quinta-feira, 22 de abril de 2010

Como treinar seu dragão (em cartaz)


Dragão dócil, filme meio rebelde


Fabricio Cordeiro*


A figura do dragão é uma dessas que parecem atrair pessoas de qualquer canto do globo. Existe em ampla mitologia, do bíblico ao oriental, tendo encontrado forte reforço em tatuagens e jogos de RPG. O que seria um réptil alado, dragão virou sinônimo de poder e intimidação, com algo estranhamente sexual no meio. Como muitos outros seres (mitológicos ou não), o dragão é visto pelo Cinema como bonzinho ou vilanesco. O de Como Treinar Seu Dragão, animação da DreamWorks, é do bem.

Em primeira mão, o filme oferece exatamente o que se espera: relação amistosa entre um dragão e um humano, também recorrente no Cinema. Melhor exemplo talvez seja o primeiro A História Sem Fim, em que um garoto voava sobre um dragão-cachorro felpudo e amigão. Entre os piores temos Coração de Dragão (aquele com dublagem de Sean Connery lá e Miguel Falabella aqui) e o recente Eragon, um desastre. A lógica mostra que jovens no meio geram possível amizade entre as duas espécies.

A amizade em Como Treinar Seu Dragão é bem construída, com boas introduções e uma paciência relacionada a estudo e aprendizagem na relação entre o menino carismático Soluço e o pequeno dragão poderoso Banguela. Contra todas as expectativas (incluindo as do pai, dublado por Gerard “Só Faço Papel de Guerreiro Truculento ou de Apaixonado Retardado” Butler), o garoto aprende na unha e na escama a como tratar dragões em vez de matá-los, um costume da ilha viking do filme, que treina caçadores ainda crianças. Existe até um viking gordinho nerd, armado com informações numéricas. O humor aqui é dos bons.

Esse exercício de ternura trabalha a domesticação de maneira bem aceitável. As criaturas são bizarro-fofuras que tendem levemente ao dócil. Tanto em design quanto em trejeitos, Banguela é xerox do alienígena Stitch de Lilo e Stitch, só que em versão alada. São os mesmos diretores, Dean DeBlois e Chris Sanders, então a associação é certeira e não há crime. DeBlois também dirigiu Heima, longa sobre a banda Sigur Rós, praticamente um desses filmes-pra-DVD, mas maravilhoso de um jeito quase espiritual não-maculelê.

Visual geral de Como Treinar Seu Dragão é digno de atenção especial. A consultoria do diretor de fotografia Roger Deakins (colaborador dos irmãos Coen) parece dar mais textura do que a própria máquina de venda atual que é o 3-D. As imagens destacam a terceira dimensão, mas a luz dessa animação é uma coisa. Sequência de ação final é um espetáculo a parte nesse sentido. Contudo, é engenhosa não apenas na grandiosidade e beleza, mas também como clímax de um peso dramático trabalhado e carregado até o fim, quando já abraçamos voluntariamente o ideal de amizade representado por dragão e menino protagonistas. Dessa sequência vem conseqüência, uma porção de ousadia para distinguir a animação com uma lição acompanhada de duro aperto. Pode haver choro.

Fabrício Cordeiro é membro do projeto de extensão "Cine-UFG, debates".
Twitter: @fabridoss

5 Comentários

Pedro e Patricia disse...

Pessoal,

editei esse artigo do Fabricio. Filminho esse aí.

José Abrão disse...

eu gostei bastante desse filme. Fui assistir achando que ia ser a coisa mais sem graça e repetitiva do mundo, mas ele é legal! Até nos clichês.

Fabrício Cordeiro disse...

"Editou"? Fiquei sem entender.

Eu acabei arrumando/adicionando umas coisinhas para publicar no meu próprio blog (cordeiroassado.blogspot.com), mas nada de muito importante.

@fabridoss

amoçadofigo disse...

Nooossa totalmente Lilo & Stitch. Foi a primeira coisa que me veio à mente quando vi o dragãozinho draculoso. Até pensei que seria mais uma daquelas gracinhas da Disney que até assisti esses dias via-youtube> que mostra a mesma sequência de movimentos, posições e expressões por dezenas de desenhos feitos pelo sr. Disney. Indignantes cópias fazendo todos de bobos, eu diria.
Tirando essa parte...e voltando ao Como treinar seu dragão... muito fofo! ...Interessante saber que um dos diretores participou do Heima...tenho esse filme maravilhoso e nada-de-maculelê, mas ainda não tinha olhado os diretores, tamanha babação em cima de todas produções que o pessoal do Sigur Ros pega para fazer ou tem algum pensamento deles.... abs prof. Lisandro (amanhã esperarei os comentários sobre Alice;)

amoçadofigo disse...

Não sei se já havia alguma relação com o artigo acima, mas na na trilha sonora da animação também há uma faixa do Jónsi, vocalista do Sigúr Ròs, a "Sticks and Stones" - http://www.fuelfriendsblog.com/2010/04/24/jonsi-sticks-and-stones-and-flying-on-the-backs-of-night-black-dragons/

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