Mãe de Caetano e Bethânia está com 102 anos*
Uma falha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode representar a perda de uma eleitora fiel. A um mês das eleições, o padrinho de Dilma Rousseff (PT) não telefonou para a mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, em busca do apoio da centenária amiga de Santo Amaro da Purificação (BA). "Ele não me pediu nenhum voto. Não tenho obrigação de votar. Voto em quem eu quiser", avisa Dona Canô, 102 anos, em entrevista por telefone a Terra Magazine.
Em novembro de 2009, Claudionor Viana Teles Veloso ganhou um telefonema do presidente Lula, para garantir a permanência da amizade, depois de uma polêmica entrevista de Caetano. "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro", declarou o compositor ao "Estado de S. Paulo".
A matriarca de Santo Amaro reprovou os adjetivos usados pelo filho, mas não se esqueceu de dar chineladas nos repórteres. "Não aprovei o que Caetano disse, ele não é analfabeto... Os jornalistas gostam muito de polêmica. Eu nem dou confiança. Eles ficam explorando, explorando, explorando...", ralhou Canô, que completa 103 anos em 16 de setembro. Nesta segunda-feira, 6, a mãe de Caetano e Bethânia recebeu uma visita do governador da Bahia e candidato à reeleição, Jaques Wagner. O petista se curvou à cadeirinha fincada no umbral dos Veloso e ganhou a valiosa bênção. Mas uma dúvida corre os trilhos urbanos do Recôncavo baiano: quem ganhará o voto de Canô para a presidência da República?
Liberada pelo esquecimento de Lula, ela não revela o número a ser digitado na urna eletrônica. "Tô com muito medo. Principalmente se for uma mulher", admite. Prefere não comentar o apoio dos rebentos a Marina Silva (PV). "Olha, eu não tenho nada com as coisas que meus filhos fazem", corta. Para a matriarca, que se recupera de uma fissura no fêmur, é necessário ter "coragem" no Planalto.
Admiradora do ex-governador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), incapaz de perder suas novenas, Canô evita compará-lo a Lula ou a qualquer descendente. "Ninguém supera ACM. Nem o filho, nem o neto, ninguém! Ele é único. Porque o bem que ele queria à Bahia não dependia de ninguém", reage. Confira a entrevista abaixo:
A senhora se encontrou com o governador Jaques Wagner?
Encontrei, não. Ele veio a nossa casa.
Encontrei, não. Ele veio a nossa casa.
Ele lhe prometeu um encontro com Lula?
Não me prometeu nada. Ele sentou, nem deu tempo de conversar, porque a turma estava na porta a gritar, gritar... Depois foi-se embora.
Não me prometeu nada. Ele sentou, nem deu tempo de conversar, porque a turma estava na porta a gritar, gritar... Depois foi-se embora.
Nenhuma conversa aprofundada?
Ficou o pessoal aglomerado pra ver ele. Ele falou comigo e depois foi embora, o pessoal já estava chamando.
Ficou o pessoal aglomerado pra ver ele. Ele falou comigo e depois foi embora, o pessoal já estava chamando.
A senhora apoia Wagner para o governo?
Pra ele ser reeleito? Eu acho que devia ser. Porque ele não começou a fazer, quando começar a fazer já vai terminar, entendeu?
Pra ele ser reeleito? Eu acho que devia ser. Porque ele não começou a fazer, quando começar a fazer já vai terminar, entendeu?
Wagner superou ACM no governo?
Não. Ninguém. Isso aí é conversa fiada. Ninguém supera ACM. Nem o filho, nem o neto, ninguém! Ele é único. Porque o bem que ele queria à Bahia não dependia de ninguém.
Não. Ninguém. Isso aí é conversa fiada. Ninguém supera ACM. Nem o filho, nem o neto, ninguém! Ele é único. Porque o bem que ele queria à Bahia não dependia de ninguém.
A senhora era muito amiga dele?
Era. Graças a Deus!
Era. Graças a Deus!
Mas já levou, pra mesma missa, em Santo Amaro, os adversários ACM e Waldir Pires.
Aquele que foi governador?
Aquele que foi governador?
Isso.
Também era meu amigo. Nós nos conhecemos há muito tempo.
Também era meu amigo. Nós nos conhecemos há muito tempo.
E Lula? A senhora apoia a candidata dele?
Ele não me pediu nenhum voto. Não tenho obrigação de votar. Voto em quem eu quiser. Quero muito bem a todos, mas não me leva assim, não.
Ele não me pediu nenhum voto. Não tenho obrigação de votar. Voto em quem eu quiser. Quero muito bem a todos, mas não me leva assim, não.
Como a senhora vê a candidatura de Dilma?
Bom. Vamos ver, né? Mulher ainda não tem esse direito, talvez seja a primeira. Se ela fizer o que tem na cabeça e o que precisa fazer, não precisa melhor.
Bom. Vamos ver, né? Mulher ainda não tem esse direito, talvez seja a primeira. Se ela fizer o que tem na cabeça e o que precisa fazer, não precisa melhor.
Agora, seus dois filhos, Caetano e Bethânia, apoiam Marina Silva...
Olhe, eu não tenho nada com as coisas que meus filhos fazem. A não ser que seja algum mal. Mas, quando for pra bem, não sou contra, não. Eles querem, eles acham que deve ser, pronto.
Olhe, eu não tenho nada com as coisas que meus filhos fazem. A não ser que seja algum mal. Mas, quando for pra bem, não sou contra, não. Eles querem, eles acham que deve ser, pronto.
Lula não pediu apoio a nenhum candidato?
Não pediu! Nem sei de nada.
Não pediu! Nem sei de nada.
A senhora simpatiza com algum candidato a presidente?
Tô com muito medo. Principalmente se for uma mulher.
Tô com muito medo. Principalmente se for uma mulher.
Uma mulher está preparada pra ser presidente da República?
Não sei, não sei. Não sei se tem disposição nem coragem. Isso aí depende de muita coragem. Não viu aquele negro (Barack Obama) nos Estados Unidos? Ele foi eleito, mas quanta força ele enfrentou...
Não sei, não sei. Não sei se tem disposição nem coragem. Isso aí depende de muita coragem. Não viu aquele negro (Barack Obama) nos Estados Unidos? Ele foi eleito, mas quanta força ele enfrentou...
Obama. Ele tem ido bem?
Pois é. Não tá indo bem? É escuro, não é nem branco. É uma pessoa distinta, sabe respeitar, sabe fazer as coisas. Agora, só por causa do nome, não.
Pois é. Não tá indo bem? É escuro, não é nem branco. É uma pessoa distinta, sabe respeitar, sabe fazer as coisas. Agora, só por causa do nome, não.
(Uma voz, ao fundo: "Diga que está vendo sua novela...").
Mas a senhora é matriarca e toma a frente de muitas coisas em Santo Amaro...
Não. Não tomo a frente de nada. Hoje, principalmente, não posso tomar a frente de nada. Não posso andar, estou com uma lesão na perna.
Não. Não tomo a frente de nada. Hoje, principalmente, não posso tomar a frente de nada. Não posso andar, estou com uma lesão na perna.
Não lidera?
Não, não, não... Pra apoiar alguém não é assim, não. Sabem que eu só apoio quem eu gosto.
Não, não, não... Pra apoiar alguém não é assim, não. Sabem que eu só apoio quem eu gosto.
Na Bahia, a senhora apoiou de fato somente ACM?
Ah, a vida toda...
Ah, a vida toda...
Por que ele era diferente?
Porque ele tinha muito amor pela Bahia. E a pessoa que tem amor por um lugar, por uma coisa, dá tudo, perde tudo, mas é aquilo mesmo. O que aconteceu com ele foi isso.
Porque ele tinha muito amor pela Bahia. E a pessoa que tem amor por um lugar, por uma coisa, dá tudo, perde tudo, mas é aquilo mesmo. O que aconteceu com ele foi isso.
Para o Brasil, Lula tem sido igual?
Bom, não sei. Não posso dizer nada sobre Lula, porque assisto pela televisão. Muitas vezes é mentira.
Bom, não sei. Não posso dizer nada sobre Lula, porque assisto pela televisão. Muitas vezes é mentira.
(A voz, outra vez: "...sua novela...").
Ele até ligou pra senhora, ano passado...
Ah, ano passado ele me ligou. Mas este ano ainda não!
Ah, ano passado ele me ligou. Mas este ano ainda não!
* Terra Magazine: setembro de 2010.
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