quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O curioso caso de Benjamim Button

Duas visões sobre o filme.

Pedro Vinitz

O blog apresenta duas visões do filme "O Curioso caso de Benjamim Button". São dois textos que procuram analisar aspectos variados e importantes. O primeiro texto é do crítico português Nuno Cargaleiro. O segundo é do jornalista Renato Dantas.

David Fincher, mais sábio e maduro

Nuno Cargaleiro*

Há quem acredite que todos temos o destino traçado, e como tal, todos os momentos da nossa vida, inclusive a nossa morte, já está predestinada, sendo somente o nosso percurso uma forma de aproveitarmos aquilo e aqueles que nos rodeiam. Independentemente das nossas crenças pessoais sobre esta matéria, encontramos neste O Estranho Caso de Benjamin Button uma representação ficcional sobre esta questão. Se nascemos velhos e caminhamos para a nossa morte, que será quando formos um pequeno bebé, então toda a nossa vida mostra-se mais preciosa, com limite definido, e o caminho que percorremos torna-se num reconhecer de experiências, sobretudo no impacto sentido nas pessoas que vamos encontrando.

Por isso, O Estranho Caso de Benjamin Button de David Fincher acaba por ultrapassar a barreira de cinema fantástico para se elevar a um patamar quase ideológico sobre o valor da nossa existência, num autêntico hino à vida, e homenagem aqueles que já nos deixaram.

Não deixa de ser curioso ver esta obra pelas mãos de

David Fincher. Habituado a demonstrar o seu valor por outras áreas de narração, consegue demonstrar uma maior simplicidade nesta fábula sobre a realidade. Embora à primeira vista possa parecer que o conceito e tom de desenvolvimento possa ser algo pretensioso, não é necessário muito tempo para percebermos que existe algo de diferente e positivo neste projecto. Todo o enredo, obra de Eric Roth que ficou obcecado com esta história, caminha sem pressas, e as personagens demonstram uma reacção quase natural do quotidiano. Assim, as habituais cenas de dramatismo exageradas, típicas de um filme à la Hollywood, são evitadas, e as personagens demonstram um perfil emocional mais contido, mas não por isso menos intenso.

Seja Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, ou qualquer outro membro do elenco, parece que se deixa embrenhar pelo espírito geral do projecto, caminhando numa sintonia invulgar, e que permite ao espectador ser mais do que um mero voyeur. A relação de vários parâmetros da vida do século XX e XXI, permite que a fronteira entre a tela e a plateia seja transposta, conseguindo misturar-se com o real, embora o tom não deixe de ser de conto fantástico. Talvez aqui é que Fincher poderá ser criticado por alguns olhares, já que não assume por completo a fantasia envolta na personagem de Benjamin Button. As outras figuras do argumento aceitam-no, e ninguém se questiona sobre a sua estranha particularidade. Porém, Benjamin Button é mais do que uma personagem hipotética, mas será um símbolo colectivo sobre cada um de nós. Tal como a sua amada, Daisy (Cate Blanchett), ambos apresentam formas diferentes de viver a vida: Button é calmo e procura descobrir o mundo através das experiências que vive; e Daisy, curiosa e impulsiva, vive o seu mundo através das suas vivências. Se o argumento de Roth e a direcção de Fincher se mantém mais presentes a este mundo real é para não distanciar emocionalmente os espectadores do objectivo de retrato.

Deste modo, é com algum prazer que reencontramos Fincher mais sábio, mais consciente e maduro nas suas perspectivas, embora também se sinta um rejuvenescimento na maneira como conduz este conto feito obra cinematográfica. A longa duração de O Estranho Caso de Benjamin Button não se nota graças à sua condução, aos actores que se entregaram ao projecto, e a toda a equipe, que produziu algo difícil de se esquecer ou definir, mas de capacidade em emocionar e envolver, sobre o tempo em que vivemos, o que nos resta, e o eterno que existe na singularidade de cada um.
* Nuno Cargaleiro é crítico de cinema em Portugal.

Um filme maduro

Renato Dantas*

O Curioso caso de Benjamim Button narra a história a partir de inserções em off do próprio protagonista em flashbacks ocasionados pela leitura de seu diário. O pequeno Benjamin encara desafios já nos lances iniciais de vida: desacreditado pelos médicos, o recém-nascido apresenta enfermidades próprias da velhice. Dispara-se, então, o relógio do tempo e o (mais que) intrigante: Benjamin inicia sua progressão de desenvolvimento “quase natural”, não fosse o fato de essa progressão dar-se ao contrário: nascido idoso, o personagem passa a rejuvenescer mais e mais a cada dia.

O que chama a atenção para a impecabilidade técnica do filme logo nos primeiros minutos é a maquiagem: provavelmente auxiliados por efeitos de computação gráfica, a equipe responsável por esse trabalho consegue transformar o altivo Brad Pitt em um debilitado idoso; e a incrível Cate Blanchett é gradual e cuidadosamente convertida em uma mulher de idade avançada. Pitt, por sinal, não se rende às facilidades da excelente maquiagem e demonstra, em mais uma parceria com David Fincher, uma atuação melindrosa, empregando uma voz marcadamente rouca e um olhar sempre curioso e inocente que aos poucos dão lugar a um semblante maduro de quem passa a entender melhor o mundo e as vicissitudes peculiares de sua vida. A equipe do filme ainda exibe sua harmonia e comprometimento com a obra: a fim de se criar um ambiente mais verossímil, o fotógrafo Cláudio Miranda aposta em cores sóbrias, adensando aquele mundo fantástico.

O roteiro de Eric Roth é engenhoso e, aliado a uma montagem precisa, consegue transpor com fluidez e clareza os saltos temporais e narrativos (já que a história, como dito, é contada por flashbacks e retorna diversas vezes ao tempo atual, quando são lidos os relatos de Button), além de conseguir mesclar o drama com ácidos momentos de humor.

Não obstante ao fardo de viver uma vida decrescente, Benjamin ainda se envolve amorosamente com Dayse (Cate Blanchett). Um romance que encontra seu momento mais sublime na meia-idade das personagens, já que é quando eles de fato se alinham (Dayse, afinal, envelhece, enquanto Benjamin torna-se mais moço). A partir de então, o percurso é tragicamente previsível: seus caminhos de vida seguem em direções opostas, obrigando, cada personagem ao seu tempo, a abdicar de algo que lhes é caro.

Com sua indicação ao Oscar em várias categorias dada como certa, O Curioso Caso de Benjamin Button mostra uma Hollywood mais inspirada. David Fincher apresenta mais uma vez sua habilidade em criar histórias envolventes e que suscitam uma série de pontos-de-vista, de prismas pelos quais podemos visualizar as muitas nuances de sua narrativa. A efemeridade dos momentos de felicidade, a impossibilidade de se fazer com que o tempo retroceda, a possibilidade de se perder quem se ama, a velhice e a morte como elementos indispensáveis na reflexão sobre a própria vida, representam apenas uma fração do que se pode extrair desse belo filme.
* Renato Dantas é do curso de jornalismo da UFG.

5 Comentários

Edificarte disse...

parabéns pelo blogger..

quando der visite o meu

deixe recados..

abraços..

João A Fantini disse...

Para mim, o melhor filme de David Fincher. Engraçado, comovente e muito bem feito tecnicamente (premio de melhor maquiagem fácil). Fora isso, um roteiro impecável e, repito o que disse particularmente ao Lisandro, Brad Pitt é o Marlon Brando desta geração.
ps. na saída ouvi uns caras metendo o pau na atuação 'sem expressão' dele...poxa, o personagem é um cara FORA do mundo que não entende nada como funciona...ele deveria parecer o quê? esperto?

Anônimo disse...

Olá João,
Tb. gostei do filme. sobre o Marlon Brando, vamos aguardar...tenho dúvidas. O Brando não era somente um excelente ator. Tinha posições políticas claras (algumas equivocadas) e reservas a indústria do cinema. Concordo com você: Pitt está muito bem naquele papel. (lisandro nogueira)

João A Fantini disse...

posições políticas claras ......
hummm.
Acho que ele era só doidão mesmo. Mas não conheço muito, só algumas historias e lendas.
Em Queime depois de ler, Brad também atua bem, penso, onde aparece quase irreconhecível. Acredito tambem, que este tipo de ator é muito comprado para fazer o galã e tem que resistir. Acho que ele faz isso quando aceita filmes com menos grana.
Sobre Brando, não sei como ele fazia com dinheiro. Francis contava uma fofoca violenta sobre ele. Vc sabe qual...

Lisandro Nogueira disse...

Olá João,
Brando tinha posições políticas claras: contra a indústria do cinema e o governo americano. Mas se manifestava no seu estilo peculiar. Não sei o que ele fazia com dinheiro. Conte para nós, pois deve ser engraçado.
ps- fizemos manuteção técnica e os posts estavam seguindo para alguns emails. Mas está tudo resolvido.

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