quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Origem, a loucura como paradigma (em cartaz)

 A ORIGEM, o filme, e a loucura como paradigama

 João Fantini*


A origem ( Inception: Christopher Nolan, 2010 ) é uma espécie de Matrix dos anos 60. Para entender a confusão e o nonsense dos sonhos dentro dos sonhos, é preciso ler A arte do sonhar, de Castaneda. Ao invés de tecnologia, as drogas e os sonhos são uma “outra realidade”, realidade que pode até matar. A lição freudiana de que a dúvida é, se sonhamos para viver ou vivemos para sonhar, é reafirmada às ultimas consequências.

O titulo do filme também oculta um segredo revelado no filme: Inception (início) vem de incept (ingestão), que é o núcleo da história: é possível inserir um pensamento em alguém? E se fosse, isso funcionaria? A ideia de ingestão é que está em jogo no filme, pois implica uma aceitação passiva, uma "ingestão da idéia", que é o que assistimos, e não inserção (como se traduz no filme) que implicaria uma ação violenta, intrusiva.

A força das ideias é descrita assim por Cobb (Di Caprio): "Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Não. Uma ideia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma ideia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia que é totalmente formada e compreendida, permanece" .

Não tenho informação se Nolan leu Castaneda. Se não, impressiona mais, já que a ideia de sonhar junto com outras pessoas, construir mundos de sonhos onde se pode viver, ficar preso em um mundo de sonhos, são literalmente descritas em A arte de sonhar.

Mas há outra leitura possível: poderíamos ler todo o filme como resultado de um delírio do personagem Cobb. Aliás, sua esposa no filme insiste nisso, que ele “precisa voltar a realidade”, ao que ele responde que quem está em “outra cena” é ela. Onde está a verdade?

A loucura, real ou presumida, permanece o limite para entender a substância do humano. Longe das ideias da antipsiquiatria dos anos 60, que via nela uma forma de liberdade, a loucura permanece como paradigma para a humanidade, por mais que avancemos na ciência, rumo a Matrix ou na tradição dos paraísos artificiais.

ps. Desculpem, mas não consegui escrever Castaneda com ~ no e, como seria correto. Diferente dos homens, o computador não me deixa, humanamente, tropeçar na língua.

* João Fantini é meu amigo desde 1980. Professor na Fac. de Psicologia de São Carlos - SP.

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