Eles vivem
Fabricio Cordeiro*
Daniel Filho é o grande nome comercial do nosso Cinema. Com os dois Se Eu Fosse Você e agora Chico Xavier, é quase como ter o nosso próprio James Cameron, mas com a diferença de oferecer um cinema quadrado e tacanho, não muito diferente do que se vê em especiais de televisão. Seu próximo filme será Roque Santeiro.
O sucesso de Chico Xavier no Brasil, maior país espírita do mundo, não é surpresa, especialmente se pensarmos que boa parte desse mesmo público já se dispôs a ver a cinebiografia de Bezerra de Menezes, uma coisa cinematograficamente injustificável. Como um A Paixão de Cristo, é filme acompanhado por torcida organizada. Antes das cópias, há exibição de um trailer especialmente constrangedor de Nosso Lar, longa baseado em obra do famoso médium aqui cinebiografado, num perfeito exemplo da noção do produto vendável que eles tem em mãos.
O filme alterna a narrativa entre cinebiografia comum, com cenas da vida de Chico desde a infância, e sua entrevista ao vivo no programa Pinga-Fogo, em 1971. É protagonizado com semelhança por Nelso Xavier (nenhuma relação familiar) e tem a vantagem de trazer Tony Ramos no elenco, ambos prisioneiros de muitas cenas que lembram aquelas reconstituições (criminosas, religiosas...) de TV. Nesse sentido, destaca-se o momento em que Ramos e Christiane Torloni, ambos esforçados, leem uma carta. Parece evidente a existência de um tom de pregação embutida, com Ramos no papel do cético que quase se converte. É ver para crer.
Grandes óculos escuros compõem a imagem mais conhecida do psicografista, explorados em alguns cartazes interessantes e em outros que lembram o gênero terror. Óculos de Chico não são 3-D, mas ele via coisas que mais ninguém via. Lembram também os óculos especiais de Eles Vivem, jóia bruta de John Carpenter. Curiosamente, “Eles Vivem” é título que tem tudo a ver com espiritismo.
Cabe a Giovanna Antonelli cravar a pauladas essa habilidade de um Chico ainda criança. Chiquinho aponta para uma presença invisível e a atriz diz, quase como um zumbi: “Cadê? Cadê essa pessoa que eu num vejo?”. A cena só não é a mais ridícula de todo esse conjunto desconcertante porque Daniel Filho nos brinda com uma que se passa a bordo de um avião, dirigida como se fosse um esquete ruim do Casseta e Planeta.
No entanto, não há dúvida da figura poderosa na qual Chico Xavier se tornou. Se nos limitarmos a estatísticas gerais das exibições, Xavier surge mais atraente que o Presidente Lula, cuja recente cinebiografia rendeu curiosa decepção. Durante os créditos finais, são exibidas imagens de arquivo da real entrevista no Pinga-Fogo, incluindo a história do avião contada com mais humor pelo próprio Chico, aparentemente um melhor contador de histórias do que Daniel Filho.
Por Fabrício Cordeiro: é membro do grupo "Cine-UFG, debates".
Twitter: @fabridoss
4 Comentários
Fabricio, dizer o quê? Já falaram tudo.
Enrolei para sentar e escrever, de fato. Mas antes tarde do que nunca. E eu até queria fazer umas modificações, mencionar as obviedades nas transições da entrevista para os flashbacks etc... Mas deixa estar.
Acho importante mencionar o quão esse filme é importante para uma religião que sofre muitos preconceitos. Espero que o filme renda ainda mais e que todo esse dinheiro seja utilizado da forma que Chico utilizaria.
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