domingo, 7 de junho de 2009

Dois professores contidos no final do filme.


Cristina Fibe*


[Estreiou em Goiânia] o filme "A Partida", delicado drama japonês que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano -derrotando o israelense "Valsa com Bashir" e o francês "Entre os Muros da Escola", favoritos. Até o diretor, Yojiro Takita, 53, ficou surpreso, e subiu ao palco sem saber o que dizer (é verdade que ele também não domina o inglês...).

Famoso no Japão por dirigir uma série de comédia pornô (os chamados "pink films", em que as cenas sexuais são mais "soft"), o diretor explica um pouco por que decidiu falar sobre a morte em "A Partida", que demorou de 10 a 15 anos para ser concluído. O filme acompanha um violoncelista que, orquestra dissolvida, acaba conseguindo um emprego de preparador de cadáveres (num belo ritual, na frente da família, ele troca, limpa e arruma o corpo a ser enterrado).

Veja a conversa, no mês passado, mediada por um tradutor (inglês/japonês).

PERGUNTA - Trata-se do primeiro roteiro de Kundo Koyama a ser filmado. Gostaria de saber o que o fez apostar no projeto.

YOJIRO TAKITA - Quando eu li o roteiro pela primeira vez, ainda era o primeiro rascunho, estava em desenvolvimento. O que achei interessante foi a profissão do protagonista e o fato de o filme lidar com a morte. Não achei isso deprimente de forma nenhuma, achei refrescante, e foi isso o que me atraiu no projeto.

PERGUNTA - Como você define o filme? É uma comédia de humor negro, um drama, um romance?

TAKITA - Acho que contém todos os elementos mencionados. Em primeiro lugar, é um drama familiar, e uma história de esperança. E o fato de você me perguntar qual é o gênero significa que você pode não ter conseguido encaixá-lo em um só. Então cabe à plateia ou aos críticos definir a que gênero pertence, se pertence a algum.

PERGUNTA - Qual é a principal mensagem que você pretende passar? Que as pessoas deveriam lidar melhor com a morte?

TAKITA - Você está certa. A morte é uma coisa na qual as pessoas procuram não pensar, tendemos a desviar os olhos. Minha esperança é que, por meio do filme, confrontando a morte pelas ações dos personagens, sejamos capazes de reavaliar a morte e a vida em si.

PERGUNTA - E como você lida com a morte?

TAKITA - Antes de fazer esse filme, eu não tinha uma visão concreta da vida e da morte. Em parte porque eu não tinha a morte me cercando, e também porque era uma coisa da qual tinha medo, que evitava, como a maioria das pessoas. O que percebi fazendo o filme é que a morte não é algo a se temer, e o filme me deu a coragem para encará-la.

PERGUNTA - E é verdade que você ficou famoso no Japão com uma série de comédia pornô? Como entrou nessa área?

TAKITA - Para ser honesto, era a única oportunidade que eu tinha para trabalhar com produção de filmes. Os estúdios não estavam contratando, e eu só consegui emprego em empresas independentes. No processo, de lágrimas e risadas, o que absorvi em termos de filmagem é o que permitiu que eu fosse o cineasta que sou hoje. Há algo muito orgânico no processo de fazer um filme, e muito disso eu aprendi tendo essa experiência.

* jornalisa da Folha On Line.

9 Comentários

Pedro Vinitz disse...

Pessoal,
Eu vi ontem, sábado, após a sessão ficou todo mundo calado. Algumas pessoas saíram do filme chorando. O Lisandro e o Francisco Pierre, geralmente vêem filmes e gostam de rir bastante, deixaram a sala em silêncio total. Deve ser a idade deles e a proximidade da morte. Ficaram calados e contidos. Foram embora e sequer tomaram café lá no Café do Ponto. Eu fique vendo de longe. E fiquei com medo de ficar velho.

Candido Cesar disse...

Boa tarde!! Pedro, apesar do seu tom juvenil e ingênuo, os velhos são sábios e são o farol para os mais novos.

O filme é realmente impressionante. É um exemplo de sabedoria.

Daniel Christino disse...

Não adianta chorar nem ficar com medo. Velhos já somos todos. Falta-nos apenas o desenrolar do tempo. Mais importante, contudo, é o rumo que toma nosso caminhar. Em nosso princípios está nosso fim. Ou, como diria T.S. Eliot:

Do not let me hear
Of the wisdom of old men, but rather of their folly,
Their fear of fear and frenzy, their fear of possession,
Of belonging to another, or to others, or to God. The only wisdom we can hope to acquire is the wisdom of humility: humility is endless.

Daniel Christino disse...

Pessoal, não achei uma tradução para o trecho acima, então vou traduzir livremente.

"Não me falem da sabedoria dos velhos, mas de sua tolice.
Do seu medo do medo e do delírio, do medo da possessão, do pertencimento a outro, ou outros, ou a Deus. A única sabedoria que podemos pretentender adquirir é a sabedoria da humildade: a humildade é infinita."

Wilson (livraria UFG) disse...

velho mesmo é a noção que se tem de velhice, essa noção talvez não seje nem velha, talvez seje arcaica ou até pré-histórica...
os homens e mulheres maduros são uma parte pequenina do passado, porém que agigantam o presente norteando o futuro de uma juventude que se perde infantilmente, quase sempre apática aos problemas e dramas sociais de uma época de grandes turbulências e uma rápida deterioração dos cotidianos da humanidade.
que todos possam encarar a velhice sem medo, e quanto a morte...
que venha, pois esta é uma das poucas coisas sobre a qual podemos ter uma alguma certeza...

Lisandro disse...

Olá Daniel e Wilson,

A partir do comentário do Pedro foi possível pensar na velhice e na morte. Boas reflexões!!
ps- eu e Francisco Pierre saimos do cinema fomos tomar um bom café. o filme realmente "mexeu"...mas o medo da velhice nem fez parte da conversa. o medo da morte no momento é mais do Pedro do que nosso.

Anônimo disse...

wilson, no topo da minha inocência de jovem, digo que a morte é a única certeza.

o que é ótimo pois a vida é movimento e o movimento é uma perturbação, incerteza.

aron

Lisandro Nogueira disse...

Mas enquanto a morte não vem...vive-se...ou procura-se viver bem.

Anônimo disse...

é... procura-se... seja lá o que tem pra ser procurado...

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