sexta-feira, 5 de março de 2010

A construção do Coliseu

  

A CONSTRUÇÃO DO COLISEU

Anselmo Pessoa Neto*

Virou, quase, lugar-comum a tese walterbenjaminiana de que “Não há documento da cultura que não seja ao mesmo tempo um documento da barbárie”. Ao que Luigi Pirandello responderia que “Assim é se lhe parece”. Abro desse modo este artigo para, primeiro, falar de um documento da cultura inconteste para todo e qualquer mortal: o Coliseu Romano. 


A construção do Coliseu foi iniciada no ano de 72 a. C. pelo imperador romano Vespasiano e houve um seu primeiro término no ano de 80 a. C., já sob o comando de Tito, filho e sucessor de Vespasiano, com uma inauguração que durou cem dias de jogos. Na sequência, o segundo filho de Vespasiano, o imperador Domiciano, continuou a obra realizando modificações e ampliações. E, de forma sumária, reformas e reinaugurações do Coliseu continuam acontecendo até hoje.


Para o fruidor do majestoso monumento de hoje, o Coliseu poderia ser, se lhe parecesse, somente documento da cultura, mas, como tudo o mais,  o Coliseu é, ao mesmo tempo, arte da barbárie e da cultura. Ao lado de um projeto arquitetônico fabuloso ainda hoje e de uma obra de engenharia que continua extremamente sofisticada mesmo com os avanços técnicos dos séculos ─ desde o primeiro dinheiro para o início de sua construção até os seus multivariados espetáculos que, ao longo das décadas, ora pendiam para o que hoje consideraríamos barbárie, ora  para a mais pura manifestação artística ─ a história do Coliseu é atravessada pela contradição e por um violento jogo de forças.


Mas, vendo à distância, o resultado é esplendoroso e toda a espécie se orgulha do engenho humano que deu vida à sua beleza incomparável, mesmo quem não o conhece “ao vivo”, pois o Coliseu é um “clássico”. E um clássico, parafraseando Italo Calvino, mesmo quando visto pela primeira vez é um reencontro, pois é objeto familiar no imaginário coletivo.




Mutatis mutandis, situação análoga vivemos em Goiânia com a construção do Centro Cultural Oscar Niemeyer. De uma idéia generosa e de grande alcance para as manifestações artísticas, pronta para inscrever-se nos documentos da cultura do Estado, vivenciamos um jogo mesquinho em torno do término de suas obras que ressaltam, somente, a barbárie do mundo político e o apego ao projeto pequeno, em detrimento da grande obra. Na esfera pública se cristalizou uma expressão que diz bem da disposição ou não de se realizar esse ou aquele evento: vontade política. É justamente a vontade política o que falta para colocar em pleno funcionamento o Centro Cultural Oscar Niemeyer e, para fazer outra comparação, resolver de uma vez por toda a vergonhosa situação do Aeroporto Santa Genoveva.




Em relação ao aeroporto, do que nos tem servido, a nós goianos, as visitas do presidente Lula a Goiás? Sem dúvida, a uma saraivada de discursos e a um rastro de promessas. 30 meses, se pensarmos na  Realpolitik, seriam mais do que suficientes para resolver todas as barbáries que envolvem a construção, necessária para ontem, do novo aeroporto de Goiânia. Do mesmo modo, quatro anos teriam sido mais do que suficientes, com vontade política, para desbastar o musgo de barbárie que envolve o funcionamento do Centro Cultural Oscar Niemeyer e entregá-lo à cidadania como documento da cultura. Isto, certamente, não apagaria a sua história, assim como a história do Coliseu é impossível de ser cancelada, mas realçaria o seu lado civilizado: uma das maravilhas de um Goiás moderno, assim como o Coliseu que, desde 2007, é uma das sete maravilhas do mundo moderno.


Mas o tempo tem as suas leis, da mesma forma que a barbárie torna-se civilização, e vice-versa, tudo o que é submerso, mais dia ou menos dia, aflora. E o debate sobre o Centro Cultural Oscar Niemeyer, por sua própria magnitude, já está na pauta das eleições de 2010, fato que representa, pelo menos provisoriamente, uma vitória da cultura.

* Anselmo Pessoa Neto é professor na Faculdade de Letras da UFG.

4 Comentários

Cassio disse...

"ben trovato" Anselmo!

Mas eu gostaria de por um carro na frente desses bois: o buraco abandonado onde antes era o Estádio Olímpico. Não sei exatamente... me parece que aquela obra está abandonada há bem mais de 30 meses...

Marcos Bandeira disse...

Caro Anselmo, o problema é que o "seu" Coliseu (do qual parece ter tanto orgulho) nada mais é do que um enorme elefante branco, feito às pressas. E mais, resultado de uma grande vontade política, sim, mas aquela que tem por objetivo principal transformar concreto armado em votos.

Anônimo disse...

O Coliseu foi construído cerca de 72 d. C, ou seja, 100 anos depois do que está escrito!

Anônimo disse...

Você só confundiu as datas... A construção começou em 72 d.C. e terminou em 80 d.C.
Nem poderia ter começado em 72 a.C. e terminada em 80 a.C. a não ser que o tempo voltasse...
E é óbvio que ele foi construído por causa do "Panis et Circenses".

Postar um comentário

Deixe seu comentário abaixo! Participe!

 

Blog do Lisandro © Agosto - 2009 | Por Lorena Gonçalves
Melhor visualizado em 1024 x 768 - Mozilla Firefox ou Google Chrome


^