domingo, 5 de julho de 2009

"Simonal" até o dia 14 de julho,

* ACOMPANHE O DEBATE NOS COMENTÁRIOS ABAIXO DO TEXTO.

* O FILME FICA EM CARTAZ ATÉ DIA 14 DE JULHO, TERÇA-FEIRA, NO CINE LUMIÈRE, SHOPPING BOUGAINVILLE. SESSÃO ÀS 19H.





O resgate do Rei do Suingue

Marco A. Vigário - especial para o blog*


A melhor parte de “Simonal — Ninguém Sabe o Duro que Dei” está no uso competente de imagens de arquivo[em cartaz às 15h no Cine Lumière]. Graças a um notável trabalho de pesquisa, seleção, corte e mixagem, o protagonista do filme — cantor de grande sucesso nas décadas de 60 e 70 — é reconstruído na tela em todo o seu carisma e talento, suingue e irreverência. Bastam alguns minutos de projeção para que a plateia se entregue ao embalo da “pilantragem” de Simonal, balançando a cabeça e batendo o pé na cadência gostosa da mistura entre samba e soul.

O trabalho de pesquisa histórica é reunido, pela montagem, a interessantes interferências gráficas a uma de série de entrevistas que informam e contextualizam as imagens. Em seus bons momentos, esses depoimentos acrescentam carga dramática ao filme, na medida em que amigos, inimigos, familiares e observadores dos acontecimentos expõem sentimentos ligados ao protagonista e à época.

Isso tudo se dá na primeira metade de “Simonal”, quando o documentário se dedica a representar o crescimento vertiginoso da carreira do cantor. Na segunda metade, a coisa muda de figura. Ao abordar os motivos que levam à queda do Rei do Suingue, o documentário que tendia até então para o musical assume agora o ar de investigação jornalística, que tem os seus problemas.

O maior deles é que esbarra no limite da entrevista. Como instrumento de coleta de informação, a entrevista é um procedimento tão rico quanto precário. Não raro, diz mais sobre o entrevistado que sobre o assunto da conversa. Parece ser justamente isso o que acontece em “Simonal”. Sem conseguir se aprofundar num processo de apuração efetivo, o filme se apoia num choque de versões que é insuficiente para estabelecer a culpa ou inocência do cantor (e esse nem deveria ser o caso). Expõe, isso sim, a leviandade de muita gente envolvida na história.

É preciso relevar o discurso moralizante, bem como compreender certo conservadorismo estético e baixa autorreflexividade, para detectar em Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei uma contribuição inquestionável: ao olhar com carinho para esse personagem marginal, o documentário certamente ajuda a resgatar a história e a importância do intérprete para o contexto da música brasileira.

* Marco A. Vigário é jornalista, autor do blog primeiroplano.blogspot.com.

26 Comentários

Prof. Edigar da UEG disse...

Vi o filme ontem. Sinceramente, acho que ele foi um um dedo-duro mesmo. E não concordei com o comentário do professor Lisandro na TV: o filme tenta resgatar um ídolo com sérios problemas de caráter. O Marco Aurélio tem razão quando afirma que o grande mérito é sua pesquisa histórica com imagens ricas de arquivo.

Lisandro Nogueira disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

Blog da Confraria disse...

Olá Marco...

É muito bom ver mais um texto seu aqui e ver que você está cada vez melhor nas suas observações. E obrigado Lisandro pelo comentário no blog e te vi no estádio na sexta-feira, na saída, porém, foi muito rápido que não tive como cumprimentá-lo. Apesar do empate eu acho que o time ta melhorando e chegaremos la.

Eu vi o filme hoje no Bougainville. Primeiro eu quero dizer que ta um problema sério naquele cinema com o isolamento acústico das salas.

Eu penso que o filme tentou resgatar essa figura "marginal" do Simonal e acho também que tanto a esquerda como a direita foram muito duro com ele. Não só o Ziraldo não fez a mea culpa, mas também o Jaguar.

Achei um excelente filme.

Lisandro Nogueira disse...

Olá prof. Edigar,

Meu comentário na TV não concorda com o seu comentário aqui; penso que Simonal foi vítima das questões da direita e da esquerda no período. O silêncio de todos esses anos (1972 até sua morte - 2000 -) demonstra como as "patrulas ideológicas" agiam para "punir" alguns e idolatrar outros. Os depoimentos de seus filhos no documentário demonstram que Simonal foi muito além de um "cantor deslumbrado". Simonal teve maturidade para encaminhar os filhos e pagou um preço altíssimo por se expor, naquele momento, de forma atabalhoada, arrogante e ingênua.

Outra coisa: há muita gente, ainda hoje, tanto na direita como na esquerda, que tem ar de democrata, porém, contribuiu bastante para as coisas serem ainda piores.

Simonal foi usado pelos dois lados. Sua vida foi uma tragédia e demonstra que os regimes brutos são terríveis e massacram mesmo; mas existem tb. aqueles que, em nome da derrubada desses regimes, são igualmente brutos e fascistas. E, caso tomem o poder, terão as mesmas atitudes brutas dos militares.

Simonal foi um cantor ímpar: cantou bossa nova e música jovem, encantou multidões e ficou "besta" com o sucesso. E mais: foi perseguido tb. nesse episódio, pela direita e esquerda, porque era negro e pobre. Ele não tinha a rede de simpatias e privilégios que os outros tinham: Maria Betânia, por exemplo, tinha amigos próximos dos militares: conseguiu que Caetano não sumisse no cativeiro e depois fosse para o exílio; Chico Buarque, aristocrata, conseguiu sair ileso e foi parar na Itália. E fizeram certo todos eles. Se ficassem seriam engolidos pelo regime duro.

Simonal, pobre e sem amigos importantes, se envolveu com "gente canalha e cruel" da ditadura e foi usado no episódio.

Prestem atenção nas entrevistas cínicas do Ziraldo e do Jaguar: eles não tiveram a coragem de fazer um verdadeira mea culpa. Jogaram m.. no ventilador naquele momento e ficou por isso mesmo; prestem atenção no comentário do Arthur da Távola...grande filme.

Para terminar uma pergunta que o filme não responde: até hoje ninguém apareceu para dizer que foi dedurado pelo cantor. Os diretores do filme não quiseram entrevistar os artistas da época, ainda vivos? Tentaram essas entrevisas mas não conseguiram a fala de Chico Buarque e outros?

"Simonal" é um documentário para não esquecer: todos os lados oprimem e não há clemência. Se consideram donos da história e da verdade. A verdadeira democraica ainda caminha a passos curtos no Brasil.

05/07/09 19:47

João Fantini disse...

Simonal foi "queimado' por uma parte da esquerda, que a exemplo da direita na época, não admitia qualquer pensamento próprio ou diferença (as chamadas patrulhas ideológicas).

Por outro lado, muita gente que foi
caregada nas costas como herói da resistência contra a ditadura (aí
mesmo, em goiânia) talvez merecesse também uma revisão séria e um mea - culpa de alguns.
O "ame-o ou deixe-o" não era exclusivo da ditadura. Quem viveu aquela época e tentou pensar com a sua cabeça tem péssimas lembranças à direita e à esquerda.
joão fantini

Fernando Pires disse...

Oi Lisandro,

O blog da confraria tem razão: a acústica do Lumière é muito ruim. Atrapalhou eu e minha mulher ouvirmos as músicas do filme.

O texto do Marcus Aurélio é bem sintético e expressa o que eu vi. Quero ver de novo porque é muita informação.

Lisandro Nogueira disse...

Olá Fernando,

A acústica do Lumière é um desastre. Já disse isso publicamente; já conversei com o proprietário; enfim, temos que ter paciência.

Marco escreve bem e de uma forma bem pensada para o formato do blog.

Um abraço,

Lisandro

Riccardo Joss disse...

O marcos podia deixar claro de quem são os depoimentos levianos do filme.

Túlio Moreira disse...

Olá, professor!

a respeito de seu comentário no meu blog, realmente não posso formar na Facomb sem pegar essa disciplina... ela será oferecida no próximo semestre?

um abraço!

Lisandro Nogueira disse...

Olá Túlio,

a) Vou ministar uma disciplina para duas turmas: uma no Campus 2 e a outra na Praça Universitária. A primeira nas segundas-feiras, 9:30h; a segunda, nas terças-feiras, 17:30h, no miniauditório da F. de Odontologia. Assunto: "Seminário sobre Análise de filmes";

b) Viu o filme do Simonal? Fica em cartaz até a próxima quinta-feira, dia 9 de julho.

Afonso do TRE disse...

Prezados blogueiros,

A cena do Simonal com a Marilia Pera é simplesmente antiracista: ela diz que não gosta dele mas acaba se entregando totalmente e o simpático negão ouve e ganha a branquinha burguesa.

Os jornalistas, sempre donos da verdade, deveriam ver aquela cena que um deles pergunta para Simonal: "o sucesso te deixou mascarado?". E ele responde ao jornalista branco, de esquerda, preconceituoso, politicamente correto, imbecil, dono da verdade: "EU SEMPRE FUI MASCARADO".

Em seguida vem o tributo a Martin Luther KIng.

Pedro Vinitz disse...

Ei, seu Afonso, pega leve!! Sua observação sobre os jornalistas não confere com o que está no filme. Isso é apenas ressentimento da sua parte porque o blog, de vez em quando, comenta sobre o Judiciário.

Túlio Moreira disse...

olá professor!

conte comigo para essa turma da segunda, 9:30h.

quanto ao filme, estou com vontade de ver! se rolar, comento aqui no blog!

abração!

Anônimo disse...

Neste endereço, algumas verdades sobre o epsodio
http://www.paginadoe.com.br/home/post/3002

Blog da Confraria disse...

Achei curioso e muito engraçado o depoimento do Pelé sobre a seleção na copa de 70, uma brincadeira que eles fizeram com a possibilidade do Simonal jogar na seleção, o cara encarou o treinamento (ficou uns 10 minutos) com o propósito de jogar mesmo.

Mais uma prova da sua arrogância e ingenuidade...

Alto Paraíso disse...

Lisandro, o SIMONAL FEZ PARTE DA MINHA JUVENTUDE EM RECIFE, DANÇAMOS MUITO COM SUAS MÚSICAS NOS ASSUSTADOS QUE ERAM FESTAS SURPRESAS EM CASA DE AMIGOS(A), FOI UMA ÉPOCA MUITO LINDA E DE MUITA CURTIÇÃO.
TERMINEI DE LER DOIS LIVROS QUE TE RECOMENDO, O VENDEDOR DE SONHOS E NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS DO ESCRITOR AUGUSTO CURY, ACREDITO QUE UM FILME SOBRE O VENDEDOR DE SONHOS IRIA SER SUCESSO TOTAL.
ABRAÇO DO AMIGO E IRMÃO, MESMO SEM NOS ENCONTRARMOS PARA TOMAR AQUELE CHOPE TÃO PROGRAMADO.
UM GRANDE ABRAÇO COM AMOR E ALEGRIA.
MIGUEL.

Lisandro disse...

Caríssimo Miguel,

Entro em férias na segunda-feira e entro em contato para o nosso chopp. Ganhei três CDs com músicas do Simonal(bossa nova e o balanço inconfundível) que vamos ouvir juntos.

Lisandro Nogueira disse...

Olá Carlos (blog da confraria):

O Pelé é meio estranho: ele cobra no filme o apoio dos artistas ao Simonal; mas ele mesmo não fez nada, se omitiu, se escondeu. A cena dele cantando com Simonal no México, em 1970, é muito tocante.

Fiquei impressionado com o depoimento do Arthur da Távola descrevendo um tipo de jornalismo que, sem compromisso, começa apontando indícios vagos, condena sem provas e, no final, entrega o sujeito para o lixamento público.

Candido Cesar disse...

Esse filme me fez lembrar do tanto de dedos-duros que há em Goiás. Era hora de uma revisão, tanto a esquerda quanto à direita, desses personagens da política goiana que estão ainda por aí vivos, em Tribunais de Contas e outras entidades. Os verdadeiros apoiadores do regime militar estão silenciosos, cuidando do seu vil metal, velhos, com medo do juízo final e com a cabeça pesada de pavor diante do horror que virá a seguir. Apesar de marxista, acredito que o preço pela traição é tão pesado que entra no campo espiritual.

Um grande filme, um grande cantor e uma vítima da história.

Marco A. Vigario disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marco A. Vigario disse...

Olá, amigos!

Obrigado pelos comentários. Estou nesse exato momento em passagem por Copacabana, na Bolívia, e mesmo embasbacado com esse lindo Lago Titicaca nao consegui deixar de lado a curiosidade por passar aqui e saber que estavam achando do texto.

Respondendo a pergunta do Joss: acredito que houve, na oportunidade, leviandade de muita gente envolvida na historia. O Ziraldo e o Jaguar sao dois deles e, nesse aspecto, concordo com o Lisandro: eles nao fazem um mea culpa de fato.

Mas o proprio Simonal contribuiu pra o problema, dando declaracoes que nao lhe ajudaram em nada.

Minha intencao, no entanto, é menos discutir a história que a abordagem do filme em si.

Um abraco a todos - e em especial ao Carlos, do Blog da Confraria, e ao Lisandro, grandes amigos!

Jeferson Araujo disse...

Prof. Lisandro, apenas uma informação: Chico Buarque e Caetano Veloso, já estavam de volta ao Brasil em 1972. O regime era duro e censurava. Mas esses dois, por exemplo, tiveram ampla liberdade para circularem pelo país fazendo shows - inclusive em Goiânia em 1973 os dois estiveram aqui.

Então o regime não foi assim tão duro com eles que tinham a tal "rede de simpatias e cobertura familiar, midiática e de classe social".

No mais, 90% da população brasileira estava entusiasmada com o país e com o regime. É quase como hoje. A podridão do Congresso viceja e os partidos brigam entre si. A maioria, a massa, não está nem aí, quer mesmo é comprar se celular, sua casa própria e tomar cerveja. Quem gosta de política, desculpe professor, é intelecual.

Rodrigo Cássio disse...

Caro Jeferson,

Você supõe, com isso, que o "gosto pela política" é responsável por afastar os indivíduos do debate público e da preocupação com a coletividade? O problema não estaria, antes, no sentido de "política" que rege o nosso tempo?

Que o milagre econônomico tenha entusiasmado a muitos não é nada surpreendente. Ele serviu justamente para que houvesse esse entusiasmo popular, sustentando o "social" como o âmbito do sucesso do indívuo, da modernização, do progresso capitalista. O mundo moderno atua para que o homem não se ocupe da política: da burocracia ao fetiche das mercadorias, essa é a normalidade desejada.

Logo, não penso que seja o gosto das massas, nem dos intelectuais; a não ser que entendamos esse gosto a partir da sua funcionalidade ideológica, isto é, da sua completa falta de autenticidade.

Rosana, amiga da sua mãe disse...

Era professora primária na época. Morava no centro e o Brasil já era a promessa que se realiza hoje, começando a ser a grande potência.

Só posso dizer que me emocionei bastante com o filme. Aos 65 anos de idade, aqueles músicas me trouxeram uma época muito alegre. Vivíamos um período, no mundo todo, que o futuro seria radiante e promissor. As promessas eram muitas. Raras pessoas estavam preocupadas com ditadura militar. Não posso negar: era um período muito feliz e a utopia estava começando a ser realizada. Se Simonal era ingênuo, todos nós éramos também bobinhos. Mas a promessa de felicidade estava ali na esquina e isso era o suficiente.

professora Rosana disse...

Lisandro,
esqueci de dizer. Meu neto me trouxe na Lan House. Nunca tinha entrado. Fui amiga da sua mãe, da Sanduca e do pessoal da 74. Um abraço meu e do Adriano, meu neto.

Lisandro Nogueira disse...

Olá Rosana,

Lembro muito de você. Gostava de cantar e sempre muito alegre. Tenho boas recordações daquela épooca. Um grande abraço e apareça sempre por aqui.

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