

(Camille Paglia em artigo no Sunday Times. 2010)

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sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Lolita", de Stanley Kubrick (em cartaz)

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 LOLITA, DE KUBRICK E NABOKOV


Paulo Ricardo de Almeida*


Stanley Kubrick pretendia levar Napoleão Bonaparte às telas. Pesquisou em mais de cem livros, de biografias históricas a tratados sobre a geologia européia, a fim de transformar a vida do imperador francês no épico definitivo do cinema. Filmagens previstas para logo depois de 2001: Uma Odisséia no Espaço, o projeto, no entanto, naufragou, em parte pelos altíssimos custos de produção (que envolvia utilizar parte do exército romeno na figuração das seqüências de batalha), em parte pelo fracasso comercial de Waterloo, o qual fez com que os investidores retirassem o financiamento ao filme.

Embora tenha reaproveitado os estudos feitos para Napoleão na obra-prima Barry Lyndon – sobretudo quanto ao uso exclusivo de luz de velas e de luz natural, às experiências com o zoom in e o zoom out, aos enquadramentos e às composições retirados das pinturas do século XVIII e ao ritmo lento orquestrado com a música –, Kubrick não pôde responder à questão que o afligia: por que o maior estrategista militar e gênio político do Ocidente acabou derrotado de maneira tão humilhante, exilado na insignificante ilha de Santa Helena e, finalmente, morto ao ser envenenado com arsênico?

 É inútil conjecturar como seria a versão kubrickiana para a saga napoleônica, já que o diretor não se cansava de reescrever seus roteiros (e o tratamento “final” de Napoleão está disponível na Internet) durante as filmagens. Contudo, nos treze longas-metragens que realizou, verifica-se o fascínio de cineasta pelos tormentos da mente, que tanto engendram a (auto) destruição pessoal, quanto propiciam a desestruturação completa de todos os códigos, por essência racionais, que organizam a sociedade, ou seja, que balizam e permitem a convivência entre os homens.

Apesar de já presente, por exemplo, em O Grande Golpe – o hiper-planejado assalto ao jóquei que fracassa devido à não prevista submissão afetiva de um dos participantes à esposa infiel e gananciosa –, o cinema cerebral de Kubrick (não como sinônimo de frieza ou de falta de emoção, e sim enquanto obra preocupada em dissecar o impacto do controle e do ordenamento social a partir da Razão e da Lei, por suas fadadas à ruína pela incapacidade sistêmica de reprimir as manifestações imprevisíveis das pulsões animais que ocorrem nas infinitas reentrâncias do cérebro) apenas se consolida com Lolita, primeiro filme em que, trabalhando em grandes estúdios (MGM), o cineasta teve poder total sobre a produção, graças as sucesso de público e de crítica de Spartacus e à mudança para a Inglaterra.

 Eyes Wide Shut, de olhos arregaladamente fechados: já no título do derradeiro filme de Kubrick, a noção de que modelos e instituições aceitos e estabelecidos cultural e socialmente – o casamento, a fidelidade conjugal, o conceito de amor edificado pelas revoluções burguesas do século XIX, o binômio exterioridade / intimidade (o trabalho e a casa) – não somente mediam a relação dos homens entre si e deles com o real, como também criam os relacionamentos que a princípio regulariam e substituem a realidade que, de fato, não existe. 

Não seria a Nova York onírica, onde Bill Hartford vaga pela noite, o deserto do real kubrickiano, e De Olhos Bem Fechados a versão do cineasta para Matrix, lançado no mesmo ano? (voltando a 1964, a descrição que o ensandecido Dr. Strangelove, em Doutor Fantástico, dá sobre a “máquina do juízo final”, é quase idêntica à que Morpheus oferece a Neo acerca do programa de computador que os domina, na trilogia dos irmão Wachowski).

Assim, o espaço é preponderante para Kubrick, uma vez que lá acontece a quebra do código de constituição / falsificação do real, que deságua no caos, na loucura e na destruição: a sala de guerra, a base aérea e o B-52 em Doutor Fantástico; as naves espaciais rodopiantes (heranças do carrossel de La Ronde e do picadeiro de Lola Montès, ambos de Max Ophüls, ídolo de Kubrick) controladas por onipresentes computadores em 2001: Uma Odisséia no Espaço; a cidade kitsch, pós-apocalíptica e ultra-violenta em Laranja Mecânica; os castelos nos quais os personagens, na composição mesma dos quadros, encontram-se presos ao equilíbrio buscado pela pintura setescentista em Barry Lyndon; os corredores e jardins labirínticos do hotel Overlook, perfeitas encarnações do cérebro de Jack Torrance em O Iluminado; a ilha de treinamento militar em que o sargento Hartman insulta e humilha os recrutas em Nascido para Matar.

 Em Lolita, Kubrick retrata o dia-a-dia dos subúrbios norte-americanos, através das cidadezinhas de Ramsdale e de Beardsley (de certa forma, retomando o Hitchcock de A Sombra de Uma Dúvida). Posto que o diretor sempre lidou com os gêneros consagrados e codificados pelo cinema clássico-narrativo hollywoodiano – a ficção científica (2001: Uma Odisséia no Espaço), o filme noir (O Grande Golpe), o filme de guerra (Glória Feita de Sangue e Nascido para Matar), o terror (O Iluminado), o épico (Spartacus), o filme histórico (Barry Lyndon) –, é próprio dizer que ele transforma a adaptação do romance de Nabokov (roteirizado pelo autor, mas reescrito pelo cineasta) em uma comédia de costumes, na qual está em jogo a ironia à pseudo-cultura do americano médio, encarnado por Charlotte, com seu gosto duvidoso em consumir tudo o que vem da Europa (a paixão por Humbert, as reproduções de pintores famosos nas paredes do quarto, as frases entremeadas com francês) ou de se manter ocupada com a “arte” (a presidência no clube de literatura, o envolvimento sexual com Clare Quilty, medíocre escritor para televisão), além de farpas contra a aparente normalidade daquele meio urbano – os empregados, todos negros; a religiosidade doentia de Charlotte e o moralismo hipócrita da vizinha que, recepcionando um padre, questiona Humbert sobre seu relacionamento com a enteada; o desdém de Lolita pelos “filmes estrangeiros” e por Edgar Allan Poe e, em contrapartida, sua paixão pelas histórias em quadrinhos.

 Através de longos planos-seqüências e de travellings invasivos, Kubrick expõe, com o humor impiedoso que o caracteriza, o ridículo das casas, dos cômodos e dos objetos, das roupas e dos penteados, das festas, dos movimentos e dos comportamentos dos personagens. Como não desmentes as cenas em que Humbert arma o catre no quarto de hotel, ou em que Quilty fala incessantemente com prosódia muito particular, Lolita deve tributo às comédias alucinadas (de Mack Sennet a desenhos do Pica-Pau), ao estúdio Ealing e ao absurdo do normal alcançado por Jacques Tati em Meu Tio. Porém, o apelo cômico principal do filme reside nas piadas eróticas de duplo sentido, nas insinuações maldosas – por exemplo, a impotência metaforizada por intermédio do macarrão mole, a foto de Lolita que serve de estimulante sexual ao professor, as brincadeiras nada inocentes da ninfeta no acampamento de férias, fazer a barba como sentido figurativo para ejaculação, o casamento aberto dos Farlow, as tripudiadas em cima da psicanálise (Doutor Zempf, outra criação brilhante de Peter Sellers) –, uma vez que, no cinema kubrickiano, a sexualidade se revela a força desestruturante que convulsiona o espaço e o lança em meio ao caos, seja a traição imaginada de Alice com o marinheiro em De Olhos Bem Fechados, seja a obsessão do general Jack Rieper com o suposto complô soviético para contaminar os fluidos corporais norte-americanos em Doutor Fantástico. 

Trata-se, em Lolita, da paixão e do desespero pela ninfeta-título que desequilibram o pacato Humbert Humbert: da mesma forma que Jack Torrance em O Iluminado, Redmond Barry em Barry Lyndon, Gomer Pyle em Nascido para Matar, Bill Hartford em De Olhos Bem Fechados ou HAL 9000 em 2001: Uma Odisséia no Espaço, o personagem interpretado por James Mason (ator favorito de Kubrick, junto com Sellers e com Jack Nicholson) abdica progressivamente de qualquer traço de racionalidade para mergulhar na violência dos próprios processos cerebrais, incompreensíveis, tumultuados e descontrolados, que terminam por destruí-lo a todos que o cercam – tanto que Humbert e Quilty morrem, enquanto Lolita se muda para o Alasca, terra de ninguém, para recomeçar do zero.

James Mason, que havia interpretado personagens destrutivos antes (o ator alcoólatra em Nasce Uma Estrela, de George Cukor, e o pai de família viciado em cortisona em Delírio de Loucura, de Nicholas Ray), encaixou-se com perfeição ao papel de Humbert Humbert. . Poderia, quem sabe, ter feito Napoleão, que, apesar da genialidade, sucumbe diante das próprias fraquezas: o tão estimado projeto de Stanley Kubrick, enfim, já estava esboçado desde Lolita.

* Texto da revista eletrônica Contracampo

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Enterrem meu coração no mato da várzea

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Enterrem meu coração no mato da várzea

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

13. FICA - programação geral e de cinema.

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FICA

veja no site WWW.FICA.ART.BR a programação geral. abaixo programação de cinema


FÓRUM DE CINEMA
Dia 18/6/2011 – (Sábado)
   HORÁRIO
TEMA / PALESTRANTE
LOCAL
10h30
MESA 1:
  • Encontro com Arnaldo Jabor e Cacá Diegues – Cinema Brasileiro. – Arnaldo Jabor e Cacá Diegues.

Mediador: Gilvane Felipe
Cine Teatro São Joaquim
17h30
MESA 2:
  • O que é o ambiente humano? - Contardo Calligaris.

Mediador: Lisandro Nogueira
Cine Teatro São Joaquim

DEBATES COM REALIZADORES DO XIII FICA
Dias 16, 17 e 18 de 2011 – (quinta, sexta e sábado)
   HORÁRIO
       ATIVIDADE
LOCAL
10h00
  • Debates com Realizadores XIII FICA
Hotel Casa da Ponte


OFICINAS DE CINEMA
De 15 a 17/6/2011 – (de quarta à sexta-feira)
   HORÁRIO
TEMA / MINISTRANTE
                LOCAL
09h às 12h
  • Efeitos Especiais em Maquiagem - Rodrigo Aragão.
  • Brinquedos Ópticos - Maurício Squarisi.
  • Animação de Pixilation com Sucata –
Rodrigo John.
Lyceu de Goiás




CURSOS CINEMA
De 15 a 17/6/2011 – (de quarta à sexta-feira)
   HORÁRIO
TEMA / MINISTRANTE
                LOCAL
15h às 18h
  • Introdução ao Cinema Documentário:   Moderno e Contemporâneo - Henri Gervaseau.
  • Da Tela ao Texto: A crítica de cinema depois do fim da arte - Rodrigo Cassio.
  • Fotografia para adolescentes: "Baú de histórias e imagens". - Ana Rita Vidica.
  • Ficção e Documentário: O Cinema das Margens - Encontro com Andrea Tonacci. - Andrea Tonacci.
Lyceu de Goiás

MOSTRA PARALELA filmes de Arnaldo Jabor

Cine Teatro São Joaquim - Dia 15/6/2011 (Quarta-feira)
Filme/Vídeo
Diretor
Form./Gên.
Início
Mostra Cinema Brasileiro:
A SUPREMA FELICIDADE – 125’
Arnaldo Jabor
Filme/Ficção
21h15

Cine Teatro São Joaquim - Dia 16/6/2011 (Quinta-feira)
Filme/Vídeo
Diretor
Form./Gên.
Início
Mostra do Cinema Brasileiro:
OPINIÃO PÚBLICA – 72’
Arnaldo Jabor
Filme/Doc.
21h15

Cine Teatro São Joaquim - Dia 17/6/2011 (Sexta-feira)
Filme/Vídeo
Diretor
Form./Gên.
Início
Mostra do Cinema Brasileiro:
TUDO BEM – 110’
Arnaldo Jabor
Filme/Comédia
20h30

Cine Teatro São Joaquim - Dia 18/6/2010 (Sábado)
Filme/Vídeo
Diretor
Form./Gên.
Início
Mostra do Cinema Brasileiro:
EU SEI QUE VOU TE AMAR – 114’
Arnaldo Jabor
Filme/Drama
15h
Mostra do Cinema Brasileiro:
O CASAMENTO – 110’
Arnaldo Jabor
Filme/Drama.
20h00
Mostra do Cinema Brasileiro:
 TODA NUDEZ SERA CASTIGADA – 102
Arnaldo Jabor
Filme/Drama
22h00

Cine Teatro São Joaquim – Dia 19/6/2011 (Domingo)
Filme/Vídeo
Diretor
Form./Gên.
Início
Mostra do Cinema Brasileiro:
EU TE AMO – 110’
Arnaldo Jabor
Filme/Drama
17h
Mostra do Cinema Brasileiro:
A SUPREMA FELICIDADE – 125’
Arnaldo Jabor
Filme/Drama
19h

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