Por que a pipoca é mais cara que o ingresso?
Mateus Barros*
Por que a pipoca no cinema chega a ser mais cara que o próprio ingresso do filme?
Este tema é um bom ponto de partida e será base para vários assuntos que serão discutidos aqui.
Quando me deparei com essa pergunta a primeira coisa que me veio em mente foi: quando o cliente paga o ingresso e entra no cinema ele possui somente uma opção para comprar pipoca, isto é, estamos diante de um monopólio, logo o proprietário pode cobrar o preço que quiser. Isso de certa forma é verdade, mas é só isso? Pensando que o objetivo do proprietário é maximizar o lucro do seu negócio por que ele não poderia cobrar pelo uso dos banheiros dentro do cinema? Ou melhor, para atrair mais clientes por que não vender a pipoca a preço de custo e compensar a diferença vendendo o ingresso um pouco mais caro?
Podemos dizer que os proprietários do cinema estão com uma estratégia de precificação sub-ótima? Muita pretensão visto que eles devem conhecer e tocar o negócio melhor que nós. O que então eles sabem que não sabemos?
O economista Steven Landsburg tem a resposta:
“Alguns clientes gostam mais de pipoca do que outros. Pipoca barata seria um atrativo para os amantes de pipoca que estariam até dispostos a pagar a mais pela entrada do cinema. Mais para ter lucro com essa estratégia o proprietário deveria aumentar o preço do ingresso e espantariam aqueles que estão dispostos somente a ver o filme. Se não houver amantes de pipoca suficientes para compensar, essa estratégia será um tiro no pé.
A razão de vender a pipoca cara não é extrair mais de todos os clientes. Essa proposta seria melhor atendida vendendo pipoca barata e ingressos caros. Na verdade a razão da estratégia da pipoca a um preço elevado é obter diferentes lucros de diferentes tipos de clientes. Amantes de pipoca terão mais diversão no cinema comendo pipoca e portanto pagarão mais para terem este prazer.”
Com certeza os proprietários conhecem o seu negócio melhor que nós. Se os seus clientes forem em sua maioria cinéfilos dispostos a pagar muito mais pelo ingresso então a estratégia mais rentável seria vender ingressos caros com pipoca barata. A grande verdade é que o objetivo de qualquer proprietário não é definir um preço alto e uniforme para todos os clientes e sim associar um preço a cada grupo de cliente.
O proprietário não consegue separar os amantes de pipoca quando eles ainda estão na fila do cinema prestes a comprar o ingresso. Ele não quer também espantar os mais sensíveis a preço da fila dos cinemas com um alto valor de ingresso. O que de fato ocorre é que ao comprar o ingresso o cliente passa a ter a oportunidade de apreciar o filme ou apreciá-lo com pipoca.
Alguém deve está se perguntando sobre a opção de cobrar pelo uso dos banheiros... você iria em algum cinema que cobrasse?
Sejam bem-vindos ao mundo da precificação.
* Mateus Barros é do blog Precificação.blogspot.com
21 Comentários
Pessoal,
O Lisandro tirou uns dias de férias. Eu estou administrando o blog nesse período.
A principal razão para as pipocas e refrigerantes (e outros lanches) superfaturados é outra: a receita dos ingressos é dividida entre a sala exibidora e a distribuidora. A receita dos lanches, não.
O percentual dessa divisão depende de quanto tempo o filme está em cartaz: nas primeiras semanas, a fatia da distribuidora é altíssima. Essa fatia decresce semanalmente (por isso, as salas de exibição adoram fenômenos como Titanic).
Se dependesse de mim, a pipoca deveria ser até mais cara, nem sei quem teve a infelicidade de combinar cinema com pipoca.
A pipoca incomoda muito quem quer ver o filme...
Pipoca e cinema é uma mistura perfeita. Só não é perfeito o preço que a pipoca é cobrada nos cinemas. Simplesmente é muito cara, assim deixo de comprar a pipoca, mas não de ver o filme. A pipoca não me incomoda, posso comê-la em casa vendo um filme e sai mais barato e do jeito que quero.
Eu só compro pipoca quando assisto a filmes como o Harry Potter. Combinação perfeita, sem dúvida. Mas em outros filmes, como disse o Blog da Confraria, a pipoca só atrapalha!
Odeio pipoca em qualquer situação. O refrigerante podia ser mais barato, mas eu levo a latinha escondida na mochila.
Pipoca é um alimento nocivo e sedutor. Mas não sei porque inventaram essa combinação cinema e pipoca. O Pedro selecionou esse post e levantou uma questão interessante: a imagem do cinema está completamente vinculada ao alimento pouco saudável.
Referência dessa informação da pipoca e das porcentagens da distribuidora:
THOMPSON, Kristin. The Frodo franchise: the Lord of the rings and modern Hollywood. University of California, 2008.
Bom dia!! Esse texto é bem capitalisa; ele defende o indefensável e quer justificar o óbvio, a exploração desenfreada. Esse é o problema. Tudo é caro: o ingresso, a pipoca, o estacionamento, o café, a comida das praças de alimentação.
Há cinco séculos que a maior parte do mundo (ou todo mundo?) se organiza em torno do lucro. Por que nos espantamos ainda? Ou, por outro lado, por que apenas um ou dois conseguem se espantar?
Viver é caro. Cinema ainda é luxo para a maioria esmagadora da população. Pipoca em cinema então nem se fala.
Existe exploração que não seja desenfreada?
Senhor Jeferson,
desculpe mas existe sim a "exploração desenfreada". Ora, qual o motivo para tanta ganância. Sim, é possivel ganhar dinheiro. Mas não precisa ganhar em demasia.
Sr. Edigar, em nenhum momento afirmei não existir a exploração. O que tentei mostrar com a minha pergunta é que qualquer exploração do homem pelo homem, independentemente da intensidade e da razão, é absurda, é desenfreada. Gana não seria a palavra exata, o mal do mundo e das pessoas que o habita seria de outra ordem. Se é possível ganhar dinheiro? sim, certamente. Porém mais que possível, é necessário. E nisso reside todo perigo. Não se ganha dinheiro, se transfere, alguém precisa ganhar mal para a manutenção do status quo. Então o Capitalismo é ruim? Diria que é, mas não para todos. Só que o problema maior não é esse, o ploblema maior é que o capitalismo não existe mais. O capitalismo existia em detrimento de outro sistema. Quando ele entrou no palco sozinho e absoluto, ele deixou de ser uma possibilidade, um conceito nos livros didáticos, e virou o dia-a-dia das pessoas, a realidade em que eu e vc vivemos, cheia de pipocas e cinemas caros.
abraço
Rodrigo, é porque Harry Potter é filme do gênero pra-vender-pipoca. fica logo ao lado da prateleira de Ação nas locadoras, sem erro.
Senhor Jeferson, mas vivemos sob o mando do capitalismo. Não é porque ele reina que tenho q. abaixar a cabeça. É uma realidade, concordo com o senhor. Por outro lado, acho sua visão demasiadamente conformista.
Resignação e resistência ainda fazem algum sentido? Nãõ, acho que não. Abaixar a cabeça ou levantá-la não está mais em jogo. Quando se leva isso em conta, cai por terra toda noção de conformismo ou rebeldia.
Agora a moderação não, sejamos canalhas, ingenuos, esperançosos, hipocritas, mas nao moderado, o nao meio termo.
Talvez o senhor consiga viver conforme as leis do sistema e ser ideologicamente um subversivo, um inconformado, isso sem dor de cabeça nenhuma. Talvez essa postura consiga confortá-lo um pouco, acalentar sua consciência.
Pragmatismo, senhor Edigar, pragmatismo.
Eu, ao contrário, sou o canalha. Mas o canalha consciente, que vive na contradição entre seus atos e pensamentos. O canalha que sabe que seu único defeito é a obrigação de ser canalha.
Conformista, talvez. Mas pelo menos tenho ciência disso, é o que me salva.
Em suma, não há como ser palmerense estando no meio da Gaviões, no meio de milhares de conrinthianos doidos para matar um alvo-e-verde. É preciso tirar a camisa, dobrá-la, guardá-la bem guardade, sentar num canto do estádio, e esperar o final da partida.
Chegamos tarde senhor Edigar. Ou cedo demais.
Quando digo conformista não é no sentido de colocá-lo, senhor Jeferson, em situação de constrangimento. Mas não sei sua idade, mas tenho receio dessa idéia que está se tornando comum de achar tudo muito natural. Ora, a pipoca é cara mesmo e a exploração é desenfreada. Antigamente os jovens protestavam. Hoje acham tudo "pragmático".
E eu que nem imaginava que um tema de pipocas e cinemas pudesse chegar a uma discussão sobre conformismo, pragmatismo e capitalismo.
Bendita pipoca!!
Senhor Edigar, não fiquei constrangido, apenas instigado. E isso é sempre bom. Minha idade não é importante. Não quero discutir a idade das pessoas, apenas suas ideias. O senhor falou tudo, antigamente era possivel protestar, tinha-se um alvo, existiam possibilidades, escolhas. E hoje, qual é o nosso alvo? Contra quem devemos lutar? A que causa devemos aderir? É difícil saber. Talvez isso explique um pouco a apatia que consome nossos jovens.
Perdemos as nossas referências. Vivemos num mundo onde tudo é possível e nada é importante.
De fato, o tema simplório como o inicial acabou destranbelhando por várias veredas.
Nunca mais comeremos pipoca da mesma forma?
Pessoal, como autor do post nunca imaginei que ia causar tanta polêmica!
Obrigado Lisandro, pela citação.
Concordo que o texto foi capitalista, mas sem querer colocar lenha na fogueira... quem decide abrir um negocio, precisa do lucro para sobreviver e a pipoca no cinema é cara porque existem pessoas dispostas a pagar pelo preço premiun. O capitalismo é assim, lei da oferta e da demanda.
Saudações
Mateus
PS1: Quando vou ao cinema não compro pipoca.
PS2:Quem tiver interesse no tema é só visitar www.precificacao.blogspot.com
Olá Mateus,
Nem eu imaginei!!!. Quando colocamos o post, achamos a abordagem muito interessante.
Seu texto ficou bom e mostrou sua opinião de forma clara. Vou continuar passeando junto com Pedro no seu blog.
Um abraço Mateus.
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