Argentino filma o essencial em filme sobre a velhice
Cássio S. Carlos
O "novo" cinema argentino pode ter emergido graças ao entusiasmo de jovens diretores estreantes cheios de energia, mas o sucesso dessa cinematografia vizinha trouxe também no meio da onda uma atenção a personagens aos quais a ficção de consumo não costuma dar muita atenção: os velhos.
Depois de "O Filho da Noiva", de Campanella, e "Elsa e Fred", de Carnevale, dois sucessos argentinos que dedicaram um olhar especial para personagens idosos, Carlos Sorin elege os meandros da velhice e da inevitável degradação física como o tema de "A Janela" (em cartaz em Goiânia).
Apesar de seu nome ter emergido com "Histórias Mínimas" e na companhia dos recém-formados que renovaram o interesse pelo cinema argentino no início desta década, Sorin já tem mais de 60 anos.
"A Janela" reflete os temores e emoções de um artista mais maduro. No filme, esses sinais se concentram no tiquetaquear incessante do relógio na parede do quarto onde Antonio se recupera de uma crise cardíaca e num velho piano que um afinador vai consertar.
Em idade avançada, o personagem, um escritor que vive numa área rural na companhia de duas empregadas espera acamado o retorno de um filho pródigo, enquanto encara com teimosia a iminência da morte. Como o escritor de "Providence", de Resnais, e o médico de "Morangos Silvestres", de Bergman, Antonio projeta vida e memória como parte de um único movimento.
No entanto, Sorin evita se enveredar por aprofundamentos metafísicos e apenas registra, com seu estilo minimalista, as nuances desse limiar em que se encontra o personagem. A seu favor, conta com a figura de Antonio Larreta, escritor e dramaturgo uruguaio, que consegue transferir para o personagem o necessário peso de contenção que o torna tão humano quanto veraz.
O diretor prefere, inspirado pelo "Umberto D" de Sica, abordar a velhice como um estado físico, com seu tanto de imobilismo e de acúmulo, de tempo de sobra e também de pouco tempo.
Filma, portanto, só o essencial, os gestos, uns diálogos prosaicos e um formidável passeio pela natureza, no qual fica evidente que busca, como seus pares de cinema argentino, o drama sem grandiloquência.
* publicado em 01 de maio na FolhaSPaulo.
4 Comentários
Pessoal,
O filme está em cartaz em Goiânia no cine lumieère, shopping bougainville. ver programação no lado direito do blog (embaixo).
Um colar de clichês.
Oi Ricardo Joss,
vi o filme ontem e gostei muito. mas gostaria de ouvir mais sua opinião: explique melhor onde estão os clichês. para mim é importante sua informação. não sou estudiosa de cinema.
Valéria, sem estragar o final, mas a cena da janela, ai, ai, no encerramento do filme é mais velha que o próprio cinema. A nora chata é outro lugar-comum, entre outros que agora me recordo.
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