A VIDA DURA DE UM PROFESSOR
Lisandro Nogueira*
O jornal O Popular publicou há dois meses uma reportagem informando que os juízes trabalham 171 dos 365 dias do ano. Observo e constato que os professores trabalham bem mais. O cotidiano de um professor é atualmente ainda mais extenuante do que no passado. O bom do magistério, preparar aulas, entrar em sala, conviver com alunos e colegas, não é o mais importante. O cotidiano foi tomado por uma forte burocracia e pela matematização exagerada - são relatórios e mais relatórios; reuniões e mais reuniões.
A professora da USP, Olgária Matos, publicou um artigo na revista Carta Maior mostrando as inúmeras atividades de um docente: "Quanto aos docentes, estes se ocupam cada vez mais com tarefas de secretaria, como preenchimento de planilhas, elaboração de relatórios, propostas de inovação em cursos não obstante ainda em vias de implantação, acompanhamento de iniciação científica, organização desses congressos, participação em atividades de iniciativa discente, preenchimento de pareceres on line de um número crescente de bolsistas, e por aí vai".
Ela tem razão. Observem a agenda abaixo:
. Dia 21.06 - "Cinema Novo e cinema da retomada", aluno: Rodrigo Cássio - banca: Maria Luiza Mendonça, Ismail Xavier e Lisandro - banca de qualificação de mestrado;
. Dia 23.06 - Correção de provas;
. Dia 24.06 - Aplicação de avaliação;
. Dias 25 e 26.6 - Leitura de monografias e teses (noturno: ver jogo do Vila Nova na TV);
. Dias 27 e 28.6 - Leitura de monografias e teses;
. Dia 29.6 - Seminário sobre "O olhar domesticado" e reunião da graduação e pós-graduação (pautas enorme e extenuantes);
. Dia 30.6 - "O cinema como mediador na educação para a cultura visual" - banca de mestrado na Faculdade de Artes Visuais da UFG. Aluna: Adriane Camilo - Professores: Alice Fátima, Raimundo Martins e Lisandro;
. Dia 01.07 - Disciplina "Análise de filmes" - aplicação de provas o dia inteiro;
. Dia 2.07 - Pela manhã: orientação alunos de monografia e pós-graduação/ Pela tarde: reunião do Conselho diretor da Facomb-UFG;
. Dia 3.07 - Ver filme inédito no cinema para comentar na TV e ver o jogo do Vila Nova e Guarani (ninguém é de ferro);
. Dias 4 e 5 de julho - Ler e dar parecer em dois textos para Socine: sociedade de estudos de cinema;
. Dias 7 e 8 de julho - banca de avaliação de monografias/tcc:
a) "O drama no telejornal, de José Barbacena. Banca: Alysson Assunção e Lisandro;
b) "Cinema e jornalismo", de Victor Hugo. Banca: Daniel Cristino e Lisandro;
c) "Do Quasar à Quasar: duas décadas de visibilidade midiática", de Rafael Ventura. Banca: Angelila Lima e Lisandro;
. Dia 9 de julho - Leitura de dissertação;
. Dia 10 de julho - Banca de mestrado na Faculdade de Letras com profs. Agostinho e Lisandro.
. Dias 11, 12 e 13 e 14 - Correção de provas, publicação de notas e planejamento do próximo semestre.
* Lisandro Nogueira é professor desde 1980.
11 Comentários
Pessoal,
Não é brincadeira, não. Não quero ser professor.
Pessoal,
Não é brincadeira, não. Não quero ser professor.
Prof. Lisandro, se não bastasse a rotina extenuante do magistério, ainda torce para o Vila Nova?! Assim fica difícil mesmo. :D
Isso mesmo, Helen. Se Lisandro torcesse para o Atlético, os momentos de futebol já não seriam extenuantes. Mas torce pro Vila Nova! Aí fica difícil... rs rs
Professor??Quero ver ser a-l-u-n-o em final de semestre.Ram. Meus níveis de ansiedade e loucura aumentam consideravelmente. Sem contar q tenho certeza que cada vez que faço uma prova perco conhecimentos importantes. Prova é uma violencia a mente.
Rs...
E eu que sonho todo dia em ser professor de univarsidade heim, acho que devo rever meus conceitos, haahahahahahha. Mas vc só falou das coisas ruins caro Lisandro,
Abraço
Caros Wertem, Rodrigo, Polly, Helen:
Essa agenda forte foi para mostrar que professor, ao contrário de outras profissões, trabalha muito.
O bom da história: ser professor é muito bom e eu externei num post no início do mês.
O que ocorre? Temos cada vez menos tempo para exercer o gostoso da profissão: estudar, preparar os estudos e formar pessoas. A burocracia e as atividades sem importância estão ficando cada mais absolutas e matematizadas.
O Vila Nova, ao contrário, é um dos pilares do bom professor (rs, rs). Sem ele ficaria mais difícil. Vou contar uma coisa: ministrar uma boa aula, fazer uma boa orientação e, no final do dia, ver um jogo do Vila Nova...é um momento de extrema felicidade.
Nosso sistema de avaliação de desempenho para professores tende a substituir a meritocracia por um sistema baseado em quantidade: pubicações, turmas, orientações, apresentações.
Dessa forma, a universidade acaba por não ser tão diferente de uma outra empresa: prazos, cobranças, metas e pressão.
Ainda bem que no meio disso tudo há o contato com os alunos que tem vontade de aprender, expor e pensar criticamente.
Mas fica a dúvida: Lisandro, os jogos do Vila ainda podem funcionar como exercício catártico?
Alysson,
você tem razão: a sala de aula, o convívio com bons colegas e alunos, de fato compensam essa "matematização da vida".
Mas o Vila Nova não ajuda na catarse. Ele está acima, bem além do chão raso do cotidiano das burocracias...ele é o imaginário radioso.
Ele oscila: sobe, desce, aflige, alegra, deprime...é pura vida. Por isso, ele ajuda bastante no cotidiano. E é tb. memória da infância, saudade, pertencimento, orgulho, solidariedade no fracasso e na derrota. Enfim, é uma filiação perene, uma amizade sem fim.
Prezados,
alunos e profissionais do Direito trabalham dez vezes mais que a maioria da profissões. O que o "estafado" professor vai fazer depois do dia 14 de julho? Certamente vai ver filmes, dormir até mais tarde, ver futebol. No judiciário não temos essas prerrogativas como no magistério superior.
isso msm Fernanda!
Assinado: Polly que estagia no Procon e que NÃO terá ferias!
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