sábado, 12 de setembro de 2009
Debate: Spielberg e George Lucas: criação ou cópia.
"Os diretores Steve Spielberg e George Lucas chegaram ao limite e não conseguem mais criar e realizar filmes instigantes e repletos de imagens espetaculares, ou, na verdade, nunca foram criadores, e sim cineastas que tiveram capacidade para copiar e atualizar gêneros já consagrados?"
18 Comentários
Creio que a segunda parte da pergunta aplica-se aos filmes, todos, de Steven Spielberg. Além de competência para realizar, os filmes dele sempre trazem algo para a reflexão. Não chegam a ser propriamente criativos, mas será que isso realmente vem ao caso, em se tratando de cinema industrial? Quanto a George Lucas, atualmente não me diz nada, com suas sagas intergaláticas. Se ao menos todo aquele material de ficção viesse da mente de um real escritor, mas é apenas uma combinação ad infinitum de imagens, monstrinhos, princesas, heróis, explosões ensurdecedoras, piadinhas, e truques de computador, coisas dele mesmo. Já encheu. Spielberg tem muitas vezes uma mensagem "liberal/anarquista", questionável, claro, mas que vale a pena parar para discutir (exemplos: 1) o Estado e a sociedade não compreendem o ET, querem dissecá-lo, só as crianças captam a poesia, piegas, né?; 2) o Indiana Jones faz tudo aquilo, encontra a arca, e tal, para depois ela ficar empoeirando num depósito de algum órgão público; 3) em "O Resgate do Soldado Ryan", veem-se verdadeiros heróis fazendo coisas incríveis e emocionantes, apenas para que o Estado possa fazer uma jogada demagógica...). Não é mau discutir essas coisas. Já o George Lucas só foi interessante em "THX 1138". Tudo bem, darei um crédito: não me lembro mais de "Loucuras de Verão/American Graffitti", talvez tenha sido bom. É só o que dá para conceder a ele. José Teixeira Neto
Pessoal,
entrei agora no blog e veja essa questão interessante. Quero saudar a volta de José Teixeira com seu comentário muito legal.
Eu sempre me pergunto porque eu gostava tanto deles, Lucas e Steven, hoje já não gosto tanto. Ainda não gosto do Glauber Rocha, louco de pedra, e seus filmes importantes, mas os americanos já me empolgam mais - muito mais!!
"Encurralado" é um grande filme de 1976. Depois gostei de "Lista de Schindler". E nada mais...
Este é um comentário de teste.
José Teixeira,
Assim como o Pedro, acho bom vê-lo aqui novamente. Gostaria de fazer uma pergunta fora do post, se me permite, e que estava guardando para quando o encontrasse novamente por essas caixas de comentário.
Este ano fazem dez anos de Cronicamente Inviável, e eu tenho aqui aquele texto seu publicado na Revista da Facomb, de 2002, chamado "A Vitória de Cronicamente Inviável".
Hoje, dez anos depois do filme, como você o avalia? Vê ressonâncias dele em outros filmes do cinema brasileiro? Você mantém o juízo de que a discussão que o Bianchi propôs, tal como ele a trabalhou, deixou o caráter artístico da obra em segundo plano?
Gostaria bastante de ler algumas linhas ou parágrafos (quem sabe) seus a respeito desse filme, dialogando com o texto de 2002.
Um abraço.
Amigos do blog,
A Lorena está testando a instalação de uma emissora de rádio. A emissora que vocês ouvem é a "Collectors". Só toca música brasileira dos anos 40 e 50.
Estamos em teste!!!
Lisandro
eu gosto muito dos filmes de ambos. Quanto a Lucas, a graça está exatamente nas sagas intergaláticas clichesentas, você não entra num cinema pra ver Star Wars pra ver o C3PO fazer críticas socias e levantar questões filosóficas sobre a tensão da existência robótica/sentimental. Você vai lá pra ver explosões e mocinhos contra bandidos. Já o Spielberg, o lance dele é fazer grandes filmes, contar histórias mesmo, podem não ser artísticos ou carregados de questões discutíveis, mas são muito apreciáveis e acho que é isso que ele quer.
E quanto à rádio dos anos 40 e 50, acho uma boa e quase soltei um comentário nerd sobre a questão...
Os dois cineastas não conseguem mais criar nada. A indústria do cinema os engoliu facilmente. Eles não deram conta de acompanhar o novo movimento do mundo. Ficaram presos nas tecnologias das imagens.
É uma pena pois gostava muito deles. Hoje, meus cineastas sao Sam Mendes, Tarantino.
Acho natural que depois de fazerem história no cinema, Spielberg e Lucas vivam momentos de produção artística menos intensa... Todos os gênios chegam ao limite, um dia. Ninguém continua criando com a mesma qualidade sempre...
Não importa o que fizerem daqui pra frente, esses dois já são imortais na história do cinema. Lucas criou a saga "Star Wars" e revolucionou a técnica cinematográfica. Devo concordar que como diretor não é muito bom (visto o péssimo resultado da trilogia moderna e a qualidade superior dos episódios 5 e 6, dirigidos por outros nomes). Mas ainda assim é um marco no cinema norte-americano.
Já Spielberg nem sei por onde começar. O cara dirigiu "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", um dos filmes políticos mais complexos já produzidos. E recentemente fez "Minority Report". Isso resume as dimensões de sua grandeza.
Caros amigos: a Lorena instalou uma emissora de rádio no blog: é a "Classique cinema" de Paris.
Ela toca trilhas de filmes e outras músicas relacionadas com o cinema.
Caso não queiram ouvir é só desligar no botão à esquerda.
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Escutei demais essa frase nas minhas aulas de química do ensino médio. Apesar de ser outra área, penso que se encaixa neste caso também. Spielberg e Lucas "copiaram" Griffith, que "copiou" Meliès, que "copiou" os Lumière, que "copiaram" a fotografia, que "copiou" a arte Renascentista, que tentou "copiar" a realidade. Uso as aspas porque não é um copiar na íntegra... é mais um copiar antropofágico. Pega-se algo como referência, assimila-se alguns aspectos desse referencial e trabalha o objeto até chegar em algo "novo" (olha as aspas de novamente). O fato de se inspirar com coisas já existentes não é sinônimo de falta de criatividade. Spielberg e Lucas conseguiram chocar o público mesmo não sendo 100% originais. O enredo abordado nos filmes antigos desses 2 cineastas mexeram muito com a imaginação dos espectadores. Tudo bem que Meliès já tinha retratado o espaço na "Viagem para a Lua", mas com o tempo o homem fez da fantasia realidade. O que antes era completamente ficção (o homem na lua) hoje é real. George Lucas retomou essa fantasia indo para outras galáxias muito, muito distantes. Spielberg e Lucas não deixam de ser geniais porque se inspiraram em outras obras. Quanto ao tempo atual, é normal os artistas terem seu ápice e depois se desgastarem. Isso acontece até mesmo com os melhores.
Concordo com o Túlio, quando ele disse que é natural essa fase de “não produção frenética”.
E digo ainda que, considero Steve e George mais que cineastas ou produtores cinematográficos, eles são incentivadores culturais. Agora eles não estão em foco, mas, trabalham nos “bastidores” das realizações de muitas produções. Falo bastidores, pois o nome deles não é colocado no centro dos créditos, mas sim na alma de quem agora está produzindo algo e os tem de alguma forma como referência. Assim como disse a Raisa sobre as “cópias” que toda produção artística sofre – em vez de cópia prefiro usar a palavra influência - acredito que eles estimulam de uma maneira especial qualquer aspirante ou veterano no ramo cinematográfico.
Estes diretores não chegaram ao limite, eles são sim criadores, verdadeiros artistas, mas também são seres humanos, trabalhadores; e como tais merecem curtir um pouco a vida. Poxa o Steve tem 6 filhos e o George 3! Eles com toda certeza querem em vez de criar filmes criarem seus filhos, participar da vida deles, usufruir o dinheiro adquirido durante todos esses anos de trabalho. Steve e George não precisam buscar mais espaço na mídia, eles já o possuem. Contribuíram o suficiente para a formação dos adultos de hoje, e para aqueles que estão nascendo ou vão nascer, existem as locadoras, livros, influências dos pais (que somos ou seremos nós) e das tvs abertas, que pelo menos aqui no Brasil fazem parte da formação do indivíduo.
Talvez daqui para frente vejamos esses diretores cada vez menos envolvidos com Hollywood, pois eles ficaram passeando em seus Iates, vivendo a vida e não trabalhando demasiadamente, curtirão seus filhos e sendo verdadeiramente felizes, contudo o legado deles estará sempre presente nas programações das tvs, nas mostras de cinema, nos almanaques dos anos 70, 80, 90 e 2000, nos livros que lemos sobre cinema onde são citados grandes diretores ou como exemplos de produção de alguma trama.
Não quero dizer com isso que Steve e George, não foram felizes realizando filmes, quero dizer que a criação e produção de filmes exigem muito tempo de dedicação, anos às vezes de reclusão do mundo exterior para que seja feita uma obra de qualidade, e isso é exaustivo, ainda mais quando é feito sem muitos intervalos, como eles trabalhavam.
Os dois podem e devem ser especulados de diversas formas, mais que isso, admirados!
Caro Pedro, muito boa sua lembrança de "A Lista de Schindler". Gostei muito desse filme, pelo lado emocional: saí do cinema e fui chorando até minha casa, numa caminhada de 3 km...
Caro Rodrigo, quando escrevi aquele texto, tinha acabado de ver o "Cronicamente Inviável" pela primeira vez: detestara o filme. Meses depois fui a Goiânia, e participei de uma mesa (com João Batista de Andrade) sobre o filme, e então já vira 5 vezes o "Cronicamente..." Já naquele momento, embora continuando a detestar a visão de mundo e de arte do Sérgio Bianchi, reconhecia valores no filme, e a primeira delas é o excelente elenco. Mas há méritos de conteúdo também, apesar de um deles ser involuntário (creio até que, confrontado com um elogio a essa cena, que alguém lhe fizesse pretendendo ver nele intenções construtivas, o Bianchi reagiria ofendido), é quando existe um sujeito urinando numa porta, e passa outra pessoa e diz: "Você não faria isso na porta de sua casa!" Em seguida, o sujeito tira a chave do bolso e... abre a porta de usa própria casa... É um retrato – construtivo – do Brasil, mas o Bianchi ficará ofendido, se souber: ele não quer construir nada! Nesse filme está plasmada uma visão anarconiilista que evito atualmente. Mas nunca vou esquecer a facínora representada pela Dira Paes e o patrão "ensinando" inutilmente a empregada a passar e guardar camisas: ele, prepotente; ela, desatenta e não querendo fazer o que é mandado, para não dizer incompetente. A cena da praia, com a Betty Gofman e o filho, também é excelente. Mas continuo achando, e já bati nessa tecla aqui no Blog, importante o enfoque artístico, ser artista, ver o mundo pelos olhos da arte. Ficar chamando a atenção para o mal-estar na civilização, ou no país, ou no sistema econômico, crendo que isso justifica o descuido com os procedimentos de linguagem, não leva a lugar nenhum. "Chocar a burguesia" é uma bandeira do fim do século XIX!!!
Abraços José Teixeira Neto
José Teixeira,
Você falou o que muita gente aqui no blog não concorda: ""Chocar a burguesia é uma bandeira do fim do século".
Glauber Rocha se inclui entre esses na sua opinião? Eu acho que sim.
José Teixeira,
"Chocar a burguesia" não é um lugar comum? O que o filme Cronicamente Inviavel faz é aquilo que George Lucas e Spielberg fazem; CINEMA.
O cinema brasileiro, no geral, é perverso. Os caras arracam dinheiro do estado, dinheiro público, fazem filmes fracos e ainda se dão ao luxo de ditar regras e fazer projetos para o Brasil. É fácil pegar dinheiro público e fazer filmes sem dar satisfação a ninguém. Por que esses cineastas não competem no mercado? Por que não se arriscam? Os bons cineastas brasileiros do passado não usavam dinheiro público.
Gerge Lucas e Spilberg jamais pegaram dinheiro público. Se são vitoriosos e fracassam aqui e ali, eles assumem a responsabilidade e não jogam o prejuízo para a sociedade.
Uma pergunta para todos.
Por que o cinema de arte não vingou e o cinema tipo Lucas e Spielberg vigou?
Por que quase ninguém tolera os filmes de arte?
Por que o cinema brasileiro nunca deu certo? Ele só dá certo quando "conversa numa boa" com a população brasileira?
Olá José Teixeira,
Obrigado pela resposta. Penso de modo semelhante a você. Nunca apreciei os filmes do Bianchi como obras de cinema, apesar de que o "anarconiilismo" dele, a meu ver, tem alguma relevância como forma crítica. Ao menos uma relevância temática, porque, veja só, essas cenas que você rememorou acabam condensando as tendências do cinema brasileiro dos anos 1990: o ressentimento, as contradições da classe média, a dificuldade de dar um sentido para as mitologias do Brasil como país "abençoado por Deus", "pacífico" e, como o filme mostra, ao mesmo tempo bastante cínico na manutenção de suas diferenças.
Talvez Cronicamente Inviável seja um filme que reflete o momento, e faz uma balanço. E nisso inclui-se a sua estética pouco elevada, mais afeita ao choque que a reflexão.
Creio que ele é mais anárquico que niilista. Mas a anarquia não é projeto, e sim um estado de coisas desvelado por aquelas personagens sórdidas. Dessa anarquia, o filme parece ainda apostar em algo, em possibilidades de novos sentidos. Naquele garçom que se revolta e fala em "terrorismo", por exemplo.
É verdade que Cronicamente não poupa a si mesmo das suas críticas. Mas isso não basta para fazer dele uma obra de arte. Biachi parece substituir o ressentimento pelo complexo de culpa, e creio que pouco se avança com isso.
Um abraço.
Respondendo a(s) pergunta(s) da Beatriz:
1. Porque cinema de arte é chato e os filmes de Lucas e Spielberg são legais.
2. Porque poucas pessoas toleram coisas chatas.
3. O cinema brasileiro nunca deu certo? De onde vc tirou isso? Respondo citando dez filmes: "Limite", "O Pagador de Promessas", "São Paulo Sociedade Anônima", "Terra em Transe", "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Pixote", "Central do Brasil", "Cidade de Deus", "Lavoura Arcaica" e "Tropa de Elite". Vc acha mesmo q o cinema brasileiro nunca deu certo?
Túlio,
Você falou tudo e mais um pouco. O preconceito com o cinema brasileiro é enorme. Eu já vi o Lisandro ser quase agredido em debate por defender o cinema brasileiro. E olha que ele faz críticas duras. Eu queria era saber porque tanto preconceito. Zeca, "Cronicamente inviável" têm cenas muito gozadas (aquela da empregada que transa na cama do patrão é demais).
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