segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ver o filme: o início

Os primeiros passos da crítica



Lisandro Nogueira*


O blog aposta na  formação dos amigos, colegas e alunos que gostam de cinema, enfim, na formação de todos nós. Os alunos utilizam o espaço para iniciar ou dar continuidade ao processo de "ver o filme". É muito comum a pessoa observar o filme e falar do tema, do conteúdo. É  o primeiro passo, o momento inicial. Porém, essa mesma pessoa pode  não gostar ou não querer ir além, ou seja, "entrar no filme".

Confunde-se em alguns casos, "entrar no filme" com o domínio das técnicas e procedimentos cinematográficos (enquadramento, movimentos de câmera, etc). Se fosse assim só os cineastas e fotógrafos de cinema poderiam fazer crítica.

Quando  se pede para "entrar no filme", significa vê-lo no mínimo duas vezes, distanciar-se um pouco da primeira emoção provocada, cotejar o conteúdo com o estilo do cineasta (mesmo em filmes de hollywood há cineastas de estilos diferentes) e, sobretudo, aliar a sensibilidade com a interpretação.

É comum no início falar quase somente dos personagens e do conteúdo da trama. Mas esse é apenas o primeiro passo. Observem o bom texto da Kalyne Menezes: ela comenta o filme, faz a descrição dos personagens e realiza uma breve interpretação. Kalyne edificou um dos seus primeiros textos críticos.

O processo de formação é árduo e merece sempre uma concentração nem sempre fácil nos dias de hoje. Os estímulos cotidianos são tantos que nos levam a dispersão e ao cansaço. Admiro o esforço de alunos, oprimidos pela avalanche de estímulos de todo o tipo, mas que conseguem tirar um tempo para a reflexão e a escrita de textos críticos.





Uma prova de amor (em cartaz)



Kalyne Menezes*


Sustentado em um tema polêmico, “Uma Prova de Amor” narra a história de Anna (Abigail Breslin), que aciona a justiça para requerer sua emancipação médica, já que foi concebida pelos pais para ser uma doadora geneticamente compatível para a irmã Kate (Sofia Vassilieva), que sofre de leucemia. O conflito é intensamente vivido no seio da família, formada por Anna, Kate, Sara (Cameron Diaz), Brian (Jason Patric) e Jesse (Evan Ellingson). As cenas do tribunal ocupam uma pequena parte da trama, deixando o drama para a relação entre os familiares e como tudo aquilo afeta a vida de cada um.

De início, já se espera um melodrama exagerado durante todo o filme, mas, exceto alguns pontos de bastante choque, a trama se mantém " e profunda em diversos momentos. O flashback constante mostra  todos os conflitos da família, desde a descoberta da doença de Kate até outros assuntos como a dislexia de Jesse, os questionamentos sobre a vida feitos por Anna, o trabalho árduo de Brian como bombeiro e a renúncia da vida profissional de Sara em detrimento da família.

Mas a questão maior do filme, que é o destaque do longa, é a briga judicial pela liberdade de escolha dos usos que se faz do próprio corpo, mesmo que para isso a própria irmã saia prejudicado. Em diversas cenas o espectador se pergunta se a decisão de Anna é certa ou não e até que ponto o sacrifício de uma filha em detrimento da outra é garantia de solução. Nessa discussão refletimos sobre o poder sobre o próprio corpo, como no caso do advogado de Anna, Campbell (Alec Baldwin), que sofre de epilepsia e não tem controle sobre si.

A montagem de “Uma prova de amor” é eficiente, pois todos os envolvidos na trama são narradores e o filme consegue focar em cada um dos personagens (Sara, Kate, Brian, Anna, Jesse) em diferentes momentos, mostrando como eles lidam com a doença de Kate e as brigas em família. Não há um protagonista central, já que todos eles narram o que se passa e revivem os flashbacks.  E uma dessas personagens é Kate, que talvez seja a que tenha mais motivos para sofrer, mas que demonstra uma maturidade ao lidar com as dificuldades. Ela tem seus momentos de fraqueza, mas consegue recuperar seus momentos de lucidez sempre com a ajuda da família e, em alguns momentos da trama, com seu primeiro amor, Taylor, que também tem leucemia.

A atuação de Kate é excelente e de Anna também. O personagem de Jesse também fez uma boa atuação, sem grandes destaques, já que seu personagem era o mais apagado da trama – tanto pela dislexia, quanto pelo abandono dos pais em detrimento da irmã, pouco mais nova que ele. Brian faz o típico pai que sustenta a família e fica, como em muitos casos reais, sem saber como agir. Cameron Diaz se esforçou no papel de mãe desesperada, que busca incessantemente a cura da filha, mas ela não convence o espectador. Apesar da comovente cena em que ela raspa a cabeça para ficar igual à filha, Cameron Diaz ainda parece uma atriz de comédias. Talvez a juíza, interpretada por Joan Cusack, desempenhasse melhor esse papel.

Dentre todas as discussões levantadas e iniciadas pelo filme, a mais forte é como encarar a morte. Todos os conflitos que levaram Anna ao tribunal apenas camuflavam o fato de que Sara era a única que não conseguia perceber que Kate estava partindo. É na cena do tribunal que Sara se dá conta inclusive da cumplicidade de Kate com os irmãos. Impossível não se emocionar. No filme faltou apenas a presença da imprensa, que com certeza não deixaria um caso desses fora do noticiário.

* Kalyne Menezes é aluna do curso de jornalismo e de análise de filmes.

3 Comentários

Pedro Vinitz disse...

Pessoal,
eu o Milordi (de volta depois de 3 meses) acabamos de editar o texto. Além deste texto, observem os textos sobre o Clube da Luta e o debate quente lá embaixo sobre "música e cinema". Herondes CEsar, leitor contumaz do blog, deu uma opinião importante e com exemplos do uso da música e do som no cinema.

Milordi, o mimico disse...

Eu sou Milordi, artista popular e amante do cinema. Que luta hein Lisandro........professor parece aqueles caras que ficam pregando nas igrejas e pedindo para as ovelhas lerem a bíblia. MInga amiga, sua aluna, disse que você é um carrapato e já chega na sala cobrando leituras e textos. As ovelhas valorizam o pastor depois que Jesus as chama para o inferno, ou seja, para viver na grandes cidades e virar adulto. Vivam os pastores. (Milordi, artista popular, mimico e ovelha desgarrada).

Valeria Borges disse...

Acho que "dar a mão" é extremamente importante. Isso é tão dificil hoje. A paciência, a orientação, tudo isso é muito importante na relação aluno e professor.

Kalyne, você só tem a ganhar.
Não gostei do filme e acho que seu texto muito condescendente. Como exercício é está bem legal. E você promete ainda mais: ouse mais e não caia nas armadilhas de hollywood.

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