quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Debate: Cinema: indústria ou arte?.




"Se se ganha dinheiro, o Cinema é uma indústria. Se se perde, é uma Arte"
(Millôr Fernandes)

18 Comentários

Anônimo disse...

um exclui o outro? (pessoal anda muito preso em Adorno...)

pelo jeito essa discussão inevitavelmente vai cair no velho centro gravitacional do que é arte. já voto no Gadamer: arte é um jogo transformado em configuração.

assim, voltando a pregunta, um não (necessariamente) exclui o outro (mas ainda poderia, caso o jogo morresse na tentativa de controle da indústria).

Alfredo disse...

Pelos dias,

Informe melhor porque eu não entendi suas colocações. Como assim "arte é um jogo transformado em configuração"??

Anônimo disse...

Concordo com o "Pelos dias"
Um não exclui o outro!

Anônimo disse...

Alfredo, adoraria explicar, mas teria que resumir umas 50 páginas do Verdade e Método (do Gadamer) em um comentário...

de forma bem mal explicada, seria:

a arte funciona como um jogo (tipo, xadrez, supermario, um jogo). jogos são representações. arte é representação. representar não é reconstruir, é trazer à luz, é atribuir sentido - é, de certa forma, entender.

mas o jogo por-si não é arte, nele os sentidos abertos. na arte os sentidos são explorados, "controlados" e suas direções são apontadas. isso é feito através de uma forma, uma configuração. então, arte é um jogo transformado em uma configuração.

ufa!

(pelos dias é meu blogue, eu ser Aron)

Haroldo, de Brasilia disse...

Cinema é dinheiro, principalmente. Não se faz arte sem dinheiro. É só estudar um pouco da História da Arte.

O cinema europeu, de arte, é feito de quê? Com dinheiro!! Pode ter arte onde tem dinheiro? Lógico que pode. A maior parte do cinema é indústria? Sim. A maior parte dos cineastas brasileiros estão preocupados com dinheiro ou com arte? Com dinheiro. O "amado" Godard trabalha poar dinheiro ou por arte? Primeiro, pelo dinheiro.
Sem preconceito!! Millôr, como sempre, fez gol de placa.

Rodrigo Cássio disse...

Haroldo, calma aí, rs. O fato de que é necessário dinheiro para realizar uma obra de arte não diz nada sobre as motivações dos artistas.

Há teóricos do cinema que discutiram se os filmes são ou não arte, sem levar em conta o conceito de "indústria". Munsterberg não tinha dúvidas de que o cinema era arte, julgando unicamente a partir do potencial dos filmes de estabelecerem uma experiência estética para o espectador. Kracauer, por sua vez, dizia que o cinema é tão específico que não poderia ser considerado arte em nenhuma hipótese: o objetivo da câmera é ampliar o acesso ao real, e não exatamente refigurar esse acesso, tal como na arte propriamente dita.

Bem, como tenho em alta conta o Adorno, lembrado (e negado) pelo Aron, diria que caminhos como os dos teóricos acima são insuficientes, e que, de fato, o modo de produção industrial dos filmes é fundamental para discutir se o cinema é ou não é arte.

Arte e indústria são dissonantes, sem dúvida. Quanto mais indústria, menos arte. Há muita coisa envolvida nisso, mas é possível simplificar dizendo que, onde impera o lucro, o artista se torna um funcionário, e a obra deve ser, antes de tudo, um objeto de consumo. Nesse processo, ela deixa de ser arte.

O problema, em todo caso, é que a própria indústria tem as suas tensões internas, o seu não-fechamento (ainda bem!), e há artistas que, desafiando a dimensão impositiva do processo, conseguem se expressar. Logo, o mais interessante, a meu ver, seria uma outra pergunta: de que o modo o cinema, APESAR DA INDÚSTRIA, consegue ser arte?

Abraços.

Fernando Quirino disse...

A velha discussão do conceito de arte e até onde a indústria a influencia. Aí vem Adorno e outros tantos teóricos tentar explicar seus conceitos de arte que se encaixam ou não nos conceitos de tantos outros, mas sem nunca surgir uma delimitação de arte por completo, pois é impraticável. E então lá na faculdade de Psicologia ficamos tentando entender o "porque" dos significados que o indivíduo confere a essas palavras. E entre "signos" e "significantes" só se sabe que todos somos mais loucos do que pensamos ser e artistas os mais loucos entre os loucos.

Acho que em um ponto é unânime. O propósito da obra é que define se é influenciado pela indústria ou não. Obras feitas para puro consumo não são artísticas, são trabalhadas, técnicas, elaboradas e tudo que tiver direito, menos artísticas.

Quanto a esse conceito citado acima de que cinema não é arte, depende de que fonte teórica você vai beber. Para mim cinema é arte até mesmo algumas artes "vendidas" para a indústria ainda considero arte, mesmo sob protestos de alguns amigos. Discussão que vai longe porque, como já diziam os sábios: Discutir futebol, religião e política não leva a nenhuma conclusão... ;]

Haroldo disse...

Rodrigo, meu caro, lembre-se dos renascentistas e dos mecenas. Sempre houve dinheiro no universo das artes.
Isso nunca eliminou o "fator artístico". Sabemos dos excessos desse processo e a indústria cultural existe mesmo.
Mas não se faz arte sem dinheiro.

Anônimo disse...

eu não neguei Adorno, só disse que já cansei de ver o pessoal preso nele. é quase deus nas humanas da UFG.

mas enfim, quando disse que um não(necessariamente)exclui o outro, mas ainda poderia caso o jogo da arte fosse contido na tentativa de controle da indústria, creio que apontei mais ou menos no mesmo sentido do que o Rodrigo disse. só tenho minhas dúvidas se a indústria é necessariamente opositora da arte.

Elaine disse...

Eu concordo com o Haroldo. 'Não exsite arte sem mercado. O mercado separa alhos dos bugalhos. Tem arte ruim e arte boa. Por isso, existe a crítica. Para separar o joio do trigo. E a arte boa sempre terá seu lugar. O Joao Gilberto é um grande artista e não seria João Gilberto sem o mercado cultural.

Rodrigo Cássio disse...

Aron: Repare melhor. Adorno, na verdade, está em baixa. O que predomina nas Humanas (da UFG e em outros lugares) são as perspectivas culturalistas que relativizam a crítica da indústria cultural.

***

Haroldo: É claro que sempre houve dinheiro nas artes, desde que o dinheiro passou a existir. Mas não é exatamante isso que importa nessa discussão.
Observe, por exemplo, que a indústria cultural substituiu o sistema de mecenato e conferiu uma liberdade ambígua aos artistas: ao mesmo tempo em que eles não possuem mais os vínculos tradicionais com um "patrocínio" (como o da Igreja), acabam absorvidos por um sistema de produção e manutenção do lucro, que afeta diretamente a própria liberdade criativa.
Isso tem consequências drásticas, por exemplo, no conceito de "estilo". Há consequências também na relação das pessoas com as obras. Ou você acha que a catarse de Aristóteles tem exatamente o mesmo sentido da que se realiza por meio dos filmes hollywoodianos?
Tudo isso impõe os entraves entre o que a indústria cultural oferece, com o rótulo de "arte", e aquilo que a arte autêntica deve preservar para ser autêntica. Não é o mero fato de que não se faz arte sem dinheiro que responde o nosso problema. Isso não diz nada. Nem sobre a arte, nem sobre o mundo em volta dela.

***

Elaine: a única coisa que o mercado sabe separar é o que dá mais lucro e o que dá menos lucro. E a crítica que não põe em xeque o mercado, a meu ver, pouco ou nada faz pela arte.

Abraços.

Haroldo disse...

Rodrigo, Theodor Adorno é pensador importante mas não consegue mais ser fundamental nos dias de hoje. O mundo está mundo complexo. O que é Arte hoje? Tudo se misturou e o o mais importante agora é ver como o fazer artístico pode transintar nas novas mídias.

Rodrigo Cássio disse...

Haroldo,
Aí eu concordo com você, em parte. O Adorno não precisa deixar de ser fundamental. Precisamos é saber situá-lo no debate e desenvolver as suas proposições no presente.
Acaba de sair um livro novo do Ismail Xavier, com entrevistas, pela Azougue Editorial. Tem uma parte chamada "As transformações da indústria cultural". Penso que é um ótimo exemplo desse desenvolvimento de que falo. Veja lá!
O que não dá pra fazer é rejeitar toda uma linha de pensamento apenas porque o "mundo está mais complexo", como já se disse mais de uma vez aqui nesse blog...
Um abraço.

Marcelo Nogueira Dutra disse...

Para mim cinema é arte-pós-moderna, assim como a fotografia e a música.
Arte propriamente dita é resultado do homem com ele mesmo, pintura (oleo, gravura, carvao...), escultura...
Arte e indústria podem caminhar juntas, ou não.
João Gilberto seria ele, mesmo sem a indústria. Até porque, se não existisse indústria existiria outra coisa e João seria o João. Assim como Tom seria o Tom e outros.
Na música, com todo respeito aos intérpretes; mas, é o compositor o verdadeiro artista. Compositor original, não vale plágio nem receita pronta. Mi menor ré dó. Mi menor ré dó...
A arte independe da indústria ou de quereres humanos, ela exala de quem o dom nasceu.
Arte é a pergunta sem resposta. É reflexão. É provocação.
Nesse sentido cinema é arte.

Belo blog, grande abraço.

Rodolgo, ex-launo do Agostiniano disse...

Lisandro, foi na sua aula que ouvi: "cinema é arte e é indústria". É a tal coisa que você falava nas aulas: o artista vive no pêndulo entre criar e seguir as normas/padrão da indústria cultural.

Não sei, não. Mas eu preferiria que fosse só arte.

Thomas Silva disse...

Rodolgo,
Cinema é arte, é industria, é entretenimento, é reflexão, é escurinho, da pra namorar...
Concordo com o prof. Lisandro que o artista vive NUM pêndulo. Aí penso que algumas coisas são identificáveis, escancaradas, como o bom filme Os Normais II, sincero: "Somos da Globo e se não fossemos não estaríamos aqui".
É meio Lula. Usa as armas do jogo pra poder ganhar, e aí?
Lula e Nuzman inteligentes trouxeram as olimpiadas para o Brasil. Chupa essa seus anti-lula bobões. Yes We Créu
Também gostaria que fosse "só arte".
Mas arte é só arte, as vezes o que pensamos não ser arte, é. Sei lá, a vida tem sempre razão
http://www.youtube.com/watch?v=1i4j39UceBM - Tom, Chico, Vinicius o de moraes, Toquinho, Miucha. Globo na hora H usa o que a de melhor e de bom gosto na hora do "rush". O belo é belo, sei lá.

lisandro disse...

Olá Rodolgo, sim, você foi meu aluno nos anos 80. Apareça sempre por aqui; Thomas Silva: comentários sempre psicodélicos e inteligentes, bem ao estilo da contracultura dos anos 60;

A propósito da discussão arte e dinheiro, saiu hoje um bom texto de Jorge Coli na Folha de SP. Deixo aqui um pequeno trecho:

* Mandrake

"Quem decide que uma pintura, uma escultura, um copo d'água é arte? O artista, se tem algum reconhecimento, ou seja, se alguém acreditar que ele possui esse poder transformador.
O crítico, que celebra e convence, ou que despreza e condena (a fórmula negativa mais forte, a única que de fato anula o feitiço, se alguém acreditar nela, está claro, é: "Isso não é arte". Muito usada, em escritos e em conversas, de preferência num tom de superioridade, por críticos seguros de si, contentes de vestirem a casaca e a cartola do mágico).
As galerias, os museus, que aceitam tal ou qual obra e recusam outras.
O mercado, que gradua seus valores segundo a intensidade das crenças."

Túlio Moreira disse...

não sei bem o que é, só sei que gosto. ;)

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