Quem matou Norma e as coisas do Brasil?
Lisandro Nogueira
Desde o século 19, na época dos folhetins, gostamos de brincar com essas questões de "quem matou quem". O melodrama é a casa ideal para esse tipo de narrativa povera.
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Segundo Michel de Certau, em seu belíssimo "Invenção do cotidiano", nosso sociabilidade é tecida por essas narrativas ligeiras - telenovelas, por exemplo. Por outro lado, chama a atenção quando isso se torna uma "prática" quase hegemônica. Ou seja, todos querem saber quem matou a Norma.
É bom brincar no trabalho, em casa, na rua com essa pergunta. O Brasil inteiro vê telenovela e Gilberto Braga sabe disso. Mas devemos lançar tb. outras perguntas:
a) quem matou aquela juíza no Rio de Janeiro? (vi essa pergunta no TT)
b) quem é o responsável pelo judiciário brasileiro ser tão lento e proteger sempre os mais ricos?
c) quem matou a educação brasileira, desde então?
d) por quê os meios de comunicação são tão preocupados com a espetacularização das coisas?
e) e outras mais...
São várias perguntas em meio ao torpor da impotência. Ismail Xavier, grande mestre, dizia: "precisamos aprender a viver no pêndulo entre criar e seguir normas".
Pois é, Gilberto Braga sabe mexer com a emoção dos brasileiros. Tenho admiração pela carpintaria do seu texto e pelo seu equilíbrio no jogo de forças: criar e seguir normas dentro da indústria da TV. Mas exageramos na busca obsessiva pelo assassino da Norma.
Quem matou a Norma, desde o século 19, foi o autor do texto. Hoje, no caso, Gilberto Braga. Por isso, falei várias vezes na TV Anhanguera: quem matou Norma foi ele, Braga.
1 Comentário
Estranho e assustador são as feridas da sociedade, houve uma tentativa de crítica social na trama, mas nunca conseguiu abrir os olhos. O controle aprendeu uma nova arma: deixa correr solto, uma hora se cansa e para.
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