domingo, 15 de agosto de 2010

Caetano Veloso, 68 anos - homenagem do Blog

O homem velho 

 Lisandro Nogueira

Em 1985 estava em São Paulo, na rua 13 de maio: amigos, frio, samba, música. Na conversa, a dívida imensa que temos com a MPB. Em seguida, andando apressado pela avenida São João, corri para ver o show "Velô". Era no radar Tan Tan, casa de shows, no centro. Caetano Veloso tinha 42 anos. Não era ainda um homem velho. No entanto, já cantava o sabor da última fase da existência.

Caetano  é a tradução de SP (notei isso quando morei lá em duas oportunidades), assim como Rita Lee e mais alguns. Ele é o "paulista" mais paulistano que conheço: moderno e cosmopolita; triste e esfuziante; caótico e fascinante; brasileiro do interior que migra para cidade grande (como meu pai!!). Homem simples e sofisticado (como meu pai!!).

O pai de Caetano morreu em 1984. Fez a música "O homem velho".  Meu pai morreu em 2001 e, quando me lembro dele, essa música "toca" na minha memória. O que é a velhice? Como lidar com a proximidade da morte? Como viver a velhice?

Caetano está completando 68 anos. Como ele mesmo diz, está finalmente entrando na velhice.  Vendo-o no filme "Uma noite em 67", ontem e hoje, Caetano está inteiro, transcendente. Em junho, na cidade de Goiás, conversei com José Miguel Wisnik, amigo dele. Wisnik confirma a vitalidade e a plenitude. Da minha parte, vejo nele a tristeza inerente aos velhos.  Em um momento do filme, ele se queixa da perda da alegria do corpo jovem. A câmera se aproxima. Seus olhos têm "tristeza de neon". Porém, não é uma tristeza estranha, depressiva. É simplesmente humana, delicada, pois aponta para o infinito de forma poética.

O blog faz uma homenagem aos 68 anos do Caetano. Abaixo a letra de "O homem velho":

O homem velho


O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais


A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll
As coisas migram e ele serve de farol


A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas


Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom


Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal.

2 Comentários

Deire Assis disse...

Que belo texto, Lisando, de belas memórias...

Abs!!

Lisandro Nogueira disse...

Olá Deire, o texto foi feito rapidamente e com meu pai na memória. Boas lembranças.

Meu pai tinha o jeito do Caetano: sofisticado e simples. Tinha duas "mudas" de roupa. Mas estava sempre impecável e educado. Ele foi o homem mais fino que conheci na vida. Educação ímpar.

Quando conheci Caetano Veloso tb. fiquei impressionado com a educação. Não lembra muito o Caetano das entrevistas ou mesmo do palco. Ele é um homem do "interior do Brasil", anos 50/60.

Muito obrigado pelas palavras.

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