sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O que quer uma mulher?

O que quer uma mulher? “Jejum de amor” responde com muitos risos.

“Jejum de amor” (His Girl Friday - 1940) é uma comédia para rir aos poucos. Hildy (Rosalind Johnson) é uma jornalista que resolve abandonar a profissão. Vai casar com um corretor de seguros. Mas acontecem mil atropelos: casar ou ser jornalista, eis a questão.

A cena de Hildy entrando na redação é uma preciosidade: a câmera a acompanha nos gestos e nos movimentos delicados e suficientes. A roupa, o manuseio da bolsa e a voz que fala elegantemente (mas só ouve o que quer) são minuciosamente enquadrados pelo atento diretor Howard Hawks.

Uso muito esse filme em sala de aula para exemplificar o que é o cinema clássico. Vale a pena ver o filme e ler “O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos”, de David Bordwell, In:. Ramos, Fernão (Org.), Teoria Contemporânea do Cinema – V. II, 2006. Em Goiânia, disponível em DVD, na Cara Vídeo – rua 10, centro.

14 Comentários

Marco A. Vigario disse...

Vou pegar pra ver em DVD. Valeu a dica!

Pedro disse...

Casar ou ser jornalista? Se ser jornalista representa uma aventura na vida de Hildy, é claro que que a fábula fica muito mais atraente. E que sufoco, heim, jornalista!? Por fim, tem sempre uma moral pra se aprender com essas histórias.

Marcelo Nogueira Dutra disse...
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Marcelo Nogueira Dutra disse...
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Marcelo Nogueira Dutra disse...

O que vi e entendi gostei muito. http://www.youtube.com/watch?v=eezwbEZ2lB0

Lisandro Nogueira disse...

Pedro Rafael, o mochila nas costas, não fique só na A. Latina. Vá tb. para Europa e EUA. Amplie os horizontes. Estou esperando seu comentário o "Jejum de amor". Um dos primeiros filmes sobre a "Mulher moderna".

Anônimo disse...

Os primeiros dez minutos deste filme retratam bem o que é a narrativa clássica bem executada. Gosto muito de Jejum de Amor - que já foi refilmado mais de cinco vezes, nas minhas contas

Anônimo disse...

O filme “Jejum de Amor” revela e engana ao mesmo tempo. Engana porque simula o acesso a uma verdade, por meio do melodrama e da crítica ao mundo jornalístico. Mas, faz com que o espectador acredite que há uma revelação, a narrativa é baseada em uma troca intensa de diálogos, essa característica leva o espectador a confiar em um dialogismo entre o filme, por meio dos atores, e o próprio espectador. O fato de Hildy anunciar ao ex-marido, Burns, que ela vai se casar, faz com que esse acesso a verdade seja potencializado, fazendo com que o espectador torcça por Hildy conquistar a segurança, ficando junto com o “mocinho” (noivo) ou torça pela trabalho intenso acima da vida social ou amorosa, ficando junto ao “bandido” (ex-marido). Assim, o revelar ou enganar vai depender do ponto de vista do espectador, o que considero um fator positivo, visto que nós humanos somos seres da práxis, da ação e reflexão. E esse filme nos leva a isso, a pensar no cinema como um todo, no mundo do jornalismo e também na trama do filme. MARINA MUNIZ MENDES

Unknown disse...

A ficção é o terreno das certezas, de um mundo construído, muitas vezes, de forma inteira e acabada, enquanto os documentários retratam a “realidade” e, logo, o incerto da vida. Tal argumento foi exposto na última terça-feira por Ismail Xavier. Quando assisti ao filme “Jejum de amor”, pude associar essa produção a tal fala de Ismail. A obra se apropria da narrativa clássica para construir uma história que se inicia com a dúvida (Hildy conseguirá mesmo abandonar o jornalismo para levar uma vida de dona de casa com o futuro marido?) e se finaliza com a resolução dessa incerteza (pressionada por notícias que estão na ordem do dia, Hildy acaba deixando partir o noivo para fazer o seu trabalho de repórter e termina, também, voltando para o seu ex-marido e editor, Burns, em uma ilustração clara da força do jornalismo). Tudo muito certo (a ficção nos retira um pouco das dúvidas da vida e, por isso, a afirmação bem humorada de Ismail). Assim, ao espectador (que faz o pacto de acreditar, por um instante, naquela produção) restam as “certezas” postas na obra: a revelação de que o jornalismo é um poder constituído e a crença na verossimilhança daquela história – uma mulher nos anos 40 tendo de decidir: agirá como um “homem da imprensa” ou como uma dona de casa? Mas quais são os enganos que “Jejum de amor” provoca? O cinema engana porque é um recorte da realidade (tem suas molduras), simula, monta, constrói outro mundo irreal. Até que ponto os reais jornalistas teriam mesmo aquela força proposta em “Jejum de amor”? As jornalistas teriam mesmo aquele poder de sedução e determinação de Hildy? São questões que estão colocadas no filme a partir de determinada óptica (e, por serem mesmo frutos de um ponto de vista, não são a verdade). Mas, enfim, só no deliciamos com qualquer obra cinematográfica se estivermos dispostos a encarar os seus jogos de ilusão e enganos. LUANA BORGES

Anônimo disse...

“Tudo aconteceu na “Idade das trevas” do jornalismo quando “conseguir aquela matéria” justificava qualquer atitude do repórter. Não há semelhanças com os jornalistas de hoje”. Desta forma, o espectador é alertado para a história que vai assistir . “Jejum de Amor” é um filme que conta as aventuras dos jornalistas Hildy (Rosalind Russel) e Walter Burns (Cary Grant). Cansada da vida frenética do jornalismo, Hildy decide largar a alcunha de “Homem da imprensa” para se casar e tornar-se uma mulher comum. Seu ex-marido e chefe Burns é um homem espertalhão e enganador que vai fazer de tudo para impedir sua saída e recuperar o seu amor. O pano de fundo desta narrativa tipicamente do cinema clássico, é a história de amor e ódio destes dois personagens. Entretanto, o espectador, do começo ao fim, é levado a se envolver com a vida movimentada de uma redação de jornal. Isto é feito não pela alternância de planos (há poucos cortes) e sim pelas falas rápidas e até simultâneas. “Jejum de Amor” faz um jogo de revelação e engano. Ao expectador revela-se as verdades e também mentiras e corrupções que envolvem o jornalismo. Ao expectador engana-se ao criar a imagem do jornalista como um ser não humano e da jornalista que só pode ser mulher se doméstica. Engana-se mostrando o jornalista que vence as peripécias e tem a garantia do seu final feliz. Engana-se ao expectador ao dizer que a “Idade das trevas” do jornalismo pertence apenas aos tempos passados.

Unknown disse...

O clichê "já não se fazem mais filmes como antigamente" pode parecer um pouco apelativo, mas define bem o filme "Jejum de Amor", dirigido por Howard Hawks e lançado em 1940. Na verdade, um clichê é pouco para definir um filme que vai de uma comédia escrachada sobre o casamento, passa por questões políticas como a pena de morte e ainda discute a natureza do Jornalismo. No filme, Walter Burns (Cary Grant) é um editor de jornal que tenta manter o espírito jornalístico vivo em sua ex-esposa, a jornalista Hildy Johnson (Rosalind Russell), que iria se casar com um corretor de seguros. Burns chega a chamá-la por diversas vezes de “newspaper man”. Quanto à revelação e ao engano, ambos estão presentes no filme. A revelação está na proximidade que diretor criou com a realidade ao acelerar os diálogos dos personagens. Já o engano se faz na idéia de que o jornalista é jornalista antes de ser humano.

Anônimo disse...

Jejum de amor traz uma reflexão dura e crítica a respeito da figura do jornalista. O diretor, Howard Hawks, o coloca sobre dois eixos. Um deles é o de verdadeiro abutre, sempre louco por notícias polêmicas, e sem a mínima preocupação sobre a autenticidade dos fatos. Neste viés o jornalista é colocado como sendo desprovido de nenhuma ética ou moral. Já o outro eixo mostra o jornalismo como sendo uma profissão que requer vocação. O que é o caso da repórter Hildy Johnson (Rosalind Russell), que tenta deixar a profissão para se casar e “ter uma vida normal”, como ele mesma diz, mas não consegue, a paixão e a vocação que tem para ser jornalista é o que acaba movendo suas ações. Ao mostrar essa dualidade, o filme revela ao espectador a verdade sobre a profissão, suas contradições e sua natureza não muito ortodoxa. Sua enganação está na própria fundamentação e estruturação do cinema. Seus cortes, emolduração, construção do que a subjetividade do autor diz ser o mundo real. Procurando reproduzir o ritmo agitado da vida, Hawks faz filmagens em longos planos, sem cortes, e diálogos hiperativos, o que deixa o filme com um clima tão frenético que, ao terminar, parece muito mais longo que apenas 90 minutos. TAYNARA BORGES

Anônimo disse...

Williams pode ser inocente ou não. De qualquer forma, ele será executado em breve, e os policiais ensaiam sua execução no pátio. A namorada de Williams chega à sala de imprensa aos prantos e se depara com uma trupe de reporteres rufiões que jogam cartas enquanto trabalham. Para todos eles, é importantíssimo que Williams seja executado. Questões políticas e profissionais, nada pessoal. Enquanto Hildy,a jornalista em crise , escolta Mollie, a namorada de Williams, para fora, Mollie clama:
Aren´t they inhuman?. E Hildy, prontamente, responde: I know. They´re newspapermen.
A personagem Hildy, do filme Jejum do amor, quer se tornar humana. Para isso, ela precisa se casar com um corretor de seguros. Precisa ir para o bucólico estado norte-americano de Albany, morar com a mãe do marido. Precisa ter filhos e um jardim para cuidar. Mas precisa, acima de tudo, deixar de ser uma jornalista. A todo momento de Jejum do Amor, Hildy se debate entre ser uma pessoa, um ser humano, e ser uma jornalista. Vários elementos da trama personificam esses dois lados apresentados como antípodas. A sala de imprensa lembra uma sala de bar. A trupe dos jornalistas velhos de guerra jogam cartas enquanto mandam notícias. O prefeito corrupto utiliza dos serviços do jornal para se promover.Mas nenhum desses elementos é tão emblemático quanto a figura de Walter Burns e sua comparação com a de Bruce, o noivo. Editor do Morning Post, ex-marido e futuro ex-patrão de Hildy, Walter fala pelos cotovelos. É irônico, urbano, esperto, inteligente. O novo amor de Hildy, Bruce, é calado, interiorano e devagar. Bruce não tem desenvoltura nenuma, e Walter não tem caráter. A sorte é que Jejum do Amor é uma comédia. Assim podemos rir bastante da imagem terrível dos jornalistas que o filme apresenta, sem nos preocuparmos em nenhum momento se nós mesmos não temos um pouco dessa realidade nas veias. Não é mesmo?
José Eduardo

Anônimo disse...

No começo, de fato, torcemos para Hildy se desligar definitivamente da vida tresloucada e intensa de jornalista. É uma mulher decidida, elegante, inteligente e fugaz (especialmente com seu ex-marido, rsrs). Aos nos depararmos com isso, já estamos devidamente advertidos sobre o que é ser jornalista nestes tempos modernos...
Só que um desafio, aliás, um último desafio se apresenta, e somos convidados a se envolver com Hildy em sua derradeira aventura, que expõe toda sua sagacidade profissional. "Nada mal para um mulher", diriam muitos marmanjos na época. Pois é, mas Hildy está no olho do furacão da modernidade, capturada pela vida frenética, da qual somos todos reféns como ela.

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