quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Lou Salomé,

Escrito de Lou Salomé

(foto: Lou, Niezsche e Rilke)

só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal.

Assim, nada há de mais inepto em amor do que se adaptar um ao outro, de se polir um contra o outro, e todo esse sistema interminável de concessões mútuas...

e, quanto mais os seres chegam ao extremo do refinamento, tanto mais é funesto de se enxertar um sobre o outro, em nome do amor, de se transformar um em parasita do outro, quando cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro. (Lou Salomé).
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14 Comentários

Anônimo disse...

Não é por acaso que Nietzsche se apaixonou por ela.

Caroline Pires disse...

Que em nome de nada e nem de ninguém nós nos tornemos parasitas... me fez pensar...
Muito bonito mesmo o texto...

Lisandro Nogueira disse...

Lou Salomé é fundamental. As dores de amor, os afetos escondidos, a ousadia sentimental...ela diz quase tudo. Isso em 1919...

Victor Hugo disse...

Belíssimo texto. Há algum tempo não via tanta riqueza resumida em tão poucas palavras.

Anônimo disse...

A mulher Lou Andreas Salomé é muito melhor que essas idéias, expostas no trecho acima referido. As fotos confirmam isso, e ela ficou melhor ainda no filme em que aparece representada por Dominique Sanda.
Esse puro romantismo, expresso no trecho, assim como o essencial do pensamento nietzschiano, faz parte da "shitstorm" (expressão de Norman Mailer em 1968) que assola nossa época.
Quem compreende o significado de tudo que foi introduzido na vida (verdadeiramente) humana pelo capitalismo seja na economia (possibilidade de "atender", graças à tecnologia e ao exponencial desenvolvimento das forças produtivas, a todas as necessidades humanas), seja na política (com a dissolução de "tudo que é sólido", por inúmeras transformações sociais e políticas sem qualquer vínculo com os valores humanos, desde a Revolução Francesa), não pode achar legal esse pseudonirvana individualista, que só pode desembocar no irracionalismo.

Lisandro Nogueira disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

Anônimo disse...

Caro Lisandro, sono qui a Torino, la città dell'amante di Lou Salomé, Nietzche e sto a pensare come lui risponderebbe questo pensiero facendo il viandante per la città e allora imparando con il tempo e lo spazio a essere più se stesso (anche se questo lungo paragrafo senza punteggiatura sta più per il proustiano)
Um abraço
Wiliam Farnesi

19/10/08 09:05

Unknown disse...

Caro Teixeira, non vedo il romanticesimo nel pensiero di Lou Salomè come dice tu. Al massimo un individualismo naif ancora imune alle complessitá.
Rimanere se stesso potrebbe anche essere un esercizio spirituale. Che in questo caso dipende dell'altro per sviluparsi prima come chiarezza e poi come azione che nel tempo finalmente puó essere sincera.

Unknown disse...

Caro Teixeira, non vedo il romanticesimo nel pensiero di Lou Salomè come dice tu. Al massimo un individualismo naif ancora imune alle complessitá.
Rimanere se stesso potrebbe anche essere un esercizio spirituale. Che in questo caso dipende dell'altro per sviluparsi prima come chiarezza e poi come azione che nel tempo finalmente puó essere sincera.

Anônimo disse...

Caro Farnesi,

é uma felicidade ter uma interlocução como a que você me oferece, e exalto o entendimento não tão difícil de seu italiano (oralmente, para um falante do português, a língua italiana é ainda mais fácil).
Tem mais valor sua fala por provir de “Torino, a cidade dos amantes de Lou Andreas-Salomé”. A propósito, você assistiu ao filme "Al di là del bene e del male" (1977), de Liliana Cavani?
Você diz “não ver o romantismo no pensamento de Lou Salomé”, e oferece alternativamente uma fórmula que também me parece mais precisa: “individualismo naïf”. Lembro apenas que vivemos uma era que se inaugurou com o romantismo, as decorrências das quais se fazem sentir até hoje.
Lou Andreas-Salomé afirma que “só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, manter-se como objeto do amor”. E completa: “cada um deles deve se enraizar robustamente em um solo particular, a fim de se tornar todo um mundo para o outro”. Essa concepção, segundo a qual o indivíduo deve desenvolver-se maximamente, como um mundo, resulta, em grande parte, da emergência na história da humanidade da perspectiva burguesa pós-Revolução Francesa.
Sendo citada pelo professor Lisandro, assume uma conotação levemente contracultural, o que, em minha opinião, merece uma crítica adicional…
Você enriquece a compreensão de toda essa questão ao acrescentar que a proposta de Lou Andreas-Salomé leva a um “exercício espiritual que, neste caso, depende do outro para desenvolver-se, primeiro como clareza e depois como ação”. Creio que a intersubjetividade desse modo incrementada é o que de melhor se pode atingir na época atual, mas não podemos perder de vista a necessidade de apontar os limites e distorções causadas pelo individualismo num horizonte pautado pela idéia de humanidade.
Um grande abraço

José Teixeira Neto (Zeca)

Unknown disse...

Caro Zeca, e um prazer discutir esta questao com voce. Acho que ser si mesmo nao comeca certamente com a maiuetica socratica. Mas muito antes. E a historia de ser si mesmo seja quase impossivel de ser descrita. Talvez so hipotesada por escritores-historiadores do tipo dos "annales". Escrevo sem acentos em um computador grego de uma amiga em uma breve passagem de trabalho em Atenas. Um grande abraco

Anônimo disse...

Caro Wiliam, é incrível que possamos chegar à maiêutica socrática discutindo num "blog" dedicado ao cinema... E, de fato, os escritores-historiadores ligados à Escola dos "Annales" disseram, e têm muito a dizer, sobre uma "história de ser si mesmo". Lembro-me, a propósito, de Paul Veyne. Também não se pode dizer que a contribuição filosófica de Sócrates (mais a de Platão e Aristóteles) represente uma reviravolta total na herança aristocrática (e, mais tarde, em certa medida, da democrática) grega. Como disse o historiador Werner Jaeger, em "Paidéia", "é difícil imaginar a absoluta exposição da consciência entre os gregos. Para eles não existe, efetivamente, nenhum conceito como a nossa consciência pessoal. No entanto, o conhecimento de tal fato é o pressuposto indispensável à difícil inteligência do conceito de honra e de seu significado na Antiguidade". Para compreender melhor a questão da subjetividade, tal como ela nos abrange, temos de chegar à emergência do cristianismo, não só como herdeiro do judaísmo e da filosofia, mas também da sofística e do pensamento trágico. Tudo isso forma o "caldo de cultura" de que se nutriu o surgimento da sensibilidade romântica e do modo de pensar burguês, absolutizados a partir do século XIX.

Anônimo disse...

Muito bem dito, Teixeira. Mas a transição entre a subjetividade medieval e a moderna passa por Descartes e pelo problema epistemológico. É o modo iluminista de pensar o sujeito. Sua crise - concomitante com a crise metafísica da ciência newtoniana - anuncia, juntamente com Nietzsche e Freud, a aurora do pensamento pós-sujeito. Eu, da minha parte, sendo o fenomenólogo que sou, ainda acredito na revelância do conceito de subjetividade. Mas parabéns pela bela arqueologia do conceito.

Anônimo disse...

Caro Pasmoessencial,

apenas por você situar-se como fenomenólogo, já se instaura uma grande simpatia de minha parte para com as suas formulações. Quanto ao "pós-sujeito", creio que fica uma grande dúvida sobre a possibilidade de existir algum tipo de pensamento nessa condição pós. Mas, aquém dessa dúvida, difícil de ser solucionada, devemos nos indagar: para que – que interesse pode haver nisso? – buscar pensamento numa situação de pós-sujeito, quando estamos tão distantes de alcançar resultados minimamente seguros em nossa condição de imersos num mundo de sujeitos. E quem mergulha mais, para o bem e para o mal, nesse mundo que Nietzsche?
Abraço
José Teixeira Neto

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