sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As imagens do Pai no cinema



Entrevista com João Angelo Fantini

Lisandro Nogueira*
O livro "Imagens do pai no cinema" está sendo lançado pela editora da Universidade Federal de São Carlos. Fantini é psicanalista e professor na UFScar. Escreve textos e sempre faz comentários aqui no blog. Estudioso das relações da psicanálise com o cinema, concede entrevista na qual fala do livro e do lugar tradiconal do Pai na cultura.
 
Por quê o pai e o cinema?

R. a figura do pai vem em declínio desde de Freud. As sociedades
mudaram bastante, o lugar da mulher e das familias também. Foram
avanços fundamentais na superação de situações que causavam
sofrimento. Além disso, o avanço da genética  pode esvaziar  ainda
mais o lugar do pai na cultura. Isto coloca em cheque muitas  idéias nos campos
da educação, da sociologia e, claro, da psicanálise. Afinal, para que
serve o pai? alguém reclamará sua falta? Isso criará algum sintoma no
social? São perguntas que tento responder, trabalhando com filmes
bastante vistos, como Matrix, Beleza America, Central do Brasil, entre
 outros. Penso que o cinema é para nós, ainda, o que a
literatura foi no século 19. Mas não trabalho sómente com o cinema,
como o titulo sugere, mas também com algumas programas de TV como os
reality shows e com o chamdo ciberespaço, especialmente sobre sua
influência nos processos de identificação hoje.

Voce evoca a volta do lugar tradicional do pai?

R. Qualquer reivindicação de retorno, acredito, quase sempre é ingênua
ou mal intencionada. A questão é como vamos fazer daqui para a frente,
especialmente nas questóes ligadas a equação entre agressividade e
violência, já que, para as formulações da psicanálise, a figura
paterna (que não tem necessariamente relação com o pai de carne e
osso)  tem  seu papel na chamada lei simbólica, que sustenta o laço
social. Isto quer dizer que a medida que a lei simbólica perde
eficácia, temos que recorrer às leis sociais, ou seja, podemos ter,
cada vez mais, uma sociedade coesa pela força do Estado, o que tem
sido chamado de política do medo.

Qual seria a importância do livro? Ou seja, o que ele ajuda a pensar?

R. Penso que ajuda a pensar de forma mais aberta sobre o
"humano". Inventamos o pai, inventamos o casamento, inventamos o Estado.
Outras coisas estão sendo feitas neste exato momento, por exemplo, o
movimento em direção a diversas formas de fratrias, que se apresentam
como uma das saídas para esses impasses, o que também é discutido no
livro.

* para adquirir o livro: http://editora.ufscar.br/catalog/product_info.php?products_id=1465

15 Comentários

Pedro disse...

Pessoal,

Conheci o Fantini de longe, quando frequentava as mostras de cinema promovidas pelo Cineclube.

Fantini, gostei da entrevista mas preciso ler o livro para entender melhor essa coisa do Pai.

Pedro disse...

Joao,
Ficou sem explicação: O que é mesmo "Fratria"?

Carlos Castro disse...

Boa entrevista!!
Um tema relevante e importante.
O prof. Fantini se parece um pouco com Michel Foucault. Aliás, nesse blog, a filiação filosófica recorrente é a tríade: Niestche, Marx e Freud.

João A Fantini disse...

Pedro
Com certeza frequentei o Antonio das Mortes desde o inicio.
Bem, espero que leia o livro e possamos discutir mais.
Sobre as fratrias, no sentido que discuto, pode ser visto também no livro organizado por Maria Rita Kehl ( Função fraterna ), onde psicanalistas pensam sobre a possibilidade das diversas formas de fraternidades prescindirem o papel do líder e outras formas de organização organizadas em torno do feminino. Tomo estas idéias para discuti-las a partir de Freud e Lacan e das questões do pós-moderno.
abraço

João A Fantini disse...

Obrigado Carlos
no livro Freud e Marx são o conteudo e Niestche está no estilo.
Foucault está lá também.
abraço

Candido Cesar disse...

Bom dia!! Joao Angelo,
Acompanho seus comentários e textos por aqui. Gostaria de saber se caminhamos para um novo Matriarcado. O senhor pensa dessa forma?

célia disse...

Célia disse Boa tarde João,vamos continuar APOSTANDO NUMA BOA E TRANQUILA PARCERIA SEM GRANDES EXPECTATIVAS aceitando as diferenças(porque ainda bem que elas existem) e manter a mente sã e o corpo são para acreditarmos que ainda podemos ser felizes? O Passado já era (e foi bom) o presente aqui está pedindo pra ser vivido e o futuro só a Deus pertence. E nesse futuro todo sucesso do mundo pra vc.

Anônimo disse...

Candido
Por enquanto acredito que dificilmente algum movimento terá dimensão deste porte. Vivemos um momento de fragmentação de movimentos sobrepostos, isto é, acho que vamos ver, cada vez mais, coisas conflitantes acontecendo ao mesmo tempo. Como disse no livro, penso mais no feminino na ordem das fratrias, ou seja, uma forma de organização social que busca se reunir em torno de idéias redentoras, uma espécie de identificação horizontal. Claro que este modelo evoca uma disputa entre iguais (a velha rivalidade fraterna freudiana). É este tipo de sintoma que discuto e que me parece mais evidente do que qualquer outro retorno a modelos antigos.

Edigar disse...

Li ontem Maria Rita Kehl na Folha de SP. Ela afirma da grande ausência do Pai no mundo contemporâneo e faz duras críticas ao consumismo e a Indústria Cultural. Não é fácil compreender tanta ausência (do Pai), mas os argumentos dela são poderosos.

Eduardo Gomes disse...

Olá João,

É importante ressaltar a importância de se compreender os filmes de Tarantino sobre o prisma da queda absoluta do Pai. É um acerto seu: eu já intuia isso mas agora quero ler o livro. Não sei se você se lembra de mim. Fiz psicologia na UCG e chegamos a conversar muito nos grupos com os professores. Eu fazia parta da turma da Karla Azevedo e Paula Gomes.

Anônimo disse...

Edigar
na psicanalise, o declinio do nome-do-pai equivale ao declinio da eficácia da lei simbolica. Bem, isto no lacanês. No livro traduzo isso em vários exemplos de como - no declinio dos modelos de identificação fundados na tradição - ganhamos muitas coisas (como maior liberdade de orientação sexual, o avanço das mulheres como sujeitos de fato, etc), mas tambem herdamos a angustia de ter que escolher o tempo todo, sem ter garantia de se situar em alguma ordem, o que implicou novos sintomas e consequentemente, uma nova clínica.

Anônimo disse...

Oi Eduardo! lembro sim, claro!
Bem, tambem podemos pensar com Tarantino. Fiz um pouco isso no meu mestrado que é sobre ele.
Porém identifiquei uma mescla de violência e ironia em Tarantino que considerei bem típica no cinema dos anos 90. Acho que hoje não há muito espaço para o que ele fez em Pulp Fiction, mas permanece para mim um cinema fundamental para pensar um dos momentos deste declinio do pai. O politicamente correto deixou de ser piada, como era nos anos 90. Não dá mais para fazer ironia com isso, acredito.
um abraço

Anônimo disse...

Não tem outro jeito de comprar o livro?

João A Fantini disse...

voce pode encomendar em qualquer livraria que eles fazem o pedido na Edufscar e chega em uma semana, pelo mesmo preço.
abraço

Lisandro Nogueira disse...

A Livraria da UFG, campus 2, já encomendou o livro: chega em duas semanas.

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