domingo, 29 de agosto de 2010

Cinema feito em Goiás

O Cineclube e o Cinema feito em Goiás

Lisandro Nogueira
* foto: Divino José em "Recordações de um presídio de meninos"

O Cineclube Antonio das Mortes (nome em homenagem ao personagem lendário dos filmes de Glauber Rocha), fundado em 1977, sempre pensou no processo de formação. Numa época pré-tecnológica, era quase impossivel ver os filmes "fora do circuito". As exibições alternativas eram realizadas com projetores de 16mm (o VHS só apareceu, prá valer, em 1985; mesmo assim, poucos tinham condições de comprar e o acervo era pequeno). Nessa situação, qualquer filme "fora do circuito" era exibido com muita garra e interesse. É verdade que exibíamos muitos filmes ruins dos cinemas: alemão, francês, brasileiro, sueco e italiano. Entretanto, tivemos a oportunidade de ver obras raras e assim formar um pensamento e uma cultura cinematográficas.

Em seguida, início dos anos 80, criou-se no Cineclube uma linha de produção, capitaneada pelo avatar Lourival Belém Jr (lançou no ano passado seu oitavo documentário: "Recordações de um presídio de meninos"). Belém deu continuidade a uma linha evolutiva do cinema feito em Goiás. Nunca gostamos do termo "cinema goiano". Ele restringe, acomoda e nos coloca no gueto. É bem melhor a denominação "Cinema feito em Goiás", pois tudo é Cinema.

Penso que o Cineclube contribuiu para o processo de construção do cinema feito em Goiás. Por um lado, através da execução de um projeto perene de exibição e debates de filmes (formação), e, de outro, com a criação de condições mínimas para o surgimento de cineastas produtivos.

Quando os professores Anselmo Pessoa e Nars Chaul, com minha contribuição, criaram o Cine-UFG, logo pensei numa grande mostra de filmes "feitos em Goiás". Convidei meu ex-orientando, Rodrigo Cássio, hoje doutorando na UFMG, e Pedro Novaes, cineasta, para realizarem a curadoria (escolha dos filmes significativos) e coordenação dos debates. É uma honra enorme trabalhar com dois jovens que gostam, estudam e fazem cinema. Isto porque, dão continuidade a linha de pensamento do Cineclube Antonio das Mortes e ajudam a alavancar o projeto de extensão Cine-UFG,debates": formar críticos, cinéfilos e consolidar  um "ambiente-cinema" em Goiás.

Segue abaixo o texto dos dois sobre a mostra que segue até o dia 10 de setembro (programação: ver WWW.UFG.BR)


MOSTRA CINEMA FEITO EM GOIÁS
Cine UFG - 30 de agosto a 10 de setembro
Rodrigo Cássio e Pedro Novaes


A Mostra Cinema Feito em Goiás se apresenta ao público com o interesse voltado para a produção recente de filmes no Estado. Os treze curtas e quatro longas-metragens que compõem a Mostra foram selecionados em função da relevância que possuem em um contexto de diferenças marcantes, mas também de tendências que vieram edificando, já em uma história não tão recente, certos padrões de uso da linguagem audiovisual.

Na diferença, priorizou-se aquilo que se compromete com a ousadia e a novidade nos temas e nas formas, evitando-se chancelar as práticas menos frutíferas esteticamente, talvez viciadas por um ambiente de produção que busca se profissionalizar, antes de tudo, enquanto técnica – e, por isso, nem sempre com o devido acompanhamento de uma reflexão sobre as escolhas e os limites da linguagem que pretende significar o mundo.
Por um lado, os filmes exibidos dificultam a percepção de uma unidade que identifique o cinema feito em Goiás. Por outro lado, eles indicam também a existência de diálogos com formatos cinematográficos diversos, algumas vezes absorvidos sem a consciência de que poderiam ser mais bem apropriados; mas, por sorte, outras vezes absorvidos com a convicção de que o ato criador depende em igual medida do talento e da insistência, da sensibilidade e da disciplina.

Os filmes selecionados para a Mostra Cinema Feito em Goiás participam desse segundo caso: o das obras que se demoraram em tornarem-se obras, revelando-se o resultado de um flerte sério com o cinema. Nesse passo, elas alcançaram, em alguma medida, a expressão de potenciais bastante particulares, convidando o espectador goiano a tomar conhecimento do que tem sido – e, mais ainda, do que pode vir a ser – o seu cinema.

Rodrigo Cássio e Pedro Novaes
Curadores

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