O coroamento do estilo Western, um filme imperdoável
Thiago Henrique Hirakawa*
No campo, isolado de todos, um homem e seu passado violento. Uma mulher é a redenção de seus atos. Ele é William Munny (Clint Eastwood, ator e diretor), um pistoleiro aposentado, assassino e bandido, que se diz mudado após casar-se com uma mulher exemplar. Três anos pós perda da esposa, uma proposta tentadora: matar dois cowboys que desfiguraram uma mulher, e uma bela recompensa a espera. Uma chance para mudar a vida dos filhos, que vivem da criação de porcos.
Na cidade, um xerife, um homem que quer afastar todos os assassinos da região, assassinos em busca do prêmio. Ele é Litlle Bill Daggett (Gene Hackman), dono da lei e da ordem, homem que não admite qualquer tipo de armas na pacata e velha região do Wyoming.
Munny chama Ned Logan (Morgan Freeman), amigo antigo, companheiro do passado violento, que se juntam a Schofield Kid (Woolvett), jovem pistoleiro que inicialmente faz a proposta para Munny. Está aberto a temporada de caça. O trio parte para cidade.
Personagens secundários, não menos importantes, vão se envolvendo na história. É o caso de "English Bob" (Harris), cidadão da coroa inglesa, que chega à cidade junto com um escritor que registra suas façanhas. Tal personagem, que desperta toda fúria no xerife, é tomando como exemplo para que outros assassinos não se aproximem da cidade. Bob sai da cidade, mas o escritor permanece e anota as proezas do então temido xerife.
As mulheres assumem importante papéis. Elas marcam e estão envolvidas com a trama e com as narrativas. Munny se diz curado em função da esposa, “minha mulher me curou da malvadeza e da bebedeira”. Delilah é a mulher desfigurada. Ela tem nas outras amigas, também prostitutas, o ar de revolta das figuras femininas subjugadas, injustiçadas, “meu Deus não somos éguas”, e são as próprias as responsáveis pela divulgação e oferta da recompensa.
Ao final da história, reflexões vão tomando conta dos personagens. Ned Logan desiste. Ele é preso, torturado e morto. Schofield Kid (Woolvett) assustado vai embora. É agora que o espírito de William Munny, adormecido por quase uma década, agora movido pela raiva e ódio, ressurge e vai provar o porque da sua lendária fama e justificar o nome do filme.
É neste cenário que se desenvolve Os Imperdoáveis, The Unforgiven (Título Original), filme vencedor de 4 Oscars, melhor filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante (Gene Hackman) e melhor montagem. Também foi indicado para outras cinco categorias: melhor ator (para o próprio Clint Eastwood), melhor direção de arte, melhor som, melhor roteiro original e melhor fotografia.
Esta última é uma das atrações do filme. A inserção do homem ao campo, aliado as cenas de entardecer, transporta o espectador para aquele que é o coroamento do estilo Western, um passado tradicional, uma sinestesia da América ainda selvagem. A trilha sonora está nos parâmetros do filme. Não há excessos. As tomadas de câmeras não trazem grandes novidades. Há uma tendência de cenas filmadas em meio a um clima marcando pela chuva, seja do personagem principal ou dos secundários. A linguagem é clara, os ciclos de trama são resolvidos, não permanecendo as dúvidas.
Os Imperdoáveis é uma obra a parte. Trata-se de um cinema híbrido, com estrutura clássica e inserções contemporâneas. Filme no qual surgem indagações sobre a própria estrutura, visto as quebras de estereótipos. Um Faroeste instigante, de comunicação rápida com o público, de oposição entre o bem e o mal, que, no entanto, o bem não é de todo o bem, Munny é assassino de mulheres e crianças e, Litlle Bill, o xerife, “o mal” demonstra compaixão ao não castigar fisicamente os Cowboys definindo-os como “rapazes trabalhadores que fizeram besteira”.
Os Imperdoáveis carrega trama, estágio de equilíbrio, elemento perturbador, ápice, começo, meio e fim. O que lhe dá indicações de características clássica. Um velho oeste ainda prezo a suas raízes, uma vez que Munny, apesar de sair pelo mundo em busca de algo, retorna ao fim para o lar, para seus filhos, um homem que honra sua família.
Os Imperdoáveis é um filme repleto de indagações e questionamentos, um dos motivos que se pode considerá-lo com tendências modernas, pelos personagens conflitantes e o modo como o filme é levado. Envolve ação, reflexão e o velho estilo do faroeste. Trata-se de uma obra bem realizada e finalizada. Não é por menos que foi indicado para nove Oscars. É o coroamento do estilo Western pelas mãos de Clint Eastwood.
* Thiago Henrique Hirakawa é aluno do Seminário de "Análise de filmes" - UFG/Facomb.
8 Comentários
Pessoal, esses alunos do Lisandro estão melhorando. O Tiago é um pouco rígido com o texto mas já sabe equilibrar os elementos. Eu e Milordi editamos o texto. O "dono" do blog está concentrado lendo monografias. Só disse assim: "o texto merece uma foto clara". Hoje, ele está "fechado". Seu cachorro amado, o Pepeuzinho, quase morreu depois de morder um sapo venenoso. Vida longa ao Pepeu. Um Coker que já passou por uns quatros estados de coma. Ele parece o personagem do filme. Não morreu nunca.
Um amigo do Lisandro ainda fez uma gozação:"hoje em dia até o Pepeu está engolindo Sapos". Professores universitários gostam de rir do mundo.
Coroamento e, até agora, enterro do gênero.
Creio que ninguem conseguiu depois de Unforgiven acertar a mão no estilo com uma trama original.
Mas há distinção entre os cowboys que retalharam a jovem do cabaré: um se arrepende, o outro não.
Clint é tão reto quanto on próprio Munny na direção da película.
Acho que fala bastante sobre arrependimento e punição,e claro, escolhas morais. O início do diálogo final é antológico:
- “Quem é o dono dessa espelunca?”
- “Eu sou o dono deste estabelecimento.”
(Munny fala ao cara ao lado do dono do bar:)
“Afaste-se, rapaz.”
*blam*
“Seu covarde! Atirou num homem desarmado!”
“Deveria ter se armado quando resolveu decorar o bar com meu amigo.”
Adoro a cena que o Clint entra no Bar e fica em frente ao delegado e diz que já matou todo tipo de gente. Gostaria de estar ali, empunhado aquela espingarda. Adoro quando ele dá uma lição naquele jovem pistoleiro bobinho e medroso. Esse filme mexe com meus nervos. O filme sacia meus desejos de aniquilar quem faz mal ao mundo.
O filme é bom... O texto é fraco, fraco... Falta estilo, parece resenha do adorocinema.com
Anônimo, se é que anônimo leva-se em conta, o texto é bom. Eu não vi o filme e gostei da dica. Eu gostei do filme do Clint, aquele do carro onde ele mora ao lado de imigrantes chineses. Eu gosto do Clint. Ter vontade de ter arma tem hora que dá. No trânsito de Goiânia uma Bazuca.
Prezados, o texto tem limites, sim. É um aprendizado, um laboratório. Vamos ter paciência com os jovens.
Parabéns professor Lisandro em incentivar seus alunos. Seu blog é bom por isso. É democrático, aberto e as pessoas podem usar seu nome, principalmente seus alunos.
O velho e bom Clint nos presenteia com esse clássico que tenta trazer toda a nostalgia do gênero western com novos elementos, como foi bem colocado no texto, a fotografia excelente, o embate moral nessa película quebra o velho maniqueísmo e o pieguismo, não é uma crítica total aos valores e ao gênero, é uma reformulação com classe,técnica e uma história narrada belíssimamente.
Eu gostei pra caramba do filme, sendo que ele, dos filmes que o Lisandro passou para fazermos debates, foi o que mais rendeu questionamentos. Toda a classe participou com seus pontos de vista.
Para mim, o que mais chamou atenção na película, foi a questão da amizade, que é tão forte nos westerns, e pouco lembrada nos comentários. Munny tinha um amigo, e esse amigo por amizade e sede de aventura, topou voltar as raízes de matador. As prostitutas, foram amigas e companheiras umas das outras, o que desencadeou as sequencias dos filmes.
Ninguém vive sozinho, todos precisam de alguém uma hora ou outra. E essa amizade que moveu os acontecimentos do filme, é comovente. È só prestar atenção.
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