quarta-feira, 25 de março de 2009

O leitor

Crítica do filme O Leitorimagemoleitor


Por Reynaldo Domingos Ferreira


Em "O Leitor", o bem sucedido cineasta britânico Stephen Daldry procura mostrar, numa linguagem convencional, mas de bom acabamento técnico, principalmente no que diz respeito às interpretações, o quanto tem sido difícil para os alemães se conciliarem com o passado e como é, da mesma forma, penoso abordar, em termos artísticos, a vida e o amor numa sociedade que se envolveu com o genocídio.

Para tratar dessas questões – momentosas na medida em que coincidem, por exemplo, com a pressão do governo alemão no sentido de que o Vaticano imponha punição, o que já foi feito, aos bispos lefebvrianos que sustentam não haver ocorrido, como se propala, o genocídio de judeus durante a II Guerra Mundial -, Daldry (As Horas) baseou seu filme no bestseller homônimo e autobiográfico, de Bernhard Schlink, colaborador de David Hare, na elaboração do roteiro.

Embora Daldry se recuse a admitir que seu filme – produzido por Anthony Minghella e Sydney Pollack, que morreram durante as filmagens, - seja centrado no Holocausto, o livro de Schlink, jurista alemão, de origem judaica, não nega isso. Ele aborda a questão, de forma direta, não só no julgamento de Hanna (Kate Winslet) por envolvimento no extermínio de judeus nos campos de concentração, como durante os seminários freqüentados pelo protagonista, Michael Berg (David Kross), estudante de direito na faculdade de Heidelberg.

É importante por isso que se dê especial atenção a esses seminários – apesar de constituírem a parte mais fraca, do ponto de vista técnico, do filme e, ao que parece, também do livro -, quando o professor Rohl (Bruno Ganz), motivado pelo caso de Hanna, suscita o debate entre seus alunos sobre questões do tipo: o sentido de culpa germânico e a prevalência da lei sobre a moral na condução de uma sociedade.
E ainda, no intervalo desses seminários, a visita que Michael, abalado por tomar conhecimento do passado de Hanna, faz aos campos de concentração que guardam para a memória de sempre monturos de objetos de pessoas ali sacrificadas, captados em tonalidade pictórica pelas lentes de Chris Menge e Roger Deakins, indicados ao Oscar, sequência essa dispensável, a meu ver, se o filme, como quer seu realizador, não se centrasse no Holocausto.

A película se inicia em Berlim, em 1995, quando Michael Berg (Ralph Fiennes), bem vestido, prepara um café da manhã para uma mulher, Brigitte (Jeanette Hahn), que passou a noite com ele e deve sair em seguida. Pelas insinuações dela, percebe-se que Michael é pessoa problemática, o que se vai confirmar mais tarde ao se saber que, por ser de gênio muito fechado, ele não aturou o casamento, e a filha, Júlia (Hannah Heurzsprung), reclama por não conhecer nada sobre sua vida. Em flashback muito bem inserido, a narrativa regride ao ano de 1958, em Neustadt, quando Michael, de quinze anos, ao retornar da escola, sob a chuva, sente-se mal do estômago e vomita na entrada de um edifício, sendo prontamente atendido por uma mulher, Hanna, de atitudes rudes, grosseiras, que o leva até o cubículo, onde mora, tratando-o até que se restabeleça. Ao voltar para casa, Michael relata o acontecido aos pais Thomas Berg (Florian Bartholomai) e Carla Berg (Susanne Lothar), que chamam o médico para verificar o que há com ele.

Diagnosticado como sofredor de escarlatina, Michael se vê obrigado a ficar de repouso, sem ir à escola e isolado dos irmãos Peter (Mathias Habich) e Ângela (Friederika Becht). Só depois de algum tempo, ele volta à casa de Hanna, com algumas flores para lhe oferecer.
A partir de então tem início o envolvimento amoroso de Michael e Hanna, que se revela aos olhos do jovem como muito sensual. Tanto pela técnica narrativa como pela abordagem da psicologia do adolescente no momento de sua iniciação sexual, o caso lembra o de François (Gérard Philipe) e Marthe (Danielle Darrieux), em Adúltera, de Claude Autant Lara, baseado no romance O Diabo No Corpo, de Raymond Radiguet. A diferença reside no fato de Hanna se interessar pelas leituras que Michael lhe faz de obras literárias famosas antes dos relacionamentos amorosos.

Empolgada por textos como a A Odisséia , de Homero, O Amante de Lady Chatterley, de Lawrence ou A Dama do Cachorrinho, de Tchékhov, com os quais se emociona às lágrimas, Hanna não poderia fazer crer a Michael naquelas circunstâncias – de acordo com as reflexões por ele feitas anos mais tarde – de que seria capaz de ser, um dia, responsável por tantas atrocidades.
Contando por essa interpretação de Hanna com cinco indicações ao Oscar aos trinta e quatro anos de idade, Kate Winslet confirma, uma vez mais, ser uma atriz de completo domínio da técnica de interpretar, embora não esteja, a meu ver, tão bem como esteve em Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes. Desta feita, ela encarna a complexa personagem com muita determinação e vigor, fazendo com que o destaque de sua caracterização se posicione principalmente na maneira de Hanna caminhar, como se lhe pesasse o fardo da vida.

Ralph Fiennes, Bruno Ganz e Lena Olin, como sempre, estão perfeitos em suas atuações, mas a grande surpresa do elenco é David Kross que, como o jovem Michael Berg, se destaca numa interpretação que arrebata, justificadamente, inúmeros prêmios internacionais, como os mais recentes, os dos críticos de Las Vegas e de Chicago. Ao se apresentar para os testes, Kross tinha dezesseis anos. Mas foi só depois de completar os dezoito que pôde rodar as cenas de nudismo e de relacionamento seate Wxual com Kinslet. É um ator realmente de muito talento.

* Publicado no blog "Café com política".


1 Comentário

Anônimo disse...

ESse filme é um elogio sutial ao nazismo?
(Orlando Nardo)

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