Parecia cena de Tropa de Elite 2. Rodrigo Pimentel, 39 anos, entra no quiosque Arab, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio, e é aplaudido de pé pelos clientes do restaurante. No imaginário da população, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e atual comentarista de segurança pública do jornal RJTV, representa os policiais aclamados após a ocupação de uma das áreas mais violentas da cidade. ''Não me sinto uma celebridade, só fico feliz'', revela Rodrigo, co-autor do livro Elite da Tropa e dos argumentos de Tropa de Elite 1 e 2.


Pimentel deixou a Polícia em 2001 decepcionado com a corporação. Em 1996, ele participou do documentário Notícias de uma Guerra Particular. Desmotivado no filme, Rodrigo foi convidado a sair do BOPE e voltou a ser capitão da PM. Aí, surgiu o caso do ônibus 174, sequestro que acabou com a morte de uma refém e do bandido. Pimentel deu uma entrevista ao Fantástico criticando a ação do BOPE. Foi a gota d’água. Em seguida, ele conheceu o diretor José Padilha, 43, que o convidou para ser coprodutor do documentário Ônibus 174. A parceria deu certo e culminou com o sucesso de Tropa de Elite 2, que, na semana passada, tornou-se o filme brasileiro mais visto da história, batendo Dona Flor e Seus  Dois Maridos (1976). Agora, Rodrigo Pimentel curte a fama que nunca imaginou ter como ''o verdadeiro Capitão Nascimento.''

Homem de família

''Tenho dois filhos, Eduardo, 11, e Gustavo, 7. Sou casado com a mesma mulher há doze anos, Rosele Pimentel, 40. Eu não saí de casa como o Nascimento (risos). Estou tendo pouquíssimo tempo para passear com eles, mas gostamos de andar pela Lagoa. Meus filhos não pensam em ser policiais, são pacifistas. Eles odeiam armas, são muito zen e estudiosos. Certa vez, levei os meninos na casa do (músico) Dudu Nobre, que é colecionador de armas, e, quando ele veio me mostrar  uma bem bonita, meu filho foi ler um livro. Qualquer criança iria gostar ou chegar perto. Também levei os dois no BOPE uma vez e não se interessaram por nada. Eles não dão a mínima.''

Orgulho do passado

''Fui um policial que ficou fora do contexto. Normalmente, o policial mora na (área humilde da) zona oeste, em função do salário que ele tem. Eu sempre vivi na Zona Sul, porque meu pai era militar e morávamos na Urca (área nobre da cidade, formada em sua maioria por casas de oficiais). Depois, fui para Botafogo e vim para a Lagoa. Trabalhei em algumas empresas, mesmo quando era policial, fazendo bico, porque o policial precisa fazer isso para sobreviver. De vez em quando, sentava em mesas de reunião e escutava uma pessoa falando que tinha subornado um policial. Quando eu falava que era um deles, o sujeito ficava com vergonha. Eu não tinha vergonha, mas ele sim.''

Ameaças?

''Nunca fui ameaçado. Alguns policiais do BOPE ajuizaram uma ação contra Tropa de Elite. Eles achavam que o filme ia fazer mal ao batalhão. Mas o longa fez com que o batalhão fosse aplaudido nas ruas, virasse a menina dos olhos do governador e os policiais ganhassem aumento. A obra aproximou o BOPE da sociedade. O pedido foi indeferido e o mais interessante é que eles gostaram muito do longa.''

Saída da Polícia

''Quando você assiste à Notícias de uma Guerra Particular, dá para perceber que já estou cansado e de saco cheio. A operação policial faz sentido quando a polícia invade a favela e permanece, o que está sendo feito hoje. Se a polícia sai, o que ela foi combater se reproduz no dia seguinte. Então, é um desgaste para a população e para o policial. Se eu estivesse na corporação hoje, estaria muito motivado. Comecei a sofrer um processo de desilusão e o BOPE não é um local para pessoas desmotivadas. Qual foi a centelha que me fez explodir? Não sei exatamente. Mas fiz uma operação no Pavão-Pavãozinho para apreender maconha e, horas depois, estava numa festa onde muita gente estava fumando maconha.''

Caso 174

''É bom falar sobre uma ocorrência em que um rapaz morreu enforcado dentro da viatura da polícia. Assim, você sempre provoca a transformação, o debate e a reflexão. O fato é que, depois daquele evento do ônibus 174, o BOPE não perdeu mais nenhum refém, se organizou e montou uma equipe top do mundo em resgate de refém e negociação. Eu tinha saído do BOPE fazia três meses. Abri o jornal um dia e vi uma matéria em O Globo: ''Diretor quer filmar  documentário sobre o caso do ônibus''. Liguei para João Moreira Salles e perguntei quem era esse diretor, porque ele não conseguiria fazer nada, já que a Polícia Militar é uma caixa preta. Ele me apresentou o José Padilha, que me convidou para ser o coprodutor de Ônibus 174, um sucesso, com 220 mil espectadores no Brasil.''

Tropa de Elite

''Enquanto Padilha filmava Ônibus 174, eu explicava sobre o BOPE. Ele foi gostando daquilo e fez uma proposta de fazer um documentário sobre o BOPE. Ninguém iria abrir, então, decidimos fazer uma ficção. Não digo para ninguém que sou ''o Capitão Nascimento.'' A relação é feita em função do Notícias de uma Guerra Particular. Estava desiludido e imediatamente surge a relação com o Wagner Moura em Tropa de Elite. Comandei a operação do Papa e realmente saí do Batalhão, mas o conjunto é ficção.''

Caveira na pele!

''Meu orgulho de ter pertencido ao BOPE está estampado aqui'', conta Rodrigo Pimentel, mostrando a tatuagem no braço direito com o agora famoso símbolo da caveira. O ex-capitão do batalhão fez o desenho há dois meses, mas não deve ser o único, agora que Tropa de Elite 2 virou mania nacional