Inácio Araújo*
Parece que o século 21 vai ser o da falência da ficção.
Qualquer história se anuncia como "baseada em fatos reais". O que significa: tudo o mais é irreal, é falso.
É o reverso do cinismo contemporâneo. Reverso e complemento.
Vejamos "Os Falsários". Por que fazer tanta questão de ser "b.f.r."?
Porque se aquele sujeito não for realmente um falsário, é como se faltasse um chão à história.
Mas o que vende este filme doentio é outra coisa: quase todo ser humano é capaz de qualquer baixeza para sobreviver.
Então, o fato real está é a serviço de idéias muito específicas.
Vou dizer o que não é real, não é b.f.r. nessa história. A música.
A música base é "Mano a Mano". Sim, porque o que se vê é judeus e nazistas, mão na mão, num verdadeiro namoro.
Este filme é de uma indecência exemplar.
De novo, serve para lembrar o quanto Godard tinha razão: Spielberg reabriu Auschwitz.
Ou, ainda melhor, o Samuel Fuller: não se pode reconstruir os campos de concentração, pois ninguém faria melhor que os nazistas.
Os fatos que existiram podem até ter sido reais. A ficção em torno deles sugere que a baixeza humana é infinita, que a baixeza dos nazistas só tem correlato na daqueles que buscavam sobreviver a todo custo. Foi isso que vi no filme, pelo menos, e que me parece indecente.
No mais, o ator principal é ótimo.
* Inácio Araujo é crítico de cinema da Folha de SPaulo.
1 Comentário
Senhor Inácio,
Não se esqueça!
Os judeus foram vítimas mas estão longe de serem bonzinhos. EStou cansando de ver histórias sobre o Nazismo. O filme é muito ruim e apelativo. O senhor tem razão quando afirma da baixeza do roteiro.
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