Um Beijo Roubado traz logo no início a boa surpresa de não ser um road movie normal – ou de simplesmente não sê-lo. No lugar de expandir o campo cinematográfico e banhar de sol uma estrada retilínea do oeste americano, Wong Kar Wai instala o coração partido de Elisabeth (Norah Jones) em noturnos espaços fechados, povoados inicialmente por sorrisinhos de Jude Law.
Aparentemente, os bons e maus momentos desse filme irregular distribuem-se em intervalos variados, em duas metades bem divididas. A primeira parte vem conduzida com uma embriaguez daqueles slows “poéticos”, talvez a mais célebre trademark do cineasta, aqui com o pé enfiado no (des)acelerador.
Essa primeira parte – e talvez o filme inteiro – sofre ainda com a fragilidade da história e as atuações de Law e Jones. E por sua vez, Rachel Weisz não vai além de um aquecimento para entrada de Natalie Portman, já lá pelo meio do filme.
Perto da interessante felinidade de Portman, Weiz parece ter começado a construir seu personagem com as duas mãos assanhando os cabelos. Um Beijo Roubado racha-se portanto em duas metades desiguais, bem no momento em que Leslie (Natalie Portman) senta-se na mesa do cassino onde Elisabeth tem um dos empregos que viabilizam e pontuam sua viagem-terapia.
“É um filme de cinéfilo”, contou Wong Kar Wai à revista Cahiers du Cinema. De fato, é realmente um filme repleto de citações, sobretudo à própria obra do diretor: parte de um próprio curta-metragem para construir esse longa ou recicla o hit de Amor à Flor da Pele (2000) em versão “guitarra-texana” por Ry Cooder - passando ainda por outras interessantes piscadelas ao espelho.
Há também, de alguma uma forma, um pouco de uma das facetas de Wenders em Um Beijo Roubado. Além de Ry Cooder, do filme se passar nos EUA e do esboço de busca pelo pai/mãe (Leslie-Portman), há um curioso personagem desimportante que se chama Travis, ainda que semelhança aí não vá muito além do nome. Mas se tomamos a Leslie de Natalie Portman como uma viável encarnação do relato de Nastassja Kinski em Paris Texas (1984), temos nesse dia de abertura mais uma declaração de amor a uma Palma de Ouro, e nesse caso uma das mais queridas da memória do Festival de Cannes.
Há ainda outras tentativas de dribles interessantes em Um Beijo Roubado. Ter Norah Jones cantando no filme certamente teria sido uma má idéia; talvez não. O fato é que Jones tem algo mais de Judy Garland além da aparente fragilidade e da leve semelhança física entre as duas.Como bem notou Kleber Mendonça Filho, Wong Kar Wai parece seguir protegendo atentamente a viagem de sua Elisabeth/Dorothy, lembrando como George Cukor não larga a mão da personagem de Garland em A Star is born (1954), para não citar logo O Mágico de Oz (1939). Assim, esse novo filme de Wong Kar Wai está agradavelmente mais perto da tempestade que leva para além do arco íris que da foto de um terreno vazio no Texas. E se os sapatinhos vermelhos dão lugar a tortas de framboesa, a fotografia de Darius Khondji, que vai um pouco além de exercer a franquia de Chris Doyle, tem todas as 7 cores, inclusive o roxo.
* Serviço: Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights), de Wong Kar Wai (EUA, 2007); em cartaz no Cine-UFG - campus 2 - sessões 12 e 17:30h.
* Leonardo Sette é crítico da revista Cinética.
64 Comentários
Pessoal,
Esse filme é lindo demais. A fotografia é equilibrada, os atores oscilam aqui e ali na interpretação, a música é memóravel e não tem como lembrar do estilo do Wong: cenas fixas de puro estilo próprio.
Eu gostei vou tê-lo em DVD. Sobre o texto: acho-o pretensioso e não sei os porquês do Lisandro publicar esses artigos dos conhecidos dele dessa tal revista Cinética.
Professor Lisandro e colegas,
acho que falta uma uma análise do filme Apenas Uma Vez (Once), que foi contemporâneo do Beijo nos cinemas.
Apenas Uma Vez é um musical muito diferente daquele formato broadway-mamma mia, sem falar que tem uma trila que vale o download na internet, especialmente para envolver alguns casais.
Está dada a sugestão.
Sobre os editais da Câmara Municipal, Lisandro, eles acabam lascando é a gente. E com a mesma lógica da CPMF.
Um abraço!
Prof. Lisandro,
Não conhecia o Cine-UFG: muito bom e confortável.
O filme é um primor e delicado mesmo. Sai do cinema com a sensação de que a sensibilidade é tudo na direção e fotografia de um filme.
Amigos,
O filme do Kar Wai é mesmo bom. Mas, para quem gosta e acompanha o cinema, não deixa de ser frustrante que um dos melhores filmes em cartaz na cidade seja de 2007, quando outras obras tão ou mais importantes, lançadas recentemente, continuam inéditas por aqui.
Os bons filmes do Cine UFG deixam escancarada a fragilidade da programação dos nossos grandes cinemas. Mesmo o Bouganville, que historicamente alimentou uma demanda alternativa aos blockbusters, dá sinais nos últimos meses de uma mudança de perfil. Toda sexta-feira é uma nova decepção, e continuam inéditos em Goiânia as produções recentes de cineastas contemporâneos essenciais, como Lucrecia Martel, Apichatpong Weerasethakul ou Albert Serra.
No que diz respeito ao cinema brasileiro, apenas com o Perro Loco poderemos conferir "Anabazys" e "Canção de Baal" (e não me espantará se estes filmes não voltarem tão cedo para a cidade). Não fosse o Cine UFG, a Cleópatra de Bressane ainda estaria inédito. Já o filme do Tonacci, a mesma coisa: só o assistimos nos festivais (Perro Loco, Fica).
Antes, as obras de menor apelo comercial ficavam em cartaz ao menos por uma semana (como o último filme do Mojica, se não me engano, no Flamboyant). Assim, o público desse cinema poderia correr e conferir. Mas, ultimamente, anda faltando até mesmo essa semana de "arejamento" em relação ao "cinema digestivo" (expressão de Glauber Rocha).
Sugiro que o blog atente para isso, e defenda a permanência de um espaço realmente cinéfilo na cidade. Os leitores interessados na melhoria da nossa programação, que se manifestem. Eu realmente ando chateado com essa carência, cada vez maior, e temo que o que antes era apenas uma desatualização da nossa parca cinefilia se transforme em completa inexistência. Ao menos a cinefilia que ainda gosta de ir ao cinema, assim como aos cineclubes ou festivais ("zonas de exclusão" onde ainda é possível assistir a filmes relevantes).
Rodrigo,
Enviei um email para o Lumiere cobrando exatamente isso; a TV Anhanguera, a meu pedido, fez uma reportagem. Vou tocar nesse assunto no meu comentário na TV.
MInha luta contra essa falta de bons filmes dura 28 anos. É sempre uma batalha.
O Lumiere prometeu aquecer a programação. Mas ele cobra q. as pessoas frequentem mais esse tipo de filme. Em parte ele tem razão. As pessoas abandonam as salas de cinema.
O Cine-UFG é um exemplo: o público ainda é pequeno. Devemos todos nós continuar lutando por uma boa programação.
Olá Bennia,
Não vi esse filme. Você poderia fazer um comentário dele aqui no blog. aguardo!!
Olá Bennia,
você poderia fazer um comentário sobre esse filme, "apenas uma vez". Não o vi. aguardo!!
Aos leitores do blog, insatisfeitos, como eu e Lisandro, sugiro que se expressem no site do Cinema Lumière:
http://www.cinemaslumiere.art.br/site/
Há pouco, também enviei a eles uma mensagem.
Rodrigo e amigos,
Além da manifestação em relação ao cine lumière, seria bom tb. mensagens para Severiano e Cinemark. Eles tb. podem trazer bons filmes.
Amanhã mesmo vou conversar pessoalmente com o proprietário do Lumiere.
Fico muito feliz e compartilho com a opinao de todos. Ando sem saco para procurar filmes em cinema...
Adoro o Blog do Lisandro, acho a iniciativa otima!
Vou mandar um recadinho para os cinemas tb.
Olá Polly,
participe do Espaço Livre tb. Está no topo da página.
Olá Polly,
participe do Espaço Livre tb. Está no topo da página.
Confesso que senti essa sensação de Win Wenders, "Paris, Texas" e Ry Cooder neste filme, como bem foi apontado pelo Leonardo Sette.
E sinceramente, senti a mesma desolação também.
Ano passado procurando filmes para baixar me deparei com esse. Fiquei intrigada quando me pediu para analisa-lo porque sinceramente quando assisti pela primeira vez nao me comoveu. Vendo pela segunda vez ainda nao estou convencida. Achei a atuação de Jude Law fraquissima, apesar de ser muito charmoso, e Nora Jones melhor cantando mesmo, como o Leonardo analisou.
Assim como Leonardo, vejo “Um beijo roubado” formado por dois momentos distintos, mas que foram ligados de uma maneira um tanto quanto estranha. Se as conversas do bar (primeira parte) fizessem parte de um filme e a viagem de Elizabeth (segunda parte) fosse outro filme diferente, as narrativas se encaixariam melhor, uma vez que na segunda parte, Elizabeth é relegada ao papel de ouvinte, deixando de ser a protagonista. Não existe algo que lembre o começo do filme nesta “viagem-terapia”, a não ser as cartas que Elizabeth escreve para Jeremy, que ao serem narradas dão a entender que são falas diretas do próprio diretor, dando sua opinião pessoal. Contudo a mim soou como clichês. Para o final desta história dúbia, temos o retorno do beijo que já aconteceu no final da primeira parte do filme. Este beijo promove o coroamento de uma narrativa de estrutura clássica que não deixa o expectador desamparado, sem saber o que aconteceu, aquela câmera que serve como o olho que tudo vê e tudo mostra.
O filme trabalha com as sensações em vários momentos como,por exemplo, quando Jeremy limpa a câmera de sua lanchonete e a imagem para o espectador do filme aparece embaçada. Esse tipo de estratégia talvez seja um dos pontos mais interessantes desse trabalho.
A história, como na maioria dos romances, tem o final previsível. Embora em alguns momentos o filme passe a sensação de que não vai acabar como se espera, acaba terminando da mesma forma de sempre.
As várias narrativas construídas são interessantes mas, longas demais. "Um beijo roubado" se sairia melhor se não enrolasse tanto. Quem sabe se tivesse meia hora a a menos..
Tenho que discordar da Mari e da Angélica,
Tirando a tradução do título para o português e cena final de My Blueberry Nigths, que concordo ter sido desnecessária, o filme não tem nada de clássico. Os jogos de câmera, os segundos de tela escura e silêncio, a “irregularidade”, muito bem tida pelo Leandro, além das músicas (lindas!) que parecem muitas vezes entrar na “hora errada” comprovam a tentativa (muito bem sucedida) de Wong Kar Wai de se desvencilhar do cinema comercial de uma maneira muito mais inteligente do que outros diretores.
Além disto... há muitas perguntas não respondidas: o que aconteceu com Leslie, Sue ou a namoradinha do Jude Law? O que elas representam? Quem são? Por essas e outras para mim é quase impossível dizer que este é um filme “tradicional”. O filme agrada aos olhos, e neste sentido é claro que nos gratifica, mas gratificar não tira o seu mérito. Tive a convicção de que ele não me deixou, como vários outros deixam, com a sensação de me “emburrecer” (será que me excedi neste afirmação?).
Enfim... uma coisa que não me sai da cabeça é Lizzy chorando ao ver as fitas do Café do Jeremy. Acho que encontrei o ponto de partida para uma interpretação do filme...
Caroline,
Gosto da forma elegante como você dialoga com suas colegas. Há discordâncias e pontuações. Peça ao Almiro Franco para ler o texto dele sobre o filme.
Caroline,
Gosto da forma elegante como você dialoga com suas colegas. Há discordâncias e pontuações. Peça ao Almiro Franco para ler o texto dele sobre o filme.
Que bom ler ex-alunas comentando o filme!
Faz tempo que assisti Um Beijo Roubado, mas me lembro que o Kar Wai me agradou bastante, tanto pelo bom gosto na escolha dos enquadramentos (o que é indício de cineastas que possuem um estilo mais autoral) quanto pela condução muito segura da ação. Ele equilibra leveza e agilidade, e isso resulta em um filme bem gostoso de assistir.
As cenas distorcidas não entendo que sejam mais do que uma reprodução do que é visto através das lentes da câmera do bar. Elogiável, criativo, mas não foge muito da narrativa com estrutura clássica. Isso porque uma das premissas básicas para tal é atendida: não desamparar o espectador, o que não é uma questão de ser inteligente ou não. É assim e é louvável, não precisa emburrecer, basta seguir o jogo que assumimos ao entrar no cinema e que Ismail descreve bem. Filmes deste porte podem ser sofisticados. Claro que como a Carol bem expôs, o filme apresenta inovações, fugas ao padrão clássico, mas se bem lembrarmos uma das facetas do melodrama é seu poder de adaptação, tomar novas formas de acordo com novas necessidades. Quanto a questão de pontos que ficam em aberto, se bem lembro este é um dos problemas que Bordwell aponta para o final clássico, que mesmo que a questão principal seja resolvida, algumas tramas secundária podem ficar abertas. Isso porque estes personagens citados não são protagonistas. Passam pela história, dão a contribuição que precisam acrescentar e desaparecem, sem nenhum prejuízo ao entendimento do espectador. Jejum de amor trás este exemplo de falha, ao se descartar o cara que pula da janela (Molly Malloy) e nem por isso deixa de ser clássico, mas porque o filna feliz de Hildy e Walter chama mais a atenção. Ismail Xavier também comenta estas incoerências: “Se a incoerência não é perturbadora, isso decorre do fato de que outros elementos são suficientemente atrativos e dinamicos para manter o espectador ocupado”.
A música outro ponto que para mim reforça a estrutura, casando perfeitamente com a trama, que aparece para complementar os momentos românticos. Tente escutar só a música. Não há desvio. Filmes que Norah empresta sua música são bem parecidos, me lembro inclusive de um que a protagonista é Jenifer Lopez e a música é come away with me.
Mesmo se não nos atentarmos a estas questões, se pegarmos só aquele beijo do final, não tem jeito não, Carol, condena meeesmo hehe.
Oi Mari,
entendo suas colocações e me lembro dos aspectos ditos por Bordwell. Contudo, mesmo assim, creio que My Blueberry Nitghs passou longe do que entendo como melodrama e cinema de estrutura clássica... Se há melodrama são só pitadinhas... Simplesmente não consigo enquadar este filme no Bordwell...
Eu entendo que houve sim prejuízo no amparo ao expectador, seja na música ou no roteiro e que o diretor criou uma atmosfera de incoerência propositalmente instigante.
Fico pensando de que forma Wong Kar Wai conseguiu isso que se deu como o Rodrigo disse: com leveza. Vou assistir a outros filmes dele tentando encontrar alguma pista...
Fiquei feliz por discordarmos... Bjo
Mariana Boldrin e Caroline e Marina e Paula Otonni:
Com o objetivo de ajudar no debate, vou postar o texto do Almiro Franco:
"My Bluebarry Nights (Um Beijo Roubado) de Wong Kar-Wai tem atores afamados, músicas que cantam ressentimentos amorosos e conta uma história um tanto adocicada de dois jovens apaixonados. Poderia não funcionar e passar insigne como outro filme cansativo e aguado sobre as relações amorosas. Mas é agradavelmente o oposto disso.
Elizabeth (a estreante Norah Jones, musa do Jazz) desconfia de seu relacionamento e descobre pelo relato de Jeremy (Jude Law), dono de uma espécie de bar, que o namorado esteve no lugar com outra mulher. A partir daí, Elizabeth sai em uma viagem pela América, para esquecer a desilusão, e seu percurso ilumina outros personagens também atarantados com problemas afetivos. O policial Arnie Copeland ( David Strathairn) e sua ex-mulher Sue Lynne (Rachel Weisz); Leslie (Natalie Portman) e seu pai.
Tudo se passa de maneira branda e os personagens e suas histórias não aprofundam a reflexão sobre a temática do desencontro e não são psicologicamente sofisticados, como em outros trabalhos do diretor, mas Wai não cede às pressões do gênero romântico e surpreende. Sua abordagem se afasta do trivial, do óbvio, cria em um terreno quase estéril de fórmulas fáceis e isso salva o filme.
As imagens captadas pelo fotógrafo Darius Khondji são belíssimas, ricas em corres quentes, de enlevo e sentimento; os ângulos e efeitos de câmera enquadram os personagens à distância, como se observados por um espectador curioso pelas peripécias amorosas alheias; o diretor prepara esta outra perspicácia, insere em uma narrativa quase clássica, enxertos um tanto avulsos e descontínuos: a imagem da torta de Bluebarry que surge sem aviso “atrapalhando” as conversas de Jeremy e Elizabeth, os diminutos retrocessos temporais, as passagens abruptas de uma cena a outra, as rubricas explicativas que lembram àquelas que marcavam os filmes mudos; os diálogos são inteligentes e respondem às interpelações com novidade. Destaque também para a boa atuação de Norah Jones, bem no papel da sensível Elizabeth, seguida por Law que se mostra um par adequado, um romântico discreto.
E ainda que Wai conduza sua narrativa de maneira mais otimista desta vez, ainda estão lá as dúvidas e incertezas das relações afetivas. Nenhum dos projetos pessoais iniciados pelos personagens se completa satisfatoriamente. O policial Arnie Copeland não se reconcilia com a ex-esposa Sue Lynne; tampouco Leslie e seu pai se entendem; Elizabeth perde o namorado e Jeremy foi deixado por Katya (Cat Power). Apenas estes personagens de Law e Jones se encontram, mas isto é apenas uma promessa, uma esperança e não um final feliz bem acabado.
Este My Bluebarry Nights parece querer responder à pergunta: só é possível fazer um bom filme recorrendo aos motivos complexos, profundos? Wai torna um criativo “não” com sua audácia em registrar um tema “sentimental” com dignidade, inventividade e sofisticação. Um filme tênue, mas adorável. Corriqueiro e irresistível como um confeito".
Belo texto do Franco... parabéns pela frase:
"Corriqueiro e irresistível como um confeito"
é exatamente isto.
Caros alunos:
Observem no texto da Mariana (abaixo) e do Almiro (acima) como o tripé "comentário, descrição - análise - interpretação" é uma baliza para escrever a crítica do filme.
"Doces e ácidos sabores da vida se encontram em “My Blueberry Nights”
“Um beijo roubado” pode ser dividido em dois momentos distintos que foram ligados de uma maneira um tanto quanto estranha. Se as conversas do bar (primeira parte) fizessem parte de um filme e a viagem de Elizabeth (segunda parte) fosse outro filme diferente, as histórias não pareceriam desconexas de uma mesma obra, como pareceram. Umas das descontinuidades é o lugar de Elizabeth na segunda parte, relegada ao papel de ouvinte, deixando de ser a protagonista. Não existe algo que lembre esta primeira parte do filme nesta “viagem-terapia”, a não ser as cartas que a atriz-cantora escreve para Jeremy, que ao serem narradas, dão a entender que são falas diretas do próprio diretor, dando sua opinião pessoal, não ligação da narrativa. Contudo a mim soou como clichê: diante das confusões na convivência, somadas aos nossos próprios conflitos interno é possível ser otimista e acreditar no amor.
O que o espectador pode de fato esperar do filme é algo próprio dos filmes de Kar Wai que é o jeito que lida com o tempo. Tentamos organizar nosso tempo usando relógios e calendários enquanto nos filmes ele brinca de ir e vir, tal como muitos nostálgicos sonhariam em mudar o que já aconteceu, voltar no tempo, fazer e desfazer, vivenciar o futuro e mudar o que não nos agrada no passado. Em “Um beijo roubado”, por exemplo, o beijo em si só nos é revelado nos momentos finais, mas a mesma cena, com um corte de detalhes, foi trazida logo no começo.
Outro ponto positivo para a narrativa (que para mim é bem simples e se resume na tentativa de emplacar um romance entre dois desiludidos) é acertar na combinação saborosa com o título dado (My Blueberry nights) e belas cenas, tal como o sorvete de creme e a torta renegada. A cor da frutinha é lembrada pelos tons arroxeados da fotografia e a variação dos sabores da blueberry, que vai do ácido ao doce (similar a amora) é uma metáfora que representa a vida, formada de altos e baixos.
Para o final desta história dúbia sobre a distância, temos o retorno do beijo que já aconteceu no final da primeira parte do filme. Este beijo promove o coroamento de uma narrativa de estrutura clássica que não deixa o espectador desamparado, sem saber o que aconteceu, aquela câmera que serve como o olho que tudo vê e tudo mostra."(Mariana Boldrin).
Obrigado pelo comentário, Carol.
Antes de fazer meu comentário "leigo no assunto" esclareço que, por meio deste seminário, é a primeira vez que estudo o Cinema. "Um beijo roubado", portanto, ainda só pode me dizer que é um filme que sai do padrão hollywoodiano que estou acostumada a assistir, tanto pela não-linearidade das cenas, como pela maneira de filmagem ou simplesmente pela história. Mesmo assim, ouso a dizer que justamente por causa desta originalidade, o final, por ser previsível, acabou me surpreendendo. Gostaria de desvendar as metáforas, mensagens subliminares ou até a própria essência do filme, mas não sou capaz. A idéia, repito, de quem não entende quase nada de cinema, é que "Um beijo roubado" é um filme melancólico que, por incrível que pareça, não me fez chorar.
“Um beijo roubado” é a típica “obra menor” no currículo de um grande cineasta. Talvez a única relevância desse filme para a carreira de Wong Kar-Wai é o fato de ter sido seu primeiro trabalho feito em inglês. Mas diferente do frenesi romântico de “Dias selvagens” ou “Amor à flor da pele”, “Um beijo roubado” é uma história sem tempero, levada sempre no banho-maria.
A fotografia – a maior qualidade do filme – lembra muito a plasticidade de “Happy together”. Porém, ao contrário dos amantes portenhos do filme de 1997, os protagonistas de “Um beijo roubado” vivem uma relação à distância que beira o tédio e a chateação. Norah Jones se sai muito bem na estreia como atriz; Jude Law é praticamente um coadjuvante de luxo; Natalie Portman é o tipo mais interessante e marcante do filme. Mas é Cat Power, com seu pequeno papel e com a canção “The Greatest”, a grande estrela desse road movie que raramente ultrapassa os 60 km/h.
Carol, também fico feliz por discordarmos. Espero que aconteça outras vezes, me fez atentar para alguns aspectos por um outro angulo.É importante, mas nao concordo! Recomendo "amor à flor da pele". Este sim eu gostei! Podemos falar sobre ele.
A perda. Sempre quando perdemos algo é difícil aceitar e ainda mais difícil superá-la. Assim retrata o filme, que lida com diversos tipos de perda, propriamente no campo sentimental, uma mulher traída, um homem abandonado, uma filha que perdeu a confiança do pai... Tudo regado a uma trilha de jazz deliciosa e envolvente.
O filme é praticamente uma poesia, e a questionável 'superficialidade' do filme nada mais é que um enfoque dado a superficialidade muitas vezes de nossos sofrimentos. As dimensões que damos à eles os tornam grandiosos, quando não passam de algo superficial... A dor da perda de um amor só perdura até que se encontre outro amor. A redenção sempre chega, seja com a novidade ou com a morte (como mostrado no filme).
Destaque para a atuação de Natalie Portman. A interpretação ingênua de Norah Jones e Jude Law não chegam a prejudicar o filme. E quanto a Rachel Weisz não concordo que sua interpretação tenha sido em vão, trata-se de uma personagem cansada e desacreditada... acho que foi de bom gosto sua interpretação.
Quanto a separação do filme em duas partes, não acho que deva ser visto dessa maneira, mas como uma evolução no decorrer do filme. Uma passar de ingenuidade a uma lucidez das personagens, principalmente de Elizabeth, antes tão desprotegida em relação aos outros.
obs: Quanto ao musical irlandes Apenas uma Vez(Once), recomendo.
Tiago Lopes e Túlio Moreira,
apesar de não concordar com Túlio, ele lembra que a fotografia do filme é muito boa. Já o texto de Lopes é um primor em termos de observação.
Prof. Lisandro, seus alunos (todos aqui são seus alunos?) estão de parabéns.
Quando Wong Kar Wai anunciou que faria um filme nos Estados Unidos tendo a cantora Norah Jones como protagonista, a crítica especializada torceu o nariz. Mesmo sem conferir o novo trabalho do diretor chinês, um ideia sórdida foi formada: Kar Wai estava se vendendo para Hollywood, por fama, dinheiro ou ambos. Mas esse não é a esse My Blueberry Nights (traduzido estranhamente como Um Beijo Roubado) que um espectador um pouco mais sensível vai assistir.
Tecnicamente, apontaram problemas, que mais parecem questões resolvidas no roteiro, na apresentação de Jones. Escolher uma não-atriz (ou atriz estreante, de acordo com os que gostam de ver o copo meio cheio) para viver uma protagonista não é uma prática necessariamente nova, porém sempre ousada. Nesse caso, não para Wong Kar Wai, que havia trabalhado com cantores em filmes anteriormente.
O filme discute o desconforto causado por se levar a vida como coadjuvante – aspecto com o qual nos deparamos não só em Elizabeth (Norah Jones), que não se livra do fantasma do ex, mas também em Jeremy (Jude Law), que passa seus dias servindo pedidos e observando o transcorrer da vida alheia com atenção incomum, ou mesmo no policial alcoólatra Arnie (David Strathairn), que guarda esperanças de ter a ex-mulher de volta. Para superar essa situação, cada um busca uma alternativa diferente.
Mas, afinal, porque para tal alguns bebem, alguns mudam de ares e outros trabalham sem parar diante da dor? Talvez pelo simples fato de serem humanos (leia-se: plurais). Wong Kar Wai entende isso e busca instigar o espectador a interpretar os silêncios, os gestos e até mesmo as ambigüidades nas falas de cada um de seus personagens. Um olhar aparentemente simples vai costurando as diferentes histórias, que, por sua vez, oferecem ensinamentos umas às outras.
Os conflitos vão sendo resolvidos, se é que se pode dizer que são resolvidos, a partir do momento em que um toma o lugar do outro: Elizabeth vira garçonete e resolve trabalhar ininterruptamente, como Jeremy; ele procura impacientemente por ela, que, à época do fim de seu relacionamento, observava o apartamento do ex para “sofrer em cápsulas”; Sue Lynne (Rachel Weisz) toma um porre e se sente irremediavelmente só, como seu ex-marido costumava fazer. Nem mesmo o sorriso de segurança de Leslie (Natalie Portman) permanece igual.
O filme é recomendável pra quem acha que refletir sobre a própria existência é uma tarefa possível apenas para filósofos. Depois de My Blueberry Nights, nada como uma boa torta com sorvete e um cochilo no balcão.
Concordo com Leonardo Sette quando ele fala que "Um beijo roubado" parece um pouco com alguns filmes de Wim Wenders (como o "Paris Texas" que ele cita, "O hotel de um milhão de dólares", e outras obras da fase 'hollywoodiana' de Wenders). Mas não acho que este argumento seja um elogio. Wim Wenders é brilhante até determinado ponto de sua história cinematográfica. "No decurso do tempo", "Nick's Film", "O amigo americano" e outros filmes do diretor alemão provam que a genialidade de Wenders se concentra nas décadas de 1960 e 1970. A partir de "Paris Texas", tudo que o diretor havia defendido nos seus filmes é deixado para trás e substituído por uma linguagem mais clássica, mais 'hollywoodiana' (com exceção do documentário "Buena Vista Social Club").
Agora, voltando ao "Um beijo roubado", o recurso que o diretor do filme usa de colocar a câmera quase sempre do lado de fora da lanchonete (atrás do vidro) e de deixar muitas cenas mais subentendidas do que explícitas é muitos interessante. Isso mostra intenção de distanciar o espectador, mas ao mesmo tempo de colocá-lo também em cena, como alguém que está caminhando pela rua e olha para dentro da lanchonete, ou alguém que está no bar em que a protagonista trabalha e vê tudo que está acontecendo sem se envolver nas situações. Apesar de interessante, esse recurso cansa quem assiste ao filme justamente porque há um exagero por parte do diretor. Há cenas subentendidas demais, há câmera do lado de fora demais e isso deixa a narrativa lenta. Depois de certo tempo, o filme fica chato por isso. Os 80 minutos do filme paarecem ter na verdade 160 minutos.
Além desse problema, acho que o diretor não soube conduzir bem o elenco. Natalie Portman, que é uma atriz talentosíssima, aparece com uma personagem de sotaque forçado e que não convence. O mesmo se pode dizer de Rachel Weiz.
O enredo do filme é legal: a menina que, sofrendo pelo término do namoro, 'foge' da cidade, mas no caminho percebe que seu problema é pequeno quando comparado aos das pessoas que ela conhece (problemas de vício, morte, casamento em crise, etc.).
Confesso que não estava muito animado ao assistir este filme. Esse não é o gênero que normalmente assisto nas minhas horas livres. Pois bem, fiquei satisfeito e até surpreendido como a história foi construída. De certa forma, em alguma parte do filme, nos identificamos com o fato ocorrido. Afinal quem nunca teve vontade de largar todos os problemas para trás e sair pelo mundo sem direção, viajando, liberdade total, tentando esquecer o fato ocorrido?
Um dos pontos mais fortes de "Um Beijo Roubado" é a fotografia. A iluminação é bem equilibrada. São cenas bem distribuídas. A mistura de cores e os doces são cenas que intrigam o telespectador. Quanto à atuação de Norah Jones, prefiro ficar com sua trilha sonora.
Olá Hirakawa,
"entre" mais no filme. O comentário seu está um pouco apressado: volte ao filme!
O que significa iluminação bem equilibrada? Cenas bem distribuídas?
Fale mais sobre essas questões.
Ao assistir a "Um Beijo Roubado" pela primeira vez, com um olhar sobremaneira domesticado, me senti desamparada durante as primeiras cenas, que considero mais mornas. Ao final, porém, alguns aspectos da trama fizeram com que ela cumprisse seu papel de gratificação. Semana passada, ao revê-lo, eis que me deparei com novos deslumbramentos e sensações.
Não conhecia o trabalho do diretor chinês Wong Kar Wai até assistir a "Um Beijo Roubado". O filme conta a história de Jeremy (Jude Law), dono de um café em Nova York, que recebe a visita de Elizabeth (Norah Jones), uma jovem que descobre estar sendo traída pelo namorado. Após longas noites de conversa com Jeremy, ela decide viajar pelos EUA. Conhece então o drama do policial Arnie Copeland (David Strathairn) e de sua ex-mulher Sue Lynne (Rachel Weisz), e se aventura com Leslie (Natalie Portman), uma jogadora de cartas.
"Um Beijo Roubado" comporta a clássica estrutura de narrar, demarcada por critérios como o tempo e o espaço bem definidos e o prevalecimento do amor entre os protagonistas. Trata-se de um prodigioso melodrama. No entanto, utiliza também ferramentas do cinema moderno, manifestadas no tratamento diferenciado da fotografia, na forma como a câmera de fora dos ambientes se aproxima de um voyeurismo pelo espectador – ferramentas estas que aliadas à bela trilha sonora e à maneira como o diretor descreve e conduz o amor e as desilusões amorosas, me levaram a ver o filme de um modo distinto.
Além disso, a questão da mulher moderna (atuações da protagonista Elizabeth e das coadjuvantes Sue Lynne e Leslie), responsável pela fragilidade dos papéis masculinos nas tramas atuais, é outro ponto que pode despertar um olhar mais crítico nesta charmosa obra.
Estou acostumada a assistir aos filmes que sempre passam nos cinemas, aquelas comédias românticas hollywoodianas e adaptações da moda que me divertem, mas muitas vezes são o terror dos que veem o cinema de uma outra forma (a qual ainda estou por descobrir). Talvez por isso a dificuldade em "entrar" na loja de doces ou até mesmo ver através da vitrine recorrente no filme. Para mim, foi tudo lento demais, chato demais. Enquanto não monto minha bagagem para discutir enredo, fotografia, direção e outras minúcias, fico com o simples/simplório "não gostei". Não me emocionei ou me identifiquei com o filme.
A citação de Wong Kar Wai que consta no post de Leonardo Sette sobre a produção (“É um filme de cinéfilo”) me faz questionar o significado de cinéfilo. Se para fazer parte do grupo das pessoas que gostam muito de cinema for apenas se importar com posicionamento de câmeras e apreciar inovações, brincar com as velocidades da imagem para propor uma ilusão numa nova realidade, tendo horror ao cinema hollywoodiano, eu estou longe de ser um deles.
Eu não gostei de “Um Beijo Roubado”, por ser lento demais, por aquela janela de vidro me impedir de me encantar pelo filme e me criar desconforto, pelo enredo não me trazer outra sensação senão a melancolia. O mistério constante dissipa a mágica; a gente se acostuma com as coisas mal explicadas o tempo todo. A imprevisibilidade que, inicialmente, cria interesse, se torna simplesmente no inevitável. Talvez seja essa a beleza do filme, ser incerto como a vida, mas que, devido à minha experiência limitada com cinema, eu ainda não consiga apreender.
Andressa,
"Entre" mais no filme. Seu comentário está um pouco "defensivo". Veja de novo, investigue os motivos pelos quais não gostou. Não se deixe levar apenas pela primeira impressão: levante os argumentos sobre suas impressões ruins, dê substância aos seus argumentos.
“Um beijo roubado” é um filme com qualidades e defeitos, mas acho que as qualidades se sobressaem bem. A receita é simples e já bem conhecida: a história de um rapaz e uma moça que se conhecem e passam por obstáculos para ficarem juntos.
Wong Kar-Wai foi feliz na escolha dos planos de cena e das movimentações de câmera. A iluminação ajuda a transparecer os sentimentos dos personagens, ora escurecida nos momentos de tristeza e melancolia, ora avermelhada indicando raiva. A fotografia e a cenografia também ficaram bem interessantes. As cenas da torta de blueberry com sorvete que aparecem repentinamente e os cortes inesperados de uma cena para a outra são amostras de como o filme foge do abc do cinema clássico.
Falando um pouco mais sobre a torta de blueberry, o simbolismo que a envolve esclarece muito sobre o filme. Jeremy, em uma conversa com Elizabeth, afirma que sempre, ao final do dia, vende pedaços de todas as outras tortas, mas a de blueberry permanece intacta, as pessoas a “rejeitam”. Elizabeth, ao descobrir que o namorado a trocou por outra, se sente rejeitada, por isso pede uma fatia da torta e passa frequentar o Café de Jeremy, sempre para comer a torta de blueberry e conversar.
Em relação às cenas nas quais as paredes de vidro do Café estão entre a câmera e os personagens, não interpretei a presença do vidro como uma forma de o diretor impedir que o telespectador se aproximasse dos personagens. Para mim, o vidro estava ali por que os próprios personagens estavam passando por um momento de auto-conhecimento, e nem eles mesmos conseguiam mostrar os seus verdadeiros sentimentos.
Essa interpretação também pode ser feita quando Elizabeth está em sua viagem. Boa parte das cenas da personagem a mostram em uma superfície espelhada, na qual seu reflexo também é enquadrado. Interpretei essas cenas como situações nas quais a personagem estava se redescobrindo, já que esse era o motivo da viagem, em primeiro lugar. Acho que isso se confirma no final do filme, quando as cenas são um pouco mais nítidas.
As outras narrativas que se encaixam à história de Elizabeth durante a viagem (Arnie, Sue Lynne, Leslie e seu pai) podem até se juntar ao filme de forma inesperada, ou repentina, mas elas servem para dar à personagem principal novas perspectivas sobre a vida. Essas novas histórias acabam se mostrando determinantes para a volta de Elizabeth para Nova York.
A trilha sonora realmente se destaca, as interpretações de Norah Jones e Cat Power ficaram muito boas. No entanto, em alguns momentos da narrativa, as músicas parecem não se encaixar ao roteiro. Também concordo que, às vezes, a narrativa fica lenta e o filme acaba ficando um pouco chato, mas não deixa de ser interessante.
Quanto às atuações de Jude Law e Norah Jones nos papéis principais, acho que o próprio filme não exigia muito deles. O filme não pede que os personagens tenham grandes conflitos psicológicos ou reajam com profundidade o tempo todo. Apesar de o filme surpreender estruturalmente e fugir da simples “história de amor com obstáculos”, ele permite uma interpretação mais amena dos atores.
Giovanna Beltrão
Tudo começa em um típico café onde Elizabeth (Norah Jones) descobre uma traição amorosa e, por conta disso, acaba se tornando amiga de Jeremy (Jude Law), do dono do café. Desiludida, Elizabeth decide viajar para esquecer essa decepção. Durante suas viagens, a personagem central escreve postais para o dono do café, mas não fica claro para quem assiste que existe uma relação mais próxima entre eles. A princípio, a idéia da viagem é fascinante, mas a trama se desenrola sem que o telespectador se identifique com ela. Os destinos da personagem só ficam claros após um tempo, quando percebemos que ela já está em um novo emprego. As cenas com fundo preto e letras cor-de-rosa, que deveriam indicar as milhas percorridas do local de partida da viagem até a nova estadia da personagem, na verdade só confundem o telespectador.
O cenário do café é clássico: um típico ambiente de início e fim de relacionamentos seja no pedido de um cigarro ou no ato de deixar as chaves para alguém, que representa uma porta aberta para uma reconciliação. O cenário noturno é interessante, é onde as desilusões amorosas (no caso da personagem principal e também de Arnie) e as perdas da vida – a traição do namorado de Elizabeth, a morte do policial, o fracasso no jogo – se desenrolam. As personagens são típicas da trama clássica: o dono do café é aquele que ouve as pessoas e é solitário, fica acordado nas madrugadas; a jogadora de cartas compulsiva; o homem traído bebe todas e não aceita ser deixado pela mulher. A mocinha do filme, entretanto, é independente, pois segue viagem sem destino para esquecer um antigo amor e não está claramente ligada de uma forma mais intensa ao dono do bar.
Na trama só existe a esfera das relações amorosas das personagens, ficando excluídas as esferas de ordem profissional. É difícil para o telespectador perceber uma intenção amorosa da parte de Elizabeth para com Jeremy, já que ela demora a escrever o primeiro postal e nós nos esquecemos que ele continuou no bar todas as noites. Uma leve intenção da parte de Jeremy é sinalizada quando ele procura o telefone dela na lista telefônica. O final fecha o ciclo de Elizabeth com o retorno da personagem ao bar, coroando assim a estrutura. Os finais das personagens secundárias ficam abertos, exceto Arnie que morreu.
Quanto à trilha sonora do filme é insuficiente para ser lembrada por quem assiste ao filme, já que ela aparece apenas no início e no final da trama. Para mim o que ficou de interessante no filme foi a maneira como as mulheres da trama encaram as decepções: Sue Lynne foge da cidade, que para ela significa a morte; Leslie também foge da cidade de origem por causa do pai e, depois, de Nevada, por causa do fracasso no jogo; e somente Elizabeth regressa ao início, mas sendo uma nova mulher. No mais, não assistiria novamente o filme ou pelo menos demoraria um tempo considerável para fazê-lo.
Elizabeth (Nora Jones) vai ao bar de Jeremy (Jude Law) em busca de informações sobre o seu namorado, e descobre que ele frequentou o lugar com outra. Ao deixar as chaves da casa de seu ex com Jeremy, Elizabeth, abre as porta para uma paixão que começa como uma linda amizade. Duas pessoas diferentes mais unidas pelos sentimentos de solidão e da perda de um grande amor. A torta de Blueberry desempenha um papel importante, ela é um fator de exclusão e de aproximação. Pois é sempre a torta que sobra no fim do dia, e é o que os une no início da noite.
O filme é a principio angustiante. Fiquei inquieta, incomoda com a forma como se fez a separação entre o café e a rua. O que viria a representar o vidro? Seria uma separação entre aquele universo doce e meigo que Jeremy e Elizabeth criaram e a realidade fria e amarga que havia lá fora?
Com ótimo elenco e sonoplastia o filme valoriza pequenos sons, além de uma trilha sonora linda. Nora Jones saiu-se muito bem em sua primeira atuação no cinema, centrada no personagem, explorando uma meiguice que conseguiu ser sensual e ao mesmo tempo pura. Jude Law, um espetáculo, como sempre.
Giovana,
Observo claramente o quanto seu texto crítico melhorou e agora atinge um ponto interessante: observe: os comentários e a interpretação se misturam de forma agradável e pertinente. Muito bom!!
Se Wong Kar Wai disse que “Um beijo roubado” é um filme de cinéfilo, sem dúvida que esse foi o intento do diretor: pretender transformar uma história sem grandes atrativos em algo que justificasse o investimento, não apenas financeiro, mas artístico. E se o road movie está lá, com seu velho clichê da “viagem de superação”, é no estilo de conduzir a câmera, na montagem e na fotografia que se concentram os esforços de se produzir algo distante do gênero. Mas, no fim, algumas escolhas soaram como um acometimento de insanidade, já que o diretor falha em criar um todo coeso.
Na tentativa de reutilizar fórmulas de gênero, Wai consegue alguns experimentos interessantes e bem-vindos: para não se arriscar em incorrer nos fatídicos tons episódicos dos road movies, aqui o cineasta divide seu filme literalmente em episódios, ou capítulos (introduzidos por grandes caracteres, que buscam informar não apenas a distância percorrida por Elizabeth, mas também o tempo gasto por ela). Essa “invenção” dinamiza o filme e evita as aborrecidas (e quase sempre mal utilizadas) cenas de estrada. Quando resolve acompanhar o trajeto de Elizabeth até Las Vegas, apenas o faz para que possamos conhecer um pouco mais a misteriosa Leslie e para poder desenvolver o relacionamento das duas. Assim, chegamos ao que interessa: a próxima paragem, que resguarda seus eternos ensinamentos. E nesse ponto, Wai não foge ao comum, enfraquecendo a narrativa ao não ousar mais, já que, de fato, as “paragens” desse filme nada mais são do que espaços que reservam ensinamentos para a evolução espiritual da personagem. Se inova na maneira de narrar (ou não narrar) a viagem, peca por não acrescentar nada de novo às recorrentes tramas dessa natureza.
Outras escolhas do diretor também podem soar equivocadas, como o excesso de slow motion sem nenhuma necessidade aparente e alguns diálogos que mais parecem declamações previamente memorizadas, fazendo com que aqueles personagens assemelhassem-se mais com marionetes de um roteirista habilidoso do que com seres humanos minimamente verossímeis. O personagem de Jude Law, por exemplo, deveria dedicar-se mais à poesia ao invés de apenas cuidar de seu pequeno restaurante, já que demonstra uma improvável inspiração e é capaz de extrair belas cenas de coisas corriqueiras sem nem ao menos hesitar. Outra que parece ter dificuldade em sua composição é Elizabeth, que não consegue esboçar muitas reações diante das profundas experiências que testemunha. Não que todos os peões dessa trama pareçam ventríloquos, já que Leslie ganha contornos tridimensionais nas mãos de Natalie Portman e Rachel Weisz faz de sua arrependida Sue Lynne uma figura interessante.
Wong Kar Wai consegue, indiscutivelmente, um bom resultado em algumas investidas - uma nova roupagem para um gênero explorado à exaustão, a construção de alguns personagens densos e com plena capacidade de instigar e sensibilizar o público, uma trilha sonora competente e bem colocada -. No entanto, enfraquece o filme com suas tentativas estéticas de tornar o filme distante de produções típicas de Hollywood. Ao que parece, Wai, pretensiosamente, quis tornar um projeto comum e sem grandes ambições em um "filme para cinéfilos”.
Caros alunos,
gosto quando há dissecação do filme a partir da primeira pergunta simples: gostei ou não gostei? Leiam mais um texto de uma orientanda de TCC, Paula Otonni:
"Não é tão simples assim
O filme Um Beijo Roubado, de Wong Kar-Wai, é emblematicamente realista, baseado em uma estrutura de um cinema clássica, com construção de trama e enredo estruturado e que explora temas como os relacionamentos humanos de forma verossímeis.
O filme inicia com a apresentação da localidade, a primeira seqüência traz uma imagem do topo do Impire State, apresenta os personagens principais, revela os estados emocionais e psicológicos dos personagens, desenvolve a ação sem quebras de compreensão e definem bem espaço e tempo.
Jeremy, dono de um café em Nova York, esta acostumado a guardar chaves de clientes que pretendem deixar as portas do relacionamento ainda abertas, porem nem sempre essas chaves encontram seu dono. É o caso de Elizabeth, que descobre por Jeremy que seu namorado a trocou por outra e deixa então sua chave do apartamento com o dono do café na esperança de que o ex procure por ela.
Noites de passam e das visitas freqüentes de Elizabeth ao café nasce uma amizade, entre conversas e tortas de blueberry. Daí sem explicar nada a Jeremy, Elizabeth muda de Nova York em busca de uma nova vida. Já em outra cidade Lizzie começa a mandar postais para o amigo contando se suas novas experiências.
Para tornar a narrativa mais interessantes, surgem os personagens secundários. Encostado em um bar, afogando as magoas na bebida, Elizabeth conhece Arnie, um policial que foi abandonado pela esposa e não se conforma com a separação. A esposa de Arnie freqüenta o bar de vez em quando e desse encontro surgem conflitos que mexem com o emocional da protagonista. Esta, em sua saga de mudar e se transformar, parte para outra cidade, começa a trabalhar em um cassino e casualmente conhece Leslie, uma viciada em jogo que perde todo o dinheiro na mesa. Leslie e Elizabeth fazem um acordo e no seu desdobramento partem juntas para Las Vegas em busca de um homem que Leslie conhece para conseguir dinheiro.
No meio do caminho descobrimos que esse homem é na verdade pai de Leslie e que o relacionamento deles não é nada harmonioso. Após resolver esse conflito, que não possui um final muito feliz, Elizabeth volta para Nova York para os braços de Jeremy que a aguardava ansioso.
O filme conta uma historia extremamente simples e desproposital, os conflitos dos personagens ficam na superficialidade, e para coroar essa estrutura clássica o filme termina com um beijo apaixonado. A impressão é que o filme tenta passar que a trivialidade da vida cotidiana serva na verdade para encobrir as complexidades e os conflitos humanos que se passam com todo mundo. Mas para isso seria necessário diálogos mais consistentes e interpretações mais verdadeiras. O que vemos, portanto, são dilemas essenciais na vida mostradas sem sua real complexidade.
Existe um elemento no filme que me interessou, a câmera escapa da maneira Norte Americana. As cenas ou são filmadas por fora dos ambientes que se desenvolve a cena, ou por detrás de objetos, o que nos da certo distanciamento dos acontecimentos, como se aquelas pessoas estivessem sendo flagradas por nós, como se estivéssemos observando uma cena cotidiana por fora, não estamos aqui juntos dos personagens e sim analisando-os, ou em closes muito próximos, revelando para mim a falta de expressão de Nora Jones e Jude Law.
Por esses motivos que o filme não conseguiu me tocar, nem alcançar o que eu acredito ser seu objetivo, mostrar os conflitos nos relacionamentos humanos e suas complexidades emotivas. Para mim de forma muito simples, não no sentido bom" (Paula Otonni)
Kaline e Igara: um bom começo!!. Tenho certeza q. com as aulas e o suporte da "interpretação, análise e comentário", vocês vão aprimorar ainda mais. Sempre recomendo voltar ao filme depois da visada crítica. Se possível, façam isso. E leiam acima a abordagem do Renato Dantas: gosta e não gosta do filme. Mas usa argumentos para surfar entre uma coisa e outra.
Acostumado com os padrões hollywoodianos, confesso que a 'irreverência' do filme me surpreendeu, justamente por oscilar entre o complexo e o envolvente. As fragilidades emocional e psicológica de Elizabeth, reveladas logo no início, despertou em mim a curiosidade de acompanhar sua saga, na qual a personagem busca uma forma de consolo após uma decepção amorosa.
A pobreza de detalhes da personalidade de Jeremy também me deixou intrigado. Até o fim, não sabemos qual é sua função na história.Será apenas um amigo, aquele que lhe deu ouvidos e conselhos no momento em que ela precisava, ou um apaixonado que só quer protegê-la e amá-la.
Outro ponto que chamou a atenção foram os locais que toda a história se desenvolveu. Iniciamente num café e logo após num bar. Ambos os locais são cercados de vidros, logo concluí que tanto as personagens centrais quanto as secundárias, estão ali para buscar o auto-conhecimento e/ou refugiar-se,tida como uma forma de escapar daquilo que as deprimem. O vidro separa o mundo agitado de decepções de um local 'protegido' e capaz de fazer a garota trocada pelo namorado, o senhor abandonado pela esposa, a mulher traída e a jovem rica solitária esquecerem de suas decepções.
No fim do filme, pude concluir que a função de Jeremy na vida de Elizabeth é encorajá-la a encarar as 'fraquezas' além do vidro.
A sensibilidade (seja pela história ou pela trilha sonora) e o estudo da personalidade humana são um diferencial deste filme e o faz surpreendente e até mesmo emocionante.
Na contra maré da maioria dos colegas que postaram aqui, de certa forma fiquei satisfeito com o filme do diretor chinês Wong Kar Wai. O filme trabalha com tomadas de cenas interessantes como, por exemplo, o momento em que Jeremy, o dono do bar, meche na câmera, o que altera o foco. São brincadeiras que fazem com que o telespectador reflita o motivo daquela ação. Os planos de cena e das movimentações de câmera quebram com o que estamos acostumados no cinema clássico.
Realmente a primeira impressão é de estranhamento, mas esse mesmo estranhamento, em mim, deu uma sensação de dúvida o que geraram questionamentos. O ponto mais forte de “Um beijo roubado” está na fotografia. A iluminação é bem equilibrada, não produz exageros ou falta, são imagens belas e bem feitas. São cenas bem distribuídas, apesar de serem monótonas, a trilha sonora dá um toque especial. Destaco também as mistura de cores e as sensações provocadas pelos doces que intercalam imagens que intrigam o telespectador.
Quanto à atuação de Norah Jones, prefiro ficar com sua trilha sonora. Por essas e por outras que eu assistiria novamente, afinal um segundo olhar é pode gerar novas sensações.
Caros alunos,
observem: a crítica tem a “dupla função de informação e de avaliação”. A análise do filme tem por objetivo “esclarecer o funcionamento e propor uma interpretação da obra artística” (Aumont).
Praticamente todos fizeram uma CRÍTICA. Alguns fizeram suas primeiras aproximações, não tiveram medo da página em branco, e se lançaram...
Peço que continuem pensando no filme de Wong: ele é simples mas carrega procedimentos de um estilo que vem sendo edificado; se possível, veja "Amor a flor da pele".
O mais importante: você tiveram a coragem de escrever e estabelecer uma visada crítica.
Concordo com todos quanto à falta de boas opções em Goiânia, mas serei suscinto quanto a 'Um Beijo Roubado': além de Norah Jones ser uma excelente cantora como atriz, trata-se quase de um delírio estético do qual Wong Kar Wai poderia ter nos poupado.
Olá Rodrigo,
Um ex-aluno e hoje um crítico de cultura e de cinema. Fico feliz em tê-lo aqui contribuindo com sua visada.
Comecei a assistir ao filme esperando pela cena do "beijo roubado" que nos é apresentada tanto nas imagens promocionais quanto no menu de abertura do DVD.
Foi interessantíssimo descobrir como essa imagem só é mostrada ao público na cena final do filme.
Senti-me frustrada, pois tinha o preconceito de que o ponto central do filme se daria a partir do beijo. No entanto, o roteiro me surpreendeu pela complexidade, a ponto de o aparente "final feliz" não me convencer como tal. Seria o final ou o início de algo? Esse "algo" seria efetivado ou não? Não se tem respostas. A imaginação dos espectadores é instigada.
Outro ponto que achei interessante é a parte em que o cinema subjetivo e que não oferece respostas claras é exaltado (no caso o cinema francês). Não conheço todas as obras de Wong Kar Wai, mas assisti Amor à flor da pele. Esse filme tem um roteiro extremamente complexo, que nos confunde, e passa longe de ser um melodrama hollywoodiano.
Um Beijo Roubado também é instigante e reflexivo (como Amor à Flor da Pele), mas é bem mais superficial nas abordagens, e cai em mesmices hollywoodianas, principalmente ao eleger atores famosos que acabam por ofuscar o cerne da narrativa. Não se vê Elisabeth, mas Norah Jones, não se vê a apostadora de cassinos, mas sim Natalie Portman.
My Blueberrys night, de Wong Kar Wai logo nos primeiros minutos apela para a identificação do espectador, ainda que a estruturação do filme cause estranhamento. A decepção amorosa de Elizabeth (Norah Jones) ali escancarada, e a posterior descoberta de que Jeremy (Jude Law) ainda guarda as chaves deixadas por um amor do passado poderia arquitetar perfeitamente um enredo limitado ao charmoso café de Jeremy, em Nova York. As conversas noturnas e periódicas, inundadas lamentações, tortas e sorvete bastariam. Algo que enveredasse para Before Sunsrise só que em um local fechado.
Não. Eu estava diante de um road movie com poucas estradas na trama. Talvez porque faltava a protagonista um carro. A compra do veículo, aliás, era usada como desculpa para reservar para si o verdadeiro motivo da rotina dupla de trabalho. Elizabeth viaja pelos Estados Unidos. Dedica-se a ser garçonete e escreve com para Jeremy, vez ou outra, postais, que fornecem informações dos pensamentos da personagem. A margem da evolução do romance limita-se ao fato de Jeremy não descobrir de onde os postais chegam. A trama envereda para acontecimentos cotidianos e amizades feitas por Elizabeth em seus empregos.
A personagem de Jones se diferencia das demais mulheres do filme: Sue (Rachel Weisz), Leslie (Natalie Portam) e da ex-namorada de Jeremy. A identificação maior de Elizabeth seria com Arnie, o policial que embriagava em um bar diariamente para esquecer sua ex-mulher, Sue. Elizabeth já se comera tortas durante muitas noites em um café para esquecer um amor. Agora, ele passou a ser espectadora de situações similares a sua. Uma espectadora passiva, que absorve as lições ao seu redor para encarar sua própria realidade.
É interessante observar que o encontro das personagens não parece modifica-las profundamente. E não há uma lição de moral escancarada. Chego a me questionar, como na minha impressão inicial, se o novo equilíbrio da protagonista exigia mesmo uma viagem. Será? Os desfechos de Sue e Leslie se encaixam as personagens, que tem presença marcante. O indefinido lhes cai bem. Elizabeth volta para o ponto inicial de sua jornada. Surpreendentemente, ela muda o cardápio.
A colocação filme de construção “quase clássica” (citada aqui no blog, anteriormente) me parece adequada. Se não fossem os mecanismos utilizados por Wai na tentativa de estilizar o filme, com imagens raramente intercaladas, da torta, slowmotion articulados as cores fluorescentes, tomadas as vezes distantes e as colocações temporais, eu diria que o filme é bem clássico. Até mesmo circular. Talvez, Wai tenha sucumbido à inovação ao optar pelo reencontro do casal Elizabeth e Jeremy.
Acho, aliás, tenho plena certeza que meu comentário aqui irá em muito destoar do restante daqueles por meus colegas feitos. Preferi não ler nada antes de tecer a minha opinião acerca do filme.
Que filme chato! Mas, vou, ou pelo menos tentar, explicar o porquê de minha conclusão. A experiência com Um beijo roubado foi desde o início frustrante para mim, já que, tendo em vista toda a boa crítica que recebeu e das inúmeras recomendações feitas sobre o filme, continuou no mesmo feijão com arroz de sempre, permeado ainda por elementos que tornaram a narrativa mais lenta e ao filme difícil de assitir.
Só não foi um daqueles que eu deixaria pela metade, devido a dois elementos singulares que o diretor Wong Kar Wai soube explorar muito bem, conseguindo assim fisgar o espectador, no caso eu, e segurá-lo até o final.
O primeiro deles foi a trilha sonora que, para mim, consegue narrar a história melhor do que a sequência de cenas e os diálogos entre os personagens. Já a segunda foram as personagens Sue Lynne (Rachel Weisz) e Leslie (Natalie Portman), que seduzem e surpreendem o espectador com seus enigmas não explicados e sua presença avassaladora.
Concordo com Sette quando diz que há momentos distintos, mas discordo que haja somente dois. Ao meu ver, tanto a aparição de Portman quanto a de Weisz causam a mesma divisão e são um marco dentro da narrativa.
De qualquer modo, o filme causa estranhamento e principalmente distanciamento. Talvez fosse a intenção de Wai, ao utilizar o recurso do vidro que está entre a câmera, e aqui pode-se nomear também o espectador - já que a lente cumpre a função do olhar no filme. O recurso leva-nos a um distanciamento da situação, justamente nas cenas de tensão ou intimidade entre os personagens.
PARTE 1
Lisandro, segui o seu conselho para ver o filme, e o adiantei em minha longa lista de prioridades de filmes (que lhe disse na semana passada) e valeu muito, segue abaixo os meus relatos, acho que escrevi demais, mas não consegui parar, quando comecei.
Obrigada por me incentivar a vê-lo e escrever.
Ficar sem explicação para um rompimento de relacionamento seja esse de amizade ou amoroso, é uma das piores coisas (em termos sentimentais) que um ser humano pode fazer com outro. Porque em um relacionamento há uma entrega de ambas as partes, e espera-se sinceridade mútua. Não ter um esclarecimento sobre um rompimento, é algo que tira o ser humano para fora de sua órbita, pois não se sabe o que sentir, ódio, alívio, felicidade, tristeza, compaixão, piedade. Não saber o que sentir é muito angustiante.
Qualquer pessoa precisa saber o porque das coisas, é de natureza dos seres humanos se indagarem sobre o tudo. E não ter resposta sobre algum rompimento, leva a pessoa (que não tem resposta) a se culpar sobre o acontecimento, colocando a culpa da ruptura em si mesmo, e assim se martirizar internamente. Pensar, pensar e pensar freneticamente no acontecimento, sem poder virar a página da vida, ficando preso aquilo até que haja uma resposta.
No trabalho exaustivo, foi onde Elisabeth tentou encontrar essa resposta para seu rompimento. Trabalhar muito lhe tirava os pensamentos sobre os porquês do seu rompimento, e ela mesma admitia isso. Em uma cena ela questiona ao Jeremy, o porque dele não jogar fora as chaves que as pessoas deixavam em seu bar para que seu parceiros a pegassem, e ele foi bem categórico ao dizer que “não me cabe tal procedimento”, ou seja cada um deveria ao seu tempo virar a página de sua vida, e isso é feito quando durante um tempo, como Elisabeth fez, se fica em reclusão total de tudo aquilo que possa influenciar a compreensão dos fatos, em uma jornada não só de viagens, mas de conhecimento interno.
As cenas da Torta Blueberry, que aparecem como se houvesse mesmo uma câmera dentro na boca de Elisabeth, a junção de sorvete + torta + jazz, é magnífica e extasiante, simbolizando a tristeza de Elisabeth, ao ingeri-la, como se fosse uma válvula de escape, diante das tristezas vividas recentemente. Há um certo animismo na Torta Blueberry, pois Elisabeth, de uma certa forma se identificou com a torta, e deu a ela um significado especial, uma alma. Por um acaso do destino, a torta quase nunca era escolhida no Café, sobrando assim no final da noite, e como conseqüência sendo jogada fora. E era assim que Elisabeth se sentia quando descobriu a torta, sendo descartada, jogada fora, sem nenhum motivo aparente, sem nenhum Adeus.
A filmagem da câmera de vigilância do bar, em que mostra todo o bar o dia e noite toda, me remete a rotina em que todos nós vivemos. Todos os dias se passam diversas coisas ao nosso redor e nem percebemos, nos acomodamos, e habituamos em nossos mundinhos, não reparamos mais nas pequenas coisas que acontecem ao nosso redor, não prestamos mais atenção. Nossos pensamentos estão ligados em outros lugares, diferentes do que estamos, em outras pessoas, diferentes das que estamos vendo, e em pequenas coisas que parecem insignificantes ao primeiros olhar, mas se dada a atenção correta se mostram maravilhosas.
PARTE 2
Devido a delicadeza do bar, em certos momentos, ao assistir ao filme me via pensando que a trama se passava na Inglaterra, o cenário foi muito bem composto, se entendi bem o dono do bar era oriundo de Manchester na Inglaterra, e por isso lugar teria que ter a característica de tal país. A fotografia foi bem composta, e as cores são encantadoras. Por vezes achava a trilha sonora um pouco exaustiva, pois entrava em cenas, onde ao meu ver não caberia trilha sonora, apesar de ser amante da música, creio que em certas cenas o silêncio seria melhor.
A escolha de Jude Law, para interpretar Jeremy, foi sem dúvida nenhuma um acerto imensurável, porque Law, tem aquele ar inglês (um ser que se julga superior), mas age modestamente. E ao representar Jeremy, o faz primorosamente, pois seu olhar é claro, apaixonado e ficcionado, de um jeito que desnuda qualquer mulher com uma piscadela.
Durante o filme percebi que todos os personagens precisavam de seus parceiros, mas as vezes descobriam tarde demais, sendo assim ficaram por toda a trama buscando algo que estava bem perto deles. Elisabeth pensava que precisava de seu ex-namorado, mas na verdade precisava era de Jeremy, que após sua viagem – terapia, (segundo o texto do Leonardo Sette) encontra Jeremy. Arnie precisava de Sue Lynne, mas de um jeito nada saudável, e Sue Lynne, pensava não precisar de Arnie, até perde-lo, assim como Leslie pensava que não precisava de seu pai até também perde-lo.
E Jeremy que também julgava precisar de Katya, até ter um Adeus, e concluir que não precisava. Adeus é uma palavra que quando pronunciada gera um certo sofrimento, contudo depois de dita poupa ao ouvinte uma angustia sem medidas, pois este é o ponto final de qualquer relacionamento, e todos os relacionamento que não dão certo precisam disso, um ponto final, para que cada um consiga seguir com a vida.
Sutil, é assim que eu na minha opinião defino Um Beijo Roubado. Uma película cheia de significados nas entrelinhas, no qual há necessidade de ser assistido mais de uma vez. Sendo que a partir da segunda vez o olhar é mudado, e condicionado a observar detalhes anteriormente desapercebidos.
“Um Beijo Roubado” parece jogar com o espectador por meio de suas metáforas. Metáforas essas que às vezes deixam o filme com uma filosofia de “boteco” e que causa fadiga aos que preferem filmes de narrativas menos truncadas. Mesmo assim, para aqueles que gostam de filmes lentos e são mais acostumados esse tipo de narrativa parece ser capaz de satisfazer, sem gerar nenhuma comoção. Os pontos a se elogiar é o da trilha sonora que, apesar estar em muitas partes ausente, tem um tom melancólico e por ser jazz, fala de amor, da mesma maneira que o filme. A fotografia apesar de não ser sensacional é boa. As tomadas de câmera e outras questões técnicas também são elogiáveis. Mas no geral, em minha opinião, o filme é dispensável e não deve fazer parte da prateleira de filmes favoritos de ninguém. Parece ser só mais um filme de amor que não inova em nada, tem um enredo simples e mais de 1h de filme parece ser dispensável já que para as pessoas comuns, apenas o começo e o final tem alguma força, ou alguma identificação.
Olá Tatiana,
Li seu texto atentamente. Penso que o tripé "análise (descrição), interpretação e comentário" será extremamente útil. Você intuitivamente faz uma crítica boa. No entanto, você, com algumas ferramentas a mais, vai burilar ainda mais sua visada. Parabéns pela ousadia e vontade.
Sou a forma de Sandra, EUA. Depois de 7 anos de casamento, eu e meu marido brigamos até que ele finalmente me deixou e se mudou para a Califórnia no mês passado para ficar com outra mulher. Senti que minha vida havia acabado e meus filhos pensei que nunca mais veriam o pai, tentei ser forte apenas para as crianças, mas não conseguia controlar as dores que atormentam meu coração todas as noites, meu coração estava cheio de tristezas e dores porque eu estava realmente apaixonada pelo meu marido, Cada vez que penso nele e sempre desejo que ele volte para mim, eu estava muito chateado e precisava de ajuda, então procurei ajuda online e me deparei com um site que sugeria que o Dr. Fayosa pode ajudar a conseguir ex-costas rapidamente. Senti que deveria tentar, entrei em contato com ele e ele me disse o que fazer e eu fiz de tudo então ele fez um feitiço de amor para mim, 48 horas depois, assim como o Dr. Fayosa disse que meu marido me ligou e disse que sentia saudades eu e as crianças tanto, tão incrível que ele disse que vai voltar para casa no dia seguinte, com muitos de amor e alegria e ele se desculpou por seu erro e pela dor que ele causou a mim e aos filhos, A partir daquele dia nosso casamento ficou mais forte do que era antes, Tudo graças ao Dr. Fayosa ele é tão poderoso e eu decidi compartilhar minha história na internet de que o Dr. Fayosa é um lançador de feitiços muito poderoso que sempre rezarei para viver muito para ajudar seus filhos em tempos de dificuldade, se você está aqui e precisa de seu Ex de volta ou seu marido mudou-se para outra mulher, faça não chore mais, entre em contato com este poderoso lançador de feitiços agora. Aqui está o texto de contato dele ou ligue para o Dr. Fayosa com (Fayosasolusionhome@gmail.com) ou diretamente no whatssapp +2348151918774
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