O pornográfico no cinema de arte
por Rodrigo Gerace*
"Já comecei a aprender a ser um realizador de filmes pornográficos".
Lars Von Trier, sobre o Anticristo (Antichrist, Dinamarca, 2009)
"O único cinema real é o cinema pornográfico".
Jean-Luc Godard.
"O único cinema real é o cinema pornográfico".
Jean-Luc Godard.
"No fundo do coração de todo diretor agitam-se dois desejos inerentes à própria natureza de um cineasta. Um diretor quer filmar o ser humano morrendo. E quer filmar um homem e uma mulher, ou um homem e um homem, ou uma mulher e uma mulher, ou um ser humano e um animal mantendo relações sexuais".
Nagisa Oshima, sobre O império dos sentidos (Ai no corrida, Japão, 1976).
"O sexo aparece integrado às vidas dos personagens. Queria usá-lo como a música em Hedwig - Rock, Amor e Traição (2001), uma metáfora para revelar os personagens sem usar palavras. Por isso não se pode comparar Shortbus a um filme pornográfico. Poucas pessoas se excitam sexualmente ao vê-lo, e, quando isso acontece, é algo periférico. A idéia não é chocar ou excitar. Quando ele termina, a última coisa em que se pensa é no sexo. Como no fim de uma relação boa. Diferente do que se sente após ficar apenas uma noite com alguém".
John Cameron Mitchell, sobre Shortbus (EUA, 2006)
"O sexo é hoje a satisfação de uma obrigação social, não um prazer contra as obrigações sociais. O sexo em Saló é uma representação, ou metáfora, desta situação, que vivemos nestes anos: o sexo como dever e feiúra".
Pasolini, sobre Saló ou os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma, Itália, 1975)
"Eu deveria ter chamado meu agente ou meu advogado ao set, porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não esteja no roteiro, mas na época, eu não sabia disso. Marlon me disse: 'Maria, não se preocupe, é só um filme'. Mas durante a famosa cena, mesmo que ele não estivesse me possuindo realmente, eu me senti humilhada e as minhas lágrimas eram verdadeiras. Me senti estuprada, tanto por Brando quanto por Bertolucci. Após a cena, Marlon não me consolou nem se desculpou. Felizmente, foi gravado em apenas uma cena".
Maria Schneider, anos depois, sobre a cena de violação sexual em Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi, Itália/França, 1972), de Bertolucci.
"Ele é O Poderoso Chefão do cinema pornográfico".
"Ele é O Poderoso Chefão do cinema pornográfico".
Frank Yablans, presidente da Paramount, sobre o sucesso do “pornô chic” Garganta Profunda (Deep Throat, EUA, 1972), de Gerard Damiano.
"O tamanho real já é repulsivo, mas nada comparado ao efeito produzido por este ato em proporções gigantescas e ainda repetido por três vezes consecutivas... Todo encanto se desvanece, convertendo a arte em algo indecente e de uma prodigiosa vulgaridade. Tudo isso exige a intervenção da polícia.
Herbert Stone, jornalista do Chicago Reader (junho de 1896, sobre o primeiro beijo na história do cinema, em The Kiss, de Thomas Edison)
"A pornificação da arte contemporânea não é novidade. No passado você podia ver o mesmo em Jean Genet, Jack Smith, Andy Warhol, John Waters, Oshima, Bertolucci, Pasolini, Bellocchio, Makavejev, etc. Na verdade me surpreende o fato de que não haja mais cineastas usando sexo explícito considerando o quanto ele está naturalmente disponível no mundo! Acho que qualquer cineasta ao menos pensou em usar sexo explícito, pois senão como poderia haver completa fidelidade com a vida? O fato de que ela segue sendo um forte tabu faz com que seja ainda mais necessária sua representação".
Bruce LaBruce (trecho de entrevista exclusiva ao CinePersona, janeiro/2011)
Bruce LaBruce (trecho de entrevista exclusiva ao CinePersona, janeiro/2011)
"A pornografia é criada para você se estimular sexualmente, não tem outra finalidade. É óbvio que Crash não é pornográfico. As pessoas dizem que ele é sexual, mas não erótico, como se isso foi uma crítica. (...) Na maioria dos filmes, a história primeiro é interrompida, depois você tem uma cena de sexo, e então a história continua. E não há nada que te impeça de usar uma série de cenas de sexo como elemento estrutural de um filme. Isso é parte da narrativa da vida de alguém". David Cronenberg sobre Crash – Estranhos prazeres (Canadá/Inglaterra, 1996).
"O que me interessa é filmar o corpo, o desejo e o sexo. Não sei se em todos os meus filmes haverá sexo explícito. Para contar esta história achei que teria de filmar o ato sexual. Uma coisa que me aborrece imenso como espectador é estar a ver uma cena num filme em que os personagens estão aos beijinhos, enrolam-se e, depois, corta-se. Isso é uma seca. Porque é que não se há de mostrar? Quem disse que o ato sexual é uma coisa feia? Não é! Não digo que não seja preciso reaprender a filmar o sexo, sobretudo de uma forma como nunca foi filmado. E não é nada fácil..." João Pedro Rodrigues sobre seu filme O Fantasma (Portugal, 2000)
"Tive o desejo de mostrar pessoas fazendo amor, para acompanharmos um relacionamento que está sendo contado através da intimidade do casal. Acho que quando você vê o filme, no início você pensa que vai ser chocante, mas no final você reflete: "bem, é isso, eles estão fazendo amor. Então o que há de errado com isso?"
Michael Winterbottom sobre o seu filme 9 canções (9 songs, Inglaterra, 2004).
"Todos fazemos sexo explícito, mas temos a impressão de que não se trata da mesma coisa que vemos no cinema pornográfico. Assim sendo, pensei que o cinema de autor deveria desmistificar o sexo explícito e mostrar que não se trata apenas de imagens, mas também de sentimentos. O cinema é a arte que dá senso e emoção às imagens e, por isso, deveria reintegrar as imagens pornográficas em um cinema de autor para dar-lhes um sentido diferente. Quando eu digo cinema de autor, quero dizer cinema tradicional. Esse tipo de imagem esteve reservada ao que chamamos cinema "X" (sigla que identifica filmes pornográficos), mas que sequer é cinema. Trata-se de uma indústria do sexo, não mais do que isso. O cinema "X" é a prostituição do sexo. O cinema pornográfico não é uma visão do sexo definitiva, apesar de ser praticamente a única que temos atualmente. Pensei então que seria absolutamente necessário criar uma outra, que não seria apenas um direito, mas um dever dos autores. Romance não é uma visão do sexo. É uma procura de uma identidade pessoal por meio do sexo".
Catherine Breillat, diretora do filme Romance X (França, 1999)
Fonte das Imagens (Divulgação);
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