domingo, 5 de setembro de 2010

 No futebol e no amor a verdade tem estrutura de ficção

João Fantini

Na publicidade britânica, há alguns anos, foi veiculado um comercial onde uma garota encontra um sapo e sapeca-lhe um beijo. O que acontece? Claro, aparece um príncipe/rapagão. Este então, dá uma boa olhada na garota e a beija. A garota vira uma cerveja. No campo do amor, o desejo masculino tende a transformar a mulher em um objeto parcial (objeto a, causa do desejo), enquanto o desejo feminino tende a transformar o objeto em uma presença fálica plena. 


Na relação sexual, não é que não exista o ato em sí: é que quando lá estamos cada parceiro está envolvido na sua própria fantasia subjetiva, o que provoca uma assimetria. Neste impasse, a fantasia é que me diz o que sou para o outro: cada sujeito tem que inventar sua própria formula para dar conta desse impasse.


A questão do desejo não é o que eu quero, mas o que querem de mim (o que o Outro quer?) o que começa já na infância, quando a criança perdida entre a complexa rede de relações sociais, serve como lugar para o desejo dos pais, parentes, professores etc, e busca  se apresentar como um ser “amável”.


Os não tolos, erram, foi a resposta lacaniana para aqueles que, crentes em uma verdade que estaria para além das máscaras sociais, aguardam que a humanidade se livre das sombras que se interpõem entre os sujeitos e a dita “realidade”, para que finalmente possamos viver em um mundo real. Mas, que mundo seria esse? Qual o substrato humano que garantiria que estamos sendo “nós mesmos”?


Uma experiencia comum e elucidativa neste campo é olhar, depois de algum tempo, a pessoa a quem tanto amamos no passado e que nos parecia ser impossível viver sem. A sensação imediata (quase sempre) é de absoluto pasmo: como eu pude acreditar...


De outro lado, a experiencia psicanalítica nos ensinou que, quando essas crenças desaparecem, o que encontramos depois, longe de ser o sujeito agindo pela “razão”, é o absoluto vazio. Essa posição existencial, oferece ao sujeito que imaginariamente se livrou de todas as armadilhas da ficção, não um mundo cheio de oportunidades “ reais”, mas uma realidade desprovida de qualquer sentido.




Quando você faz aniversário, qual idade você diz? Por exemplo, quando faz 30, no dia seguinte diz que tem 31 incompletos ou 30? estamos em 2010 ou em 5.771 como afirmam os Judeus? A jogada de marketing do Corinthians (acusado pelos torcedores rivais de ter duplicado o ano comemorativo), ao que parece, ganha efeito de verdade. A estas operações, Lacan chamou ficções simbólicas, para afirmar que vivemos e agimos como se elas existissem, ou melhor, agimos “como se acreditássemos”. 


Quando perguntamos: “Olá! Como vai?” Não esperamos que a pessoa diga “realmente” como está..Se alguém começa, por exemplo, a contar sobre problemas de saúde, normalmente, nossa reação é de desgrado (será que esse sujeito não sabe que isso é um ato perfomativo?). Essa é a origem do problema que temos com os fundamentalistas: eles realmente acreditam que seus atos são dirigidos por Deus!

Ps: Escrevo este comentário exatamente no 1.o Dia da Graça do Centenário, onde Deus (Corinthians), salva a sagrada Copa do Mundo de 2014 (nas palavras do ministro do esporte), e onde se lança a Pedra Fundamental da Igreja da Republica Livre do Timão (o tal stadium)...

ps2: Sobre política, só o silencio.

11 Comentários

maria euci disse...

Onde foi parar então o amor? Isso o texto não responde.

Rodrigo Cássio disse...

Fantini,
Este engraçado niilismo com que você explica o amor, baseado em uma ideia de verdade, parece nos sugerir o próprio esquecimento da verdade como condição para vivenciar o erotismo em seus vários sentidos (do amor romântico ao desejo sexual). Bem, o seu texto é mais pessimista que isso. Ele não propõe nada, rs. É um adendo que eu faria.
Pois não existiria uma verdade que ainda se mantém, apesar da desconstrução das ilusões? Uma verdade "fraca", partilhada por quem topa entrar no jogo: não queremos mais verdades sobre a realização de nós mesmos, dizem estes jogadores.
Difícil é suportar esse projeto, o de ser um criador constante, sempre em conflito com o princípio (necessário) de realidade.
Você deve gostar de Nietzsche, não? rs
Um abraço.

João A Fantini disse...

Maria
como se dizia em uma antiga radio de Goiânia, "o amor está no ar". É só acreditar.
Fantini

João A Fantini disse...

Cássio,
É um projeto dificil mesmo ter que se reiventar várias vezes ao longo da vida, já que o desejo segue os ditames sociais, mas também os do corpo que permanece um estranho, com suas pulsões, ao longo da vida.
Mas deixemos de preguiça né?
ps. Gosto do Nietzche, que com Freud sacou que o pano de fundo da justiça social é a inveja, e que o final da igualdade social é o ascetismo, o que também vale no amor e no sexo, onde qualquer invenção mais ousada será punida. A não ser que vc seja o Caetano.
abçs

Alfredo Gomes disse...

Senhor João, eu discordo das suas premissas. E não concordo com Freud que, segundo o senhor, sacou que o pano de fundo da justiça social é a inveja. Não é isso, senhor. João. O problema da justiça social é o egoísmo humano, já dito nas palavras do apóstolo São Paulo.

Senhor Rodrigo, Nietzche era apenas um pertubado, um louco inteligente. Não tinha o que dizer de forma profunda, espiritual ou racional. A realidade não pode ser descartada, mas a espiritualidade é o principal vetor da realidade.

Alfredo Gomes, professor de teologia e filosofia em Anapolis, Goiás.

Rodrigo Cássio disse...

Fantini,
Estou com você: deixemos de preguiça!
Quanto ao Caetano, deixo para o Lisandro responder. hehe

Caro Alfredo, discordo sobre Nietzsche. Inclusive porque há uma espiritualidade bastante forte nesse filósofo. Vejamos, por exemplo, o livro Ecce Homo!

Abraços

Alfredo Gomes disse...

Senhor Cássio, qual o problema com a espiritualidade? O senhor é contra? Esse filósofo nada tem a ver com espiritualidade. Em Ecce Homo! o que temos ali é muita inteligência louca. Não tem nada a ver com espiritualidade. Leia um livro chamado "Niestzsche e a religião" (Vozes).

maria euci disse...

Alfredo:

Gosto da pluralidade de opiniões. Todavia, considero seus comentários um pouco confusos. Perdoe-me a sinceridade.

Pedro e Patricia disse...

Meu deus!! Toda vez que começa acontecer um debate no blog do professor, meu tio, Lisandro, aparece um vírus chamado Alfredo. Ei, Alfredo! Se toca, meu chapa. Chato de galocha!!

Marcelo Nogueira Dutra disse...

Pô João, Muito bom. Bom demais!!

A maria quer respostas!?

obs.: os anônimos são muito chatos.

João A Fantini disse...

Maria
o amor é como Deus, quanto mais morto, mais existe.

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